| 01/03/2005 11h10min
Grupos armados circulam nas favelas, ex-soldados controlam cidadezinhas e balas perdidas matam com frequência. Após um ano da queda do presidente Jean-Bertrand Aristide, o Haiti permanece politicamente instável e dominado pela violência. Num sinal do tipo de problema que o país mais pobre das Américas enfrenta, a polícia abriu fogo nesta segunda, dia 28, contra milhares de manifestantes que fizeram uma passeata na favela de Bel-Air, na capital Porto Príncipe, exigindo a volta de Aristide. Três pessoas morreram, disseram testemunhas.
Só nos últimos cinco dias, pelo menos 28 pessoas foram mortas nas favelas, elevando o total para 278 desde dezembro. Três soldados da força de paz da ONU, que é liderada pelo Brasil, ficaram feridos na semana passada. Um número cada vez maior de grupos políticos e sociais que se opunham a Aristide está desencantado com o modo como o governo interino, apoiado pelos Estados Unidos.
– Este governo está apenas repetindo os erros do passado. Não combatemos o regime de Aristide para ter outro igual – critica Gerard Blot, líder de um dos mais de dez partidos políticos que pedem a renúncia do governo do primeiro-ministro Gerard Latortue.
Alguns haitianos pobres, que ainda apóiam Aristide, acreditam que a economia piorou. Quem critica Latortue reclama de incompetência, violação dos direitos humanos e corrupção, muitas das acusações feitas contra Aristide, o ex-padre que era visto como herói da democracia haitiana quando derrubou a ditadura de Duvalier, nos anos 1980. Latortue rebate as acusações afirmando que seus críticos não se adaptaram à democracia.
– Eles não conseguem conviver com o espírito de tolerância e reconciliação nacional que queremos neste país, e com o combate à corrupção que estamos liderando – respondeu.
Ninguém achava que o governo interino, instalado quando Aristide deixou o país em 29 de fevereiro do ano passado, solucionasse todos os problemas que o Haiti enfrenta desde sua independência da França, há 201 anos. Mas a maior decepção é o fato de os males do país serem os mesmos da época de Aristide. Os órgãos eleitorais do Haiti marcaram eleições presidenciais e legislativas para 13 de novembro, mas líderes políticos questionam a credibilidade do processo.
As informações são da agência Reuters.
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