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Leia a íntegra do chat sobre juros com o economista Flávio Fligespan

O economista e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Flávio Fligenspan, participou de um chat com os internautas do clicRBS logo após o anúncio pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central da nova taxa básica de juros da economia, agora em 16,5% ao ano.

Para Fligespan, a decisão por mais um corte gradual – desta vez de um ponto percentual – segue o padrão do Copom. Na opinião do professor, uma redução ainda maior nos juros é vontade de todos, mas a taxa Selic, explicou, depende também da taxa paga pelo Brasil na dívida externa, sobre a qual o governo não tem controle. Para 2004, o economista aposta em juros no patamar entre 13% ou 14%.

• Veja abaixo a íntegra do bate-papo:

18:54:32 - Rafaela fala para Prof.Flavio: A decisão de cortar um ponto na taxa de juros deixou o empresariado frustrado. A decisão do Copom não foi acanhada?

18:58:49 - Rafaela fala para Prof.Flavio: O governo tem optado por reduzir a taxa de juros de forma gradual. Esta postura foi correta? Quais os perigos de uma queda brusca nos juros?

19:01:43 - Vivi fala para todos: Uma queda acentuada da taxa faria com houvesse um mais dinheiro no mercado, que significa consumismo. Qual o risco maior, desse consumismo gerar uma 'inflação por demanda' ou de promover o crescimento econômico?

19:03:55 - Prof.Flavio fala para Moderadora: Rafaela: A decisão segue o padrão do COPOM. Todos têm vontade de reduzir mais os juros, mas não é tão simples. Nossa taxa tem vínculos com a taxa que o Brasil paga no exterior, para rolar a dívida externa. E essa a gente não domina.

19:05:27 - Rafaela fala para Prof.Flavio: O Banco Central deve manter esta mesma política de redução gradual dos juros em 2004? Teremos juros de um dígito no próximo ano?

19:07:10 - Prof.Flavio fala para Moderadora: Vivi: no sistema de metas de inflação, que é o que o Brasil usa desde 1999, o Governo tenta regular os juros para não deixar a inflação subir. Nesse ano não há risco de inflação de demanda, até porque não há renda na economia. Mas o Governo teve muito medo de perder o controle da inflação no início do ano. Ela estava elevada por causa do dólar alto, uma herança que veio do fim de 2002.

19:08:34 - Vivi fala para todos: O impacto da redução dos juros na economia demora alguns meses para ser sentido pela população. Alguns especialistas dizem que, na prática, ainda estamos vivendo sob os juros de 26,5% do início do ano. Quando você acredita que a população vai sentir os juros anunciados hoje?

19:10:05 - Prof.Flavio fala para Moderadora: Rafaela: Certamente o Governo vai manter o ritmo em 2004, se nada estranho vier de fora, i, é, do cenário internacional. Mas a taxa não deve baixar muito mais em 2004. Isto porque aquele vínculo que eu falei antes, com a taxa de juros externa, não vai deixar baixar para menos que 13% ou 14%.

19:10:56 - Vivi fala para todos: Não há risco de inflação de demanda, há a estabilidade do dólar e as taxas de juros têm sido gradualmente reduzidas. O cenário 'parece' positivo, mas por quê não há renda na economia?

19:11:14 - Rafaela fala para Prof.Flavio: O juro alto é o grande vilão brasileiro do último ano, mas, certamente, a taxa Selic não é a única responsável pela estagnação da economia. Que outras medidas podemos esperar e cobrar do governo e empresários para impulsionar o crescimento?

19:12:23 - Prof.Flavio fala para Moderadora: Vivi: realmente há uma defasagem de tempo para aparecer a baixa no mercado. Essa defasagem é de cerca de 6 meses. Mas mesmo assim a diferença entre esse juro do COPOM e a taxa dos financiamentos para os consumidores permanecerá muito grande devido a vários fatores, como compulsórios, impostos, inadimplência e um grande lucro dos bancos e financeiras.

19:14:56 - Prof.Flavio fala para Moderadora: Vivi: não há renda porque o crescimento do PIB foi ridículo nesse ano e nos últimos dois anos também. isso pressiona o mercado de trabalho para baixo, não gera empregos e os salários ficam comprimidos ou mesmo caem. Entre outubro desse ano e outubro de 2002, o rendimento médio caiu 15% no Brasil.

19:15:35 - Rafaela fala para Prof.Flavio: As eleições municipais e possibilidade de um resultado desfaforável ao governo federal nas urnas podem gerar um período de incertezas e turbulências no mercado como em 2002?

19:17:32 - Prof.Flavio fala para Moderadora: Rafaela: há várias medidas que ajudam o crescimento do PIB, além dos juros. Política industrial é uma delas, mas o assunto só começou a ser trabalhado. Incentivo às exportações também é bom. Nesse ponto estamos mais avançados. Lei de falências pode ajudar o crédito, mas depende de como vai ser trabalhada.

19:18:27 - Vivi fala para todos: Em 2002, a Selic, que tava em 19% no começo do ano, foi reduzida a 18% em julho. O Copom achou que isso reduziria as turbulências do mercado, mas no segundo semestre os juros subiram para a máxima de 25% no ano, em dezembro. Como então podemos acreditar que em seis meses estaremos sentido o impacto da queda? E se subir repentinamente?

19:18:27 - Vivi fala para todos: O Brasil tem uma das maiores taxa de juros real do mundo. Como isso atrapalha o crescimento econômico do Brasil?

19:20:05 - Prof.Flavio fala para Moderadora: Rafaela: não creio em turbulências diante de resultados eleitorais nos municípios. O que se viu em 2002 foi próprio de eleições presidenciais. O que pode ocorrer, se o Governo se sentir derrotado, é uma mudança de política, como por exemplo diminuir o superávit primário. O Governo tem feito uma super economia no gasto social para pagar juros da dívida pública. Isso poderá mudar, eu espero.

19:20:56 - Rafaela fala para Prof.Flavio: Praticamente todos os setores da sociedade brasileira pedem a redução dos juros, mas o governo ainda precisa vender títulos da dívida. Você acredita que há uma margem ideal para se manter juros mais baixos e, ainda assim, continuar a atrair investidores para estes títulos? Ou este duelo é permanente?

19:21:43 - Prof.Flavio fala para Moderadora: Vivi: o que ocorreu na segunda metade de 2002 não deve se repetir, a não ser que o cenário externo piore. E nós dependemos do dinheiro que vem de fora.

19:23:43 - Edu fala para Prof.Flavio: Prof. Porque os bancos, os cartões de crédito, enfim, todos as instituições de crédito cobram juros absurdos, qual o parâmetro destes juros em relação a taxa Selic?

19:25:05 - Prof.Flavio fala para Moderadora: Rafaela: esse "duelo" vai durar muitos anos, porque a dívida ficou enorme e não há como pagá-la no curto prazo. Mas o que importa é suavizar a pressão sobre o Governo para rolar a dívida. O fato é que a taxa ainda é muito alta para o padrão internacional e, mesmo que baixe, continuará atraente.

19:26:28 - Edu fala para Prof.Flavio: E como os bancos determinam as taxas de juros, qual é o parâmetro deles? Eles sempre ganham qualquer que seja a taxa!!!

19:27:18 - Prof.Flavio fala para Moderadora: Edu: como eu falei antes, entre a taxa básica (Selic) e o que os consumidores pagam há uma grande diferença, que é explicada por compulsórios, impostos, inadimplência e loucro (grande) dos bancos, que poderiam trabalhar melhor (diminuir ineficiências) e ganhar menos.

19:27:52 - Rafaela fala para Prof.Flavio: Dadas as condições econômicas atuais do país, qual seria a taxa Selic mínima possível?

19:28:52 - Vivi fala para todos: O Brasil tem uma das maiores taxa de juros real do mundo. Em especial comparando com a norte-americana, que está no patamar mais baixo dos últimos 40 anos, 1,75%. Como isso atrapalha o crescimento econômico do Brasil?

19:29:13 - Prof.Flavio fala para Moderadora: Edu: os bancos ganham muito, mas com taxas básicas abaixo de 14% ou 15% alguns deles começam a sentir problemas. Isso mostra que eles são pouco eficientes.

19:31:26 - Prof.Flavio fala para Moderadora: Rafaela: abaixo de 13% ou 14% para 2004 nós não vamos. Issoi porque, como falei lá atrás, nossa taxa interna depende da taxa que pagamos na dívida externa. Essa nós não controlamos. Depende da confiança do sistema financeiro internacional.

19:32:45 - Prof.Flavio fala para Moderadora: Vivi: taxas altas não permitem investimentos das empresas, porque o custo de investir é elevado. Além disso, não permitem o consumo, porque as prestações ficam caras. Por isso, restringem o crescimento.

19:32:53 - Rafaela fala para Prof.Flavio: Minha última pergunta: O professor Fernando Ferrari, seu colega de UFRGS, defendia há alguns meses que o governo abandonasse as metas de inflação e passasse a adotar metas de crescimento de PIB. O que você pensa desta idéia?

19:35:58 - Prof.Flavio fala para Moderadora: Rafaela: o problema é como controlar a inflação. Se o crescimento do PIB (meta) for elevado e fizer subir a inflação a ponto de se perder o controle, como fica? Eu acho que o problema nem é esse. O problema é não sacrificar o social com superávit elevado. Eu acho que o ajuste menos traumático para a sociedade deve vir pelo superávit externo e não pelo fiscal.

 
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