| 24/05/2003 16h06min
O pupilo do atual presidente Eduardo Duhalde, o peronista Néstor Kirchner, assume a Casa Rosada na tarde deste domingo, dia 25, e põe as mãos em um país com vistas ao desenvolvimento econômico. Protagonista de uma carreira política discreta e quase desconhecida, o advogado de 53 anos passa a praticar o governo de consenso que defendia quando ainda era apenas "mais um" ao lado dos postulantes ao posto máximo da política daquele país. À frente, a restruturação da enorme dívida pública, um novo acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI) e a aplicação de um plano que revigore a economia para gerar empregos. Às costas, a simpatia de uma grande parte da população argentina que preferiu depositar confiança no ex-governador sem carisma.
Logo nas primeiras semanas à frente da Presidência da Argentina, Kirchner terá como tarefa a formalização de um outro acordo com o FMI. O atual se encerra em agosto. Já em setembro, o peronista haverá de pagar uma parcela de US$ 3 bilhões. Antes mesmo de o ex-governador tomar assento na Casa Rosada, o Fundo encostou no novo estadista, pressionando a administração que se anuncia a apressar o ajuste do sistema financeiro. Sem esse, as tratativas não serão realizadas. O FMI exige reformas estruturais, aumento de tarifas e um superávit primário de 4% do Produto Interno Bruto (PIB).
O novo presidente tem, pelo menos, mais quatro grandes problemas para combater: a pobreza, os salários baixos, a relação com os Estados Unidos e a capacidade para formar alianças. A Argentina amarga hoje um contingente de 20,8 milhões de pobres, 57,5% da população. Vivendo como indigentes, misturam-se ao cenário daquele país, 9,9 milhões de pessoas. Conseqüência imediata dessa doença é o desemprego: lá, a taxa de desocupados alcança 17,8%.
Os que de alguma forma têm o que fazer e como garantir alguma renda ganham pouco. O poder de compra dos argentinos caiu 23% desde a desvalorização do peso, durante o governo Duhalde. Kirchner avalia se converte em reajuste os 200 pesos dados aos trabalhadores, em sucessivas vezes, como forma de adequar os salários à realidade de crise econômica do país. Atualmente, o salário médio não passa dos 512 pesos.
Diferentemente do que não fez ao longo de dois mandatos como governador da província de Santa Cruz, Kirchner deverá se aproximar da Casa Branca. O governo do presidente George W. Bush espera um gesto de confiança do novo presidente argentino. O avanço do peronista à Casa Rosada foi tido mais como uma expectativa do que como uma situação a ser comemorada: na Embaixada norte-americana, Néstor Kirchner é quase um desconhecido. Ao contrário do desistente Carlos Menem – que prometia uma relação carnal com os EUA –, o novo presidente garante dar prioridade ao Mercado Comum do Sul (Mercosul). A Área de Livre Comércio das Américas (Alca) é outra a ser tratada em segundo plano.
Protagonista de uma campanha de altos e baixos – a qual foi apontada como provável recordista de votos de toda a história eleitoral argentina –, Kirchner dará início ao mandato com a credibilidade que 22,24% dos votos lhe conferiram. A missão, já a partir deste domingo, é a de afastar o fantasma da falta de legitimidade. Sem o respaldo das urnas, o peronista está fadado a exercer um governo de intensas negociações.
A posse de Néstor Kirchner se dará à frente de 20 políticos brasileiros. Embora o Palácio do Planalto não tenha divulgado a lista dos nomes, as participações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do governador gaúcho, Germano Rigotto, foram confirmadas. A comitiva gaúcha também é composta pelo deputado estadual Flávio Koutzii (PT) e pelo ministro das Cidades, Olívio Dutra, que cumpre agenda no Estado desde a última quinta.
A cerimônia está marcada para as 14h de domingo, na sede do Congresso argentino, e deverá se estender até as 17h.
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