| 24/09/2002 22h01min
Visando a minimizar o impacto social imposto pela cotação recorde do dólar registrada nesta terça, dia 24, o presidente Fernando Henrique Cardoso garantiu que os fundamentos da economia brasileira são sólidos e que a elevação da divisa é passageira. FH prometeu cumprir as metas firmadas com o Fundo Monetário Internacional (FMI), mesmo com as altas significativas da moeda norte-americana.
Analistas do mercado financeiro acreditam que houve nesta terça uma especulação por parte dos bancos que detêm títulos do Banco Central (BC) vinculados ao câmbio, que vencem nesta quarta-feira, no total de US$ 1,52 bilhão. Eles teriam inflado artificialmente as cotações, com operações entre as instituições, para aumentar seu lucro. A dívida será paga pelo BC em reais, de acordo com a cotação média compilada pelo Banco Central nesta terça.
O ministro da Fazenda, Pedro Malan, vinculou a pressão sobre o mercado financeiro ao contexto internacional adverso, afirmando que os temores ante a sucessão presidencial se mostram exagerados. Malan pediu aos candidatos à Presidência que reiterem os compromissos, já assumidos, de dar continuidade ao cumprimento de contratos internacionais, à manutenção do controle da inflação e à preservação da responsabilidade fiscal.
A conseqüência mais evidente da tensão cambial no Brasil se revela nos preços. Ainda que seja intensa a produção local, muitas indústrias usam insumos importados, que sobem com a elevação no câmbio. Além disso, uma série de produtos, da soja ao petróleo, tem cotações que seguem um padrão internacional, em dólar. Portanto, a alta da moeda norte-americana afeta, especialmente, o atacado. Os índices de inflação, especialmente os da série IGP (IGP-M, IGP-DI e IGP-10*), calculados pela Fundação Getúlio Vargas, são sensíveis da mesma forma. Embora a inflação tenda a se elevar, as empresas que vendem direto ao consumidor têm dificuldade em repassar os custos da produção, e a margem de lucro tem de ser reduzida.
O consumo, assim, reduz-se. A pressão sobre os preços, aliada à queda na renda média dos brasileiros, faz as pessoas reservarem mais recursos para compromissos obrigatórios como aluguel, luz, telefone. A disposição do "ir às compras" se vê inibida pelo receio de não se saber até onde a cotação do dólar pode chegar. Negócios e novos investimento são adiados. Os empresários passam a trabalhar enfrentando problemas para projetar o retorno do valor aplicado e temem o efeito recessivo de uma elevação significativa e prolongada na taxa de câmbio.
Inflação, consumo desacelerado e negócios adiados se apresentam como péssimas notícias ao mercado de trabalho. Na melhor das hipóteses, a crise no mercado financeiro significa dificuldade para quem procura vaga. Se muito severos, os efeitos podem acarretar, inclusive, cortes em segmentos. Se não há venda, não há investimentos nem contratações.
O capítulo seguinte trata do comércio exterior. O dólar em órbita reduz as importações e eleva as
exportações. Mesmo que a queda
das compras no Exterior tenha aspectos negativos, como o adiamento da compra de máquinas e equipamentos, esse é o melhor efeito da alta no câmbio para o país. É esse o motivo de o saldo positivo da balança comercial ter saltado dos US$ 5 bilhões, projetados para todo 2002 no início do ano, para mais de US$ 7 bilhões até a terceira semana de setembro. Tendo mais de um terço do total indexado ao dólar, a dívida pública brasileira é tida, também, como fácil vítima da tensão cambial.
Nesta terça, a cotação da moeda norte-americana estabeleceu novo recorde da história do real, encerrando o dia em alta 5,73%, equivalente a R$ 3,78 na venda e a R$ 3,77 na compra.
(*) Índice Geral de Preços, composto pelo Índice Geral de Preços de Mercado (IGP-M), pelo Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (IGP-DI) e pelo Índice Geral de Preços-10 (IGP-10)
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