| 10/09/2002 17h19min
O presidenciável Ciro Gomes, da Frente Trabalhista, fez uma dura cobrança ao PT na campanha presidencial e advertiu que o partido, ao aproveitar-se de seu confronto com o candidato governista, José Serra, corre o risco de ver a candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva ser destruída pelos tucanos.
– O PT está de certa forma gostando da baixaria. O PT atribui a mim a função de confrontar o Serra para ficar "Lulinha Paz e Amor''' – disse o candidato ao ser entrevistado por colunistas, jornalistas e assinantes do jornal O Globo, nesta terça-feira, 10 de setembro.
Ciro disse que acredita que, "daqui a pouco, vai vir tudo para cima dele (Lula)'', referindo-se a ataques diretos do candidato da aliança PSDB-PMDB.
– Vamos ver a desconstrução de Lula e desta vez de uma vez por todas. Esta será a última chance. O último bastião da resistência para que o Lula não seja destruído de uma vez por todas sou eu.
As críticas de Ciro foram feitas num tom de queixa. O candidato lembrou que, no episódio de denúncias de corrupção na prefeitura de Santo André que envolviam o presidente do PT, José Dirceu, sua postura foi de defendê-lo. No entanto, Ciro não teve contrapartida do PT nas recentes acusações feitas por Serra a sua candidatura.
Sobre as últimas pesquisas de intenção de voto, que o colocam atrás de Serra e em empate técnico com o candidato pelo PSB, Anthony Garotinho, Ciro argumentou que ainda tem o mesmo número de votos de Serra na pesquisa espontânea. Para ele, isso lhe dá ainda muitas chances na disputa.
– As pesquisas mostram que os eleitores têm suas intenções de voto. Mas acho que o povo não está apaixonado por ninguém – disse ele.
Ciro disse ainda que acredita ter "muitas chances de mudar esse jogo de cartas marcadas''.
Durante a entrevista, que durou cerca de três horas –quase uma hora a mais do que a entrevista de Serra no dia anterior–, Ciro também demonstrou uma postura mais descontraída e bem humorada do que em outras ocasiões. Em vários momentos, provocou risadas na platéia.
Perguntado sobre essa mudança de postura, Ciro disse apenas que "esse aqui é o verdadeiro Ciro, o outro foi o Nizan Guanaes que produziu''.
Ainda assim, o candidato manteve ataques à mídia e chegou a criticar a postura dos jornalistas.
Ciro repetiu que se considera um otimista realista e reafirmou que tem sangue quente. Ele justificou, por exemplo, que prefere cortar o braço a ter que ceder aos interesses dos bancos estrangeiros.
– Eu não serei domesticado. Não estou disposto a vender a alma para ser presidente do Brasil –, disse, repetindo comentário já feito em outras ocasiões, como na sabatina do jornal Folha de S.Paulo.
O presidenciável também respondeu porque não votaria nos outros candidatos se fosse um eleitor comum. Segundo ele, Lula quer ter sua primeira experiência no governo como presidente da República, o que não considera adequado.
– Falta projeto ao PT, falta experiência ao Lula.
Sobre Serra, ele deixou claro que considera um candidato de pouca moral e que tem uma "forma de agir como um ditador''.
– Os requisitos ético e moral estão desatendidos – disse ele.
Em relação a Garotinho, Ciro não fez muito comentário.
– O Garotinho é muito garotinho. Mas ele tem potencial, tem futuro.
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