| 19/03/2002 08h49min
A falta de diplomacia do vice-presidente dos Estados Unidos, Dick Cheney, provocou um mal-estar ontem, dia 18, entre os palestinos. Cheney, que desembarcou ontem em Israel, em mais uma etapa de sua viagem por 11 países da região para tentar obter apoio do mundo à campanha global contra o terrorismo internacional, não reservou espaço na sua agenda para receber o presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Yasser Arafat.
A recusa de Cheney em se reunir com Arafat atrapalhou os esforços dos EUA para alcançar um cessar-fogo na região. O restabelecimento do diálogo está sendo negociado desde a última quinta-feira pelo enviado americano Anthony Zinni. Um porta-voz palestino, Yasser Abed Rabo, alertou ontem que a visita de Cheney poderia ser totalmente infrutífera. Nenhum outro dirigente palestino, segundo Rabo, estava autorizado a se reunir com o vice americano.
– Não haverá encontro com Cheney a menos que seja uma reunião oficial com o presidente Arafat – afirmou o porta-voz.
Em entrevista concedida no gabinete do primeiro-ministro israelense, Ariel Sharon, em Jerusalém, Cheney mandou um recado a Arafat: pediu ao líder palestino que renunciasse à violência “como arma política” e reiterou a importância que tem para os EUA a segurança de Israel.
– Só depois será criado um clima que permita responder às legítimas aspirações do povo palestino – disse Cheney.
Em um encontro de três horas, Sharon e Cheney discutiram “questões regionais de interesse comum, bem como o desenvolvimento das relações entre Israel e EUA”, afirmou um porta-voz do premier israelense. Zinni, por sua vez, conseguiu reunir em torno da mesma mesa ontem altos comandantes palestinos e israelenses. O principal item da pauta de discussões foi a retirada do exército de Israel de todas áreas autônomas palestinas ocupadas pelos israelenses na sua recente ofensiva na Cisjordânia e na Faixa de Gaza.
A retirada havia começado quinta-feira, mas só deve ser concluída hoje. Israel ocupou essas áreas sob controle da ANP há cerca de duas semanas, em uma ofensiva sem precedentes na Cisjordânia e na Faixa de Gaza, que custou a vida de cerca de 250 palestinos. Nesse mesmo período também morreram cerca de 65 israelenses, em uma série de atentados cometidos por palestinos.
O exército se retirará de Belém, inclusive dos povoados de Beit Sahur e Beit Jala, e de pequenas áreas em Qalqiliya, também na Cisjordânia, assim como das localidades de Beit Hanun e Beit Lahie e de uma área a leste do campo de refugiados de Al-Bureij, todas na Faixa de Gaza. Amanhã, dia 19, altos funcionários israelenses e palestinos retomarão as negociações sobre segurança.
A violência, no entanto, não cessou e fez mais uma vítima ontem. Um palestino morreu atingido por disparos de soldados israelenses quando estava em sua loja, perto de Hebron, no sul da Cisjordânia. Amjad Ali Ami, 22 anos, levou um tiro na cabeça.
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