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 | 29/01/2013 09h10min

Causa da morte de pedreiro, após perseguição policial em Florianópolis, não está esclarecida

Não foi confirmado o que provocou a parada cardiorespiratória, se os choques da pistola taser, reação aos medicamentos ou possível consumo de drogas e álcool

Roberta Kremer  |  roberta.kremer@diario.com.br

Correção: Diferentemente do que publicou este site na reportagem "Causa da morte de pedreiro, após perseguição policial em Florianópolis, não está esclarecida", dois veículos do Samu não participaram da perseguição ao carro de Marcos Antonio Clarinda. Na verdade, os profissionais do Samu só chegaram ao local depois que os policiais já haviam tentando imobilizar Marcos. A reportagem informou ainda que a PM afirmou que Clarinda teria morrido na delegacia, quando, na verdade, a assessoria da PM disse que um sargento foi chamado ao Hospital Celso Ramos e, chegando lá, uma médica disse que Clarinda teria morrido. Conforme a assessoria, não se sabe se ele morreu na rua, na viatura ou no hospital. O texto original já foi corrigido.

Choques da pistola taser, reação a medicamentos, consumo de drogas ou estresse. O que levou a morte de Marcos Antonio Clarinda, de 48 anos, após perseguição policial em Florianópolis, ainda não está esclarecido. O homem teria sofrido duas paradas cardiorrespiratórias depois que levou dois disparos com a pistola imobilizadora da Polícia Militar e ter recebido injeções ao ser atendido pelo Samu. O pedreiro, que trafegava em zigue-zague na noite de sexta-feira, estaria agitado e resistiu à prisão por furar duas barreiras policiais.

O corpo foi sepultado no Bairro Guarda da Margem Esquerda, em Tubarão, às 10h deste domingo. O Instituto Médico Legal (IML) informou que o resultado do laudo sobre a causa da morte pode sair em até 30 dias. Especialistas como o cardiologista Tales de Carvalho acreditam que é difícil confirmar o que levou à parada cardiorrespiratória, porque uma série de fatores podem estar associados. O homem poderia estar em situação de estresse e sob efeito de álcool e drogas. O choque da arma poderia ter influenciado, assim como o medicamento aplicado. O conteúdo das injeções não foi confirmado pelo Samu.

Esse é o segundo homem que morre após ser atingido por taser. Em março de 2012, um outro recebeu a descarga após provável consumo de cocaína, nos Ingleses, Norte da Ilha, e não sobreviveu. A PM considerou o caso uma fatalidade e continuou a usar a pistola.

Na morte de Clarinda, o Samu e a PM deram versões diferentes no sábado. Segundo informações preliminares, o homem não teria parado o carro Ford Fiesta em uma abordagem da PM, na Via Expressa, no Bairro Capoeiras, às 23h40min de sexta. A perseguição foi até o Saco dos Limões, na Ilha, onde o carro bateu no poste depois que a PM disparou contra o pneu do carro. Como o homem resistiu e se debateu, sofreu dois disparos da arma taser.

A diferença entre as histórias diz respeito ao local e ao horário da morte do homem. Segundo o Samu, o pedreiro estaria muito alterado na 2ª DP, teria tido uma parada cardíaca e recebeu a injeção. Teria sido encaminhado à ambulância e sofrido uma segunda parada e recebido mais uma injeção. Ele teria morrido no caminho para o hospital.

Já a PM, através de sua assessoria, afirmou que um sargento foi chamado ao Hospital Celso Ramos e, chegando lá, uma médica disse que Clarinda teria morrido. Conforme a assessoria, não se sabe se ele morreu na rua, na viatura ou no hospital. 

Outra contradição diz respeito ao acionamento do Samu. O médico regulador do Samu em SC, Ramon Tartari, dise que o chamado ao Samu partiu da delegacia. A PM afirmou que o Samu foi acionado pela PM, em via pública, depois que a vítima voltou a ficar agitada, após receber os dois choques de taser, por volta da 01h10min de sábado.

Seis viaturas da Polícia Militar e um helicóptero Águia participaram da perseguição. Trechos da ocorrência foram registradas por câmeras da PM, mas o vídeo não foi liberado pela corporação. A PM vai abrir um inquérito para analisar os procedimentos adotados. A 2ª DP também investiga o caso.

O filho do pedreiro, Deivid Antônio Clarinda, de 29 anos, afirmou que vai esperar o laudo do Instituto Médico Legal (IML) para entrar com uma ação na Justiça contra a Secretaria de Estado Segurança Pública (SSP) e Secretaria de Estado da Saúde por causa do procedimento realizado com o seu pai.

Segundo o filho, Marcos Clarinda estava transtornado, pois tinha se separado de um casamento de 30 anos há duas semanas. Ele estaria depressivo e desempregado. Morava sozinho, desde que a mulher foi viver na casa de uma das duas filhas, no Bairro Areias, em São José.

Confira entrevista com especialista em segurança

A taser é utilizada pela Polícia Militar de Santa Catarina desde 2009 para paralizar infratores que se encontram em situações agitadas e de resistência à prisão. O equipamento é considerado pela Organização das Nações Unidas (ONU) como instrumento menos letal. Mas o pedreiro Marcos Antonio Clarinda já é o segunda homem que morre após disparos de taser no Estado, o que demonstra possíveis riscos. O vice-coordenador do curso de Gestão de Segurança Pública da Unisul e doutor pela Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, José Carlos Noronha, explica o funcionamento dessa arma de eletrochoque.

Diário Catarinense — A taser é considerada uma arma não letal, sem nenhum risco de causar a morte da pessoa atingida?

José Carlos Noronha — Quando ministro aulas para os meus alunos, sempre digo que essa arma é de baixa letalidade, ou seja, qualquer corrente elétrica que passe pelo corpo do ser humano, dependendo da situação que estiver, pode resultar em morte. A carga tem um pico de alta voltagem, mas com uma corrente baixíssima, pois é utilizada para paralizar e não para matar. Mas se a pessoa está fragilizada, seja ela cardiopata, ou esteja sobre efeito de bebida ou alguma droga, pode trazer problemas e vir a óbito.

DC — Como funciona a carga da taser no corpo de uma pessoa?

Noronha — O princípio do funcionamento de uma taser é similar daqueles antigos acendedores de fogão automáticos. Quando dispara, dois fios de cobre que conduzem a descarga são projetados e provocam um passagem de energia elétrica, de baixa amperagem. É rápido, causa uma contração muscular, que faz com que a pessoa pare.

DC — O senhor acredita que os disparos de taser podem ter matado o pedreiro que fugia da polícia?

Noronha — Temos um exemplo de um brasileiro que morreu na Austrália, no ano passado, por 14 disparos de alta potência, uma ação exagerada. Já a PM de Santa Catarina é uma das mais preparadas do Brasil. Os agentes são bem treinados para manusear a taser. A PM daqui não usa uma carga forte, acho que até que os disparos não foram a causa de morte. É mais provável que o homem veio a falecer pelos remédios aplicados depois.

Confira entrevista com cardiologista

Os motivos que levaram o pedreiro Marcos Antonio Clarinda morrer após a parada cardiorespiratória não estão esclarecidos. O disparo da arma taser pode ser sido o gatilho para a fatalidade, mas outros fatores podem ter influenciado, como explica o cardiologista Tales Carvalho, na entrevista abaixo.

Diário Catarinense — O que pode ter levado Marcos Antonio Clarinda a morrer após parada cardiorespiratória?

Tales Carvalho — A primeira explicação é que ele poderia estar sob efeito de drogas que podem provocar arritmias fatais. O próprio consumo de álcool e o estresse tornam o coração mais excitado. Outra possibilidade é alguma relação com o estímulo causado pela arma.

DC — Como pode ocorrer a relação entre a descarga da taser e outros fatores geradores de parada cardiorespiratória ?

Carvalho — O coração tem um gerador próprio de energia que emite impulsos elétricos. Logicamente esses estímulos sofrem interferência de agentes, como a emoção, o uso de drogas lícitas e ilicitas, o choque da arma e até mesmo de medicamentos. De qualquer forma, já existem outros casos de morte após disparo de taser e é algo que parece ter riscos.

DC — O laudo do IML deve responder o que motivou a morte?

Carvalho — Fica difícil constatar de fato o que provocou a parada cardiorespiratória, já que um conjunto de fatores pode tre interferido.

DIÁRIO CATARINENSE
Julio Cavalheiro / Agencia RBS

Carro atingiu um poste, no Saco dos Limões, no final da perseguição
Foto:  Julio Cavalheiro  /  Agencia RBS


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