Dezenas de moradores da principal rua do bairro Caminho Novo, na Palhoça, região da Grande Florianópolis, saíram de suas casas para ver a cena de guerra que se formou na noite desta quarta-feira. Horrorizados e atônitos, assistiam equipes dos Bombeiros apagando o incêndio criminoso em um ônibus da empresa Jotur. A poucos metros dali, uma ambulância do Samu fazia os primeiros socorros das duas vítimas do fogo.

Policiais militares davam apoio. O som era de gente gritando, sirenes e dos rádios das viaturas. No chão, restos derretidos do ônibus e espuma usada no combate às chamas.

Sentado em um dos bancos, dentro da viatura do Samu, e com a calça chamuscada do joelho para baixo, o motorista do ônibus incendiado, Antônio Almirando Jorge, 47 anos, baixou a cabeça e chorou. Ele ficou com uma arma apontada para ele quando o veículo foi atacado por dois homens em uma moto, às 23h45min.

Antes que o motorista Antônio e um dos cinco passageiros pudessem descer, um dos dois criminosos começou a jogar gasolina por todo o ônibus. Antônio ainda tentava tirar o cinto de segurança quando o outro homem ateou fogo no ônibus.

— Deixa eu sair, deixa sair — implorava o motorista.

Apesar dos apelos e depois de conseguir tirar o cinto, a vítima teve a passagem dificultada por um dois criminosos que ficou trancando a passagem, em pé, na porta.

Cinco pessoas escapam das chamas

A outra vítima, o passageiro Ricardo de Castro Coelho, 24 anos, estava deitado em uma maca, com a perna imobilizada e uma toalha branca cobrindo os olhos que ardiam de dor.

Ricardo também estava na parte da frente do ônibus e por isso também teve dificuldades para sair. Ele acabou torcendo o pé ao tentar pular do veículo. Ricardo estava de uniforme. Ele é cobrador da Transol e estava no ônibus da Jotur voltando para casa depois do trabalho.

Os dois foram encaminhados ao Hospital Regional de São José. Conforme informações preliminares, as vítimas não corriam maiores riscos.

Pouco antes das 23h45min, dois homens em uma moto pararam na frente do ônibus da linha Caminho Novo e apontaram a arma em direção aos ocupantes. Os dois entraram no veículo e mandaram as pessoas que estavam atrás descerem. Eram quatro passageiros e o cobrador. O motorista e o quinto passageiro, o cobrador da Transol, estavam na frente.

A prisão dos suspeitos do ataque ao ônibus da Jotur

Cerca de dez minutos depois do incêndio, policiais militares do Pelotão de Patrulhamento Tático (PPT), do patrulhamento de área e do serviço de inteligência do 16º Batalhão da PM (Palhoça) prenderem três suspeitos em flagrante, a cerca de 800 metros do local do ataque.

Eles foram encaminhados à DP de Palhoça. Os três estavam em um Gol preto. No veículo havia uma garrafa pet vazia com forte cheiro de gasolina. Conforme a PM, eles deixaram a moto na casa de um dos três suspeitos, perto do local do ataque e saíram no Gol.

Na delegacia, um dos ocupantes do ônibus incendiado reconheceu entre os três suspeitos o homem que ateou fogo. É Gustavo José Brandão, 19 anos. Ele e o adolescente de 14 anos são conhecidos da PM de Palhoça porque atuam no tráfico de drogas local.

Gustavo é apontado como integrante da facção criminosa Primeiro Grupo Catarinense (PGC), organização investigada como autora dos ataques ou pelo menos parte deles, em Santa Catarina. O outro suspeito, Mizael Fernandez Costa, 19 anos também foi preso em flagrante. Os três negam os crimes.

De acordo com o delegado Marcelo Arruda Almeida, o adolescente ficará à disposição do Ministério Público e os outros dois serão encaminhados à Central de Triagem do Estreito. Os três serão indiciados por tentativa de homicídio qualificado (o qualificador é o incêndio) e incêndio qualificado (qualificador é dano ao patrimônio público).

— É lamentável o que aconteceu, mas a Polícia Militar fez um excelente trabalho_observou o chefe operacional da Jotur, Luiz Carlos Fonseca.