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 | 08/03/2009 01h31min

Simpatia de Taison conquista companheiros e funcionários do clube

Aos 21 anos, o atacante é o mesmo garoto que aterrorizava defesas em Pelotas e prometia à mãe vida melhor

Guilherme Fister  |  guilherme.fister@zerohora.com.br

Dona Rosângela Barcellos Freda nem reclama mais. Ela sabe que o filho ao chegar no apartamento do bairro Menino Deus, em Porto Alegre, deixará meias e roupas espalhadas pelo chão. Taison tem sido assim desde criança, e isso é apenas uma prova de que nada mudou no guri, mesmo depois da súbita ascensão em 2009.

O atacante que joga videogame ainda é o mesmo garoto que aterrorizava defesas no Progresso, de Pelotas, e prometia à mãe que lhe daria vida melhor. Sua rotina começa às 9h30min. Toma café e chimarrão com a mãe e aguarda o caçula entre os 10 irmãos, Humberto, 14 anos, voltar da escola — os demais manos seguem em Pelotas. A hora mais feliz, porém, é quando encara arroz, feijão, guisado e milho no almoço.

A ida ao Beira-Rio em geral é de carona com o empresário e seu segundo pai, Alcione Dornelles. Do contrário, vai de táxi. Até o ano passado, Taison não era reconhecido. Agora, tudo mudou. Outro dia, um motorista colorado o liberou de pagar a corrida. Ele recusou a gentileza. Um gremista, depois do último Gre-Nal, fez-lhe um pedido.

— Ele disse: “Não pode jogar tanto contra o meu Grêmio” — conta o atacante de 21 anos.

A simpatia de Taison conquista companheiros e funcionários. O vice de futebol, Fernando Carvalho, vê nele o jeito agregador que o volante Perdigão exerceu entre 2005 e 2007.

— Ele toca pandeiro, canta e une todos. Virou líder dos mais novos, como Marinho, Paulinho — conta Carvalho.

De volta ao apartamento, o atacante conserva a hiperatividade dos gramados. Com o laptop, conversa no MSN com os amigos Pato, do Milan, Wellington Souza, centroavante do Hoffenheim, Titi e Ramon, zagueiro e lateral do Vasco.

Na TV, acompanha futebol ou novela das oito. Quando não está a seu gosto, recorre a um acervo de filmes, como Rambo e O Gladiador.

— Gosto de filme de tiro, com o Wesley Snipes e o Van Damme — brinca.

Mas são as partidas de futebol virtual no Playstation 3 que ocupam a tela da televisão de 39 polegadas por mais tempo. Os embates com Humberto são equilibrados.

A rotina da noite só muda se a família sai para jantar, geralmente em shopping. Nessas horas, ele reflete de sobre o quanto sua vida mudou:

— Às vezes, pegávamos sopa na igreja para ter o que comer. Agora, até comprei apartamento para minha mãe em Pelotas.

As preferências do guri

Na televisão: Novela das oito e esportes
Comida: Arroz, feijão, guisado e milho
Filme: Cidade de Deus
Música: Pagode, com Belo, Exaltasamba e Rodriguinho

A camuflagem

Quando vai a Pelotas de ônibus, Taison costuma usar um recurso para não ser ser reconhecido: — Ponho um boné na cara, óculos escuros e sento lá na última poltrona, encolhidinho, mas alguém sempre me reconhece. Quando chega em casa, come churrasco com picanha, costela e coração, assado pelo irmão Leandro. Depois, curte pagode com amigos e toca pandeiro e surdo.

A autoescola

Taison não aprendeu a dirigir. Chegou a ser flanelinha em Pelotas quando criança, para ajudar a mãe, mas nunca sentou no banco do motorista de um carro — só de brincadeira. Agora, seu plano é começar as aulas em autoescola nas próximas duas semanas.

Os recortes

Em duas pastas, dona Rosângela guarda recortes e fotos de Taison desde as categorias de base. Entre as reportagens, uma foto da primeira viagem de avião, na categoria juvenil. Ele posa ao lado do zagueiro Sidnei, no Salgado Filho, com o terno de ombreira para compensar o tamanho maior. De tanto medo, os colegas tiveram de buscá-lo na concentração para viajar. Um outro registro é de quando foi mestre-sala da escola de samba  Explosão do Futuro, de Pelotas.

A segurança

No último Carnaval de Pelotas, os organizadores colocaram três seguranças a vigiar o atacante. Queriam evitar assédio demasiado. Mesmo assim, Taison driblou a marcação e engatou um namoro com a princesa do Carnaval de Rua, Karina.

A superstição

Quando entra no vestiário do Beira-Rio, antes das partidas, Taison costuma segurar a sua camiseta 7 com as palmas das mãos na altura do peito, fecha os olhos e reza muito. Invariavelmente, terminado o aquecimento, ele liga do celular para a mãe, antes de entrar em campo.

 

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