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 | 07/04/2007 15h01min

Diversos problemas prendem a aviação brasileira no chão

Controladores de vôo são apenas parte do problema na aviação brasileira

ALEXANDRE DE SANTI

Os controladores de vôo são, infelizmente, apenas parte do problema na aviação brasileira. Nos últimos anos, os investimentos não acompanharam o crescimento do setor, que se expande 13% ao ano desde 2003. Segundo especialistas, o problema é grave porque o planejamento de investimentos vem sendo adiado há décadas.

- Há uma mistura de problemas políticos com problemas técnicos - diz João Batista Camargo Júnior, professor da USP, especializado na área.

O estrangulamento do aeroporto de Congonhas, em São Paulo, por exemplo, foi previsto no final da década de 70, quando o governo militar sugeriu a construção de um novo aeroporto na região. A recomendação jamais foi levada a sério. A Infraero pretende investir R$ 6 bilhões nos aeroportos até 2010, mas, conforme a Agência Nacional de Aviação Civil, o valor é suficiente apenas para adequar as instalações à atual demanda - e não para prevenir o crescimento futuro. Abaixo, confira os principais problemas na infra-estrutura aérea brasileira e suas possíveis soluções.

Falta de pessoal

Problema - O déficit de controladores de vôo é a parte mais evidente do problema. Hoje, cerca de 2,7 mil atuam no espaço aéreo brasileiro. Segundo o diretor técnico do Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias, Ronaldo Jenkins, a defasagem seria de 300 profissionais. Controladores e ex-controladores ouvidos por Zero Hora, porém, estimam que seriam necessárias 3 mil contratações. De acordo com Celso Klafke, presidente do Sindicato dos Aeroviários do Rio Grande do Sul, as empresas também não contrataram funcionários no ritmo necessário para atender bem o usuário nos aeroportos.

Solução - A Aeronáutica ampliou os concursos para controladores. Neste ano, serão formados 363 profissionais. O governo estuda a contratação emergencial de controladores estrangeiros, treinamento de militares para a aviação comercial e, em caso de emergência, chamar profissionais aposentados. Estima-se que seja preciso cinco anos de experiência para atuar em centros movimentados, como São Paulo.

Congestionamento de São Paulo

Problema - O conjunto de aeroportos da capital paulista está sobrecarregado. Somente o terminal de Congonhas (foto) reuniu 12% dos passageiros brasileiros no ano passado. Enquanto tem capacidade para o tráfego de cerca de 12 milhões de pessoas, Congonhas opera hoje com 18,5 milhões.

Solução - De acordo com Cláudio Jorge Pinto Alves, pesquisador do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), a solução é construir um novo aeroporto na região metropolitana de São Paulo. O governo teria discutido a inclusão da obra no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), mas o projeto foi engavetado em razão dos custos. A nova instalação custaria R$ 5 bilhões, quase todo o orçamento da Infraero para os próximos quatro anos - que é de R$ 6 bilhões. Outra solução é ampliação de Viracopos, em Campinas, mas a obra dependeria da construção de um meio de transporte rápido entre São Paulo e a cidade, como um trem bala.

Por enquanto, a Infraero apenas trabalha na construção do terceiro terminal e da terceira pista de Cumbica, em Guarulhos, que ajudaria a aliviar o problema.

Dificuldades de comunicações

Problema - Controladores dizem que há pontos cegos de visualização e de rádio entre Brasília e Manaus, além da baixa qualidade de áudio. Dificuldades com a língua inglesa e falta de qualidade de transmissão dificultam a comunicação (na foto, a torre de controle em Porto Alegre).

Solução - A comunicação entre bases e aeronaves deverá ser substituída pelo padrão de troca de dados. O Departamento de Engenharia de Computação e Sistemas Digitais da Escola Politécnica da USP estuda um novo sistema que eliminaria parte da comunicação por voz, o que amenizaria problemas de língua e de falta de qualidade de áudio.

Conservação das pistas

Problema - Nos aeroportos de maior tráfego, há borracha acumulada na pista em razão do atrito dos pneus com o solo, o que diminui a aderência das pistas e as condições de pouso. Congonhas foi fechado várias vezes nos últimos meses em dias de chuva por esse motivo. Em outros locais, como Porto Alegre, a pista não é grande o suficiente para grandes aviões lotados de carga.

Solução - Manutenção periódica. O problema é que, a cada novo trabalho, a pista é interditada e diminui a capacidade do aeroporto - como acontece hoje em Congonhas, que passa por obras. Das oito principais obras da Infraero para os próximos anos, cinco incluem trabalhos em pistas. Outra solução é prever áreas de pouso e decolagem maiores para aeroportos importantes, como o Salgado Filho.

Manutenção e modernização de equipamentos

Problema - Além de gastos em radares e equipamentos modernos, a aviação civil depende de manutenção constante, mas falta dinheiro para todas as tarefas. Em 2006, o governo aplicou apenas metade do previsto para recuperação da infra-estrutura de aviação. Em março, um raio destruiu o ILS (foto), equipamento que permite pousos em dias de nevoeiro no aeroporto de Congonhas. O instrumento levou um mês para voltar a funcionar: os testes esbarraram no fato de que um dos aviões de testes da FAB estava com o trem de pouso danificado.

Solução - Evitar o contingenciamento de recursos para Aeronáutica e Infraero. Há, ainda, problemas de concentração: Brasília monitora muitos vôos. Além de investimentos nos Cindactas existentes, como o de Curitiba, já previsto, seria necessária a construção de um novo Cindacta no Sudeste - em Belo Horizonte, de preferência.

ZERO HORA
 

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