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 | 25/10/2006 09h19min

Lula diz não saber motivo de baixa votação no Sul

Presidente disse que RS e SC são Estados prontos para voltar a crescer

O presidente e candidato à reeleição Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou hoje não saber os motivos que fizeram sua votação ser baixa no Rio Grande do Sul e Santa Catarina, Estados que sempre deram vitória ao candidato do PT em eleições anteriores.

– Eu não sei o que aconteceu, nós precisamos perguntar ao povo gaúcho o que aconteceu – disse, acrescentando que é muito grato aos dois Estados pela boa votação histórica e dizendo que acredita em uma vitória no segundo turno.

Lula lembrou também que nas suas duas primeiras eleições, Rio Grande do Sul e Santa Catarina tinham a presença forte de Brizola, cujos votos acabavam migrando para ele no segundo turno.

Calmo e simpático durante a maior parte do tempo, Lula só demonstrou irritação quando questionado sobre a falta de empenho na defesa de Santa Catarina em relação ao embargo russo sobre a carne suína – enquanto outros Estados conseguiram voltar a vender para o país asiático, os catarinenses continuam embargados.

– É porque o irresponsável de um empresário de Santa Catarina quis aparecer e fez uma manchete publicada no jornal Estado de São Paulo dizendo que não tinha problemas em exportar para a Rússia porque subornava funcionários do governo russo – acusou, sem citar nomes, mas com a voz alterada.

Lula afirmou que Rio Grande do Sul e Santa Catarina são Estados “prontos”, que é preciso apenas retomar o crescimento, uma vez que ambos têm um nível de educação e de qualidade de vida melhores do que o restante do país. O presidente afirmou que os governadores eleitos precisarão discutir profundamente as causas da crise, para poder resolvê-la. E negou que vá atrapalhar os governos caso os eleitos não sejam seus apoiadores.

– O presidente da República não trabalha olhando a cara do governador ou da governadora, nós trabalhamos olhando para a cara do povo.

Durante a entrevista, o candidato criticou muitas vezes a transferência de responsabilidades dos governadores para o governo federal, e afirmou que, no caso das estradas, por exemplo, ele resolveu fazer a parte do governo federal, sem esperar pelos governadores. Questionado sobre sua crítica sobre governadores que usaram o dinheiro das rodovias para outros fins (como o petista Olívio Dutra, candidato ao governo gaúcho), Lula afirmou que as estradas pioraram muito depois que um gaúcho (referindo-se a Eliseu Padilha, do PMDB) assumiu o Ministério dos Transportes e lá ficou por oito anos. O presidente disse que tem o compromisso de inaugurar a obra, se eleito.

Lula não deixou claro também os problemas que teve com o governador catarinense Luiz Henrique da Silveira (PMDB), candidato à reeleição. O petista apoiou o catarinense nas eleições para a prefeitura de Joinville e para o governo de Santa Catarina, mas agora apóia o concorrente Esperidião Amin (PP).

– A mudança faz parte da dinâmica da política brasileira. Apoiei o Luiz Henrique porque eu entendi que era o melhor candidato para aquele momento. Estranhamente, o Luiz Henrique fez uma aliança com o PSDB – disse, acrescentando quando questionado o que houve na relação com o peemedebista:

– Eu não sei. Eu penso que ele é que teria que explicar, e não eu.

O presidente defendeu novamente o câmbio flutuante, afirmando que é preciso um patamar que agrade a maioria.

– Quando eu recebo alguém que vai exportar, ele reclama do câmbio, quando eu recebo alguém que vai importar, ele elogia.

Lula afirmou também que não tem sido fraco na negociação com a Bolívia na questão do gás natural. O presidente disse que é preciso encarar a situação com certa normalidade, pois em todo mundo os países detentores de fontes energéticas como petróleo e gás “vêm brigando, a maioria privatizou, porque é a única riqueza que eles têm”. O candidato afirmou que é preciso fazer com que os negócios sejam bons também para a Bolívia, que é um país muito pobre.

– Se a Bolívia der um passo além do que está no contrato, o Brasil tem fóruns internacionais para discutir. O que não pode é traumatizar. Porque é a Bolívia, se fosse os Estados Unidos, iam dizer que tem que negociar – ironizou.

Lula defendeu a negociação com o Mercosul, e falou que as divergências são normais.

– Divergências você tem em casa na hora de colocar a mesa. Imagina entre países. Você tem que comprar e tem que vender, não pode sufocar o seu parceiro. Não interessa ser um país grande e rico e ter do seu lado países miseráveis.

Ele também defendeu sua política de comércio exterior e disse não aceitar as críticas de setores produtivos nesse sentido.

– Eu tenho sido um verdadeiro camelô dos produtos brasileiros. Ao invés ficar esperando reunião do Copom para criticar o Copom, deviam encher um avião de empresários e ir vender. Não é assim que o mascate faz, bate palma de casa em casa? A gente não pode ficar chorando aquilo que a gente não ganhou – defendeu.

Sobre o anúncio do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) de que as invasões reiniciariam após as eleições, o presidente mostrou-se decepcionado.

– Quando as pessoas atingem a maioridade, cada um faz o discurso que melhor lhe convém. A reforma agrária é um compromisso do meu governo – disse, listando os investimentos e números da reforma agrária durante sua administração.

Lula afirmou que a revisão do índice de produtividade é um atributo dos ministérios da Agricultura e do Desenvolvimento Agrário, e que quer discutir a questão, para que ela não vire um ponto de conflito.

Apenas no fim da entrevista o candidato foi questionado sobre o tema corrupção. Quando questionado sobre seu relacionamento com Jorge Lorenzetti (que teria articulado a compra do Dossiê Cuiabá, que resultou em um escândalo), o presidente disse apenas que estava decepcionado com o companheiro.

Lula terminou a entrevista com elogios à senadora petista catarinense Ideli Salvatti.

– Feliz do partido do Estado ou partido que tenha uma representação como a de Ideli Salvatti. É uma senadora que é motivo de orgulho para Santa Catarina. Ela é um exemplo de como os senadores deveriam se comportar no Senado da República.

SABRINA D'AQUINO/CLICRBS
 

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