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 | 08/03/2006 10h00min

Comissários apóiam tática de atirar para matar no Reino Unido

Representantes legais de Jean Charles de Menezes criticaram documento

A Associação de Comissários de Polícia (ACPO, na sigla em inglês) apóia a tática de atirar para matar nos casos de terrorismo suicida, apesar da polêmica gerada pela morte do brasileiro Jean Charles de Menezes, segundo um relatório apresentado hoje.

A ACPO, que coordena a estratégia das forças da ordem na Inglaterra, País de Gales e Irlanda do Norte, divulgou sua posição sobre o que chama de "força letal", que considera a adequada para enfrentar os casos de terrorismo suicida.

Essa tática foi usada no caso de Jean Charles, o brasileiro que morreu em 22 de julho do ano passado na estação de metrô de Stockwell (sul de Londres) quando agentes da ordem atiraram contra ele por erro ao confundi-lo com um terrorista suicida.

A ACPO, que é a favor de divulgar folhetos para explicar à população em que consiste essa medida, admite que ainda está à espera da opinião da Comissão de Queixas à Polícia (IPCC, na sigla em inglês), que investigou o incidente em que Jean Charles morreu. O presidente da ACPO, Chris Fox, contudo, observa no relatório que apóia a tática, pois as forças da ordem têm o dever de proteger a vida e, em algumas ocasiões, utilizar a força.

– Muito raramente, a fim de salvar vidas, os agentes podem tirar a vida – especifica Fox.

– Enquanto esperamos os resultados da IPCC com relação à investigação sobre os tiros contra Jean Charles de Menezes, para decidir se a tática precisa ser ainda mais revisada, achamos necessário estar certos de que dispomos de táticas e que podemos utilizá-las em caso de enfrentar uma ameaça séria – acrescentou.

– Os agentes que enfrentam uma ameaça têm que identificá-la e analisá-la – segundo Fox.

O presidente da ACPO ressalta que os policiais só recorrerão à polêmica tática quando for necessária e dependendo das circunstâncias.

– Onde for absolutamente necessário, a força letal poderia ser utilizada – ressaltou Fox.

A IPCC remeteu seu relatório sobre a morte de Jean Charles em janeiro à Promotoria. O objetivo era que o órgão avaliasse se serão apresentadas acusações contra os agentes envolvidos na morte do brasileiro. Esse relatório, que a família de Jean Charles não teve acesso, é o resultado de uma investigação de seis meses sobre a morte do rapaz.

O documento da ACPO é divulgado no mesmo dia que a rede BBC deve transmitir um programa sobre a polêmica em torno da morte do rapaz de 27 anos e coincide com a visita de Estado do presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, ao Reino Unido.

Os representantes legais de Jean Charles criticaram hoje o documento da ACPO e pediram uma investigação aberta e independente sobre a polêmica tática policial. Em comunicado, as advogadas Harriet Wistrich, Gareth Pierce e Marcia Willis-Stewart apontaram que "não é uma coincidência" que a posição da polícia seja divulgada no mesmo dia em que um programa de televisão dedicará seu espaço ao caso de Jean Charles.

Até a morte do brasileiro, "ninguém sabia que a polícia deste país tinha aplicado em segredo, sem um debate democrático ou com aprovação, uma política de atirar para matar", acrescentaram na nota.

– Será melhor que ocorra, o mais rápido possível, uma investigação adequada, aberta e pública, que analise exatamente o que aconteceu, do início ao fim, com relação à morte deliberada de Jean Charles de Menezes – acrescentaram as advogadas.

Na manhã de 22 de julho, o jovem brasileiro saiu de um prédio vigiado no bairro de Tulse Hill, ao sul de Londres e pegou um ônibus até a estação de Stockwell. Lá, de acordo com a versão oficial, os policias britânicos o confundiram com um terrorista suicida e atiraram para matar.

AGÊNCIA EFE
 

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