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 | 31/01/2008 05h55min

Ruy Carlos Ostermann: Muitos relevos

O que mais faz a lua-de-mel do Fluminense é que o time de Renato Portaluppi joga com três atacantes e na terça-feira o que ainda faltava, que era Dodô jogar um pouco, se fechou numa goleada sobre um adversário acanhado, mas não importa: eram três atacantes e esse é um desejo antigo sobretudo da crônica esportiva brasileira. Gosto muito de Leandro Amaral, que joga na direita, gosto menos de Washington que joga pelo meio, e admiro Dodô, que joga do outro lado. São três jogadores diferentes, mas deles nunca se verá menos que são atacantes. O Fluminense prepara para a Libertadores e a surpresa dos três atacantes mais esta lá do que aqui.

Três atacantes acarretam três médios com capacidade de bloqueio e marcação e, claro, de assistência técnica a um ou aos três da frente. Conta bastante a ação dos laterais e em alguns momentos até mesmo de um dos centrais. O time precisa se movimentar para a frente, sem imprensar os três atacantes e sem ficar muito longe deles. A sutileza está na tarefa que por certo vai ser dada a um ou outro dos três para que não fiquem em linha e haja o que Otto Glória mais festejava no futebol: o relevo. Não é um termo das artes plásticas, é do futebol mesmo. Significa o aproveitamento de volumes maiores e menores, mas sempre móveis. O time assim é quase um círculo. Certamente é o que Renato esta fazendo. Não deve chamar muito a atenção e quando perguntado está autorizado a dizer que não. Afinal, nem tudo no futebol é simples.

Proteger
Veja-se o caso do Grêmio. Logo que Mancini incorporar Roger ao time terá de necessariamente lidar com algumas variações táticas para se proteger, proteger Roger, e proteger a principal idéia renovadora do clube nessa temporada. Roger acarreta mudanças, todas as que com talento poderá propiciar e todas que essa sua ação talentosa acarreta. Assim são os jogadores de talento: eles sempre, de algum modo, caracterizam uma exceção. Pensem em Tostão, o meu bom amigo que escreve muito bem na Folha de S.Paulo e jogou um futebol maravilhoso. Por força do seu olho caído, mas sobretudo por sua qualidade individual, ele provocou um ajuste geral na Seleção vitoriosa de 1970, que, com todo o respeito, ainda não houve outra igual. E Tostão, à frente, muitas vezes isolado, mas sempre conectado com o movimento de Jairzinho e especialmente Pelé, foi um herói como raramente se pode ter. Roger não tem um olho caído, mas tem um futebol especial. Essa será a tarefa dele, do técnico Mancini e dos seus companheiros para conciliar um novo modo de jogar coletivamente.

Adilson
Ontem à noite, tarde demais para essa coluna, o Cruzeiro de Adilson Batista estava estreando, já em regime de mata-mata, contra o Cerro Porteño no Mineirão, seria um jogo de risco porque é uma estréia internacional para um time renovado. Mas faz tempo que, modestamente, presto atenção no trabalho de Adilson. Na sua passagem pelo Grêmio o que mais se percebeu - e Glênio Reis foi uma testemunha ocular desses fatos - foi a modernidade dos procedimentos de treino, repetição e avanço coletivo. Adilson já fora jogador e discípulo de Felipão, mas não tivesse inteligência e boa capacidade de observação e não estaria merecendo elogios. A tal ponto de voltar do Japão para a Toca da Raposa.

Férias
Estou encaminhando minhas férias, já separei livros, CDs e estou fazendo exercícios para recuperar imediatamente a paciência e a preguiça. Não faço menos que isso, e nem mais. Serão dias de mar e silêncio. Fazia muito tempo que não chegava ao verão tão desejoso de ficar quieto.


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