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 | 06/01/2006 21h06min

Nahum Sirotsky não vê paz em futuro próximo no Oriente Médio

Jornalista afirmou que é muito cedo para apontar um candidato forte às eleições

O jornalista Nahum Sirotsky afirmou hoje, em entrevista online ao clicRBS, que não vê paz em um futuro próximo no Oriente Médio. Sirotsky disse ainda que é muito cedo para apontar quem será um forte candidato nas eleições para o parlamento israelense, que se realizam em março. O jornalista também ressaltou que o apoio popular ao Kadima, partido criado recentemente por Ariel Sharon, dificilmente ira de volta para a antiga legenda do primeiro-ministro, o Likud. O apoio ao Kadima representaria, antes de tudo, um voto por segurança.

As entrevistas online são realizadas por jornalistas do clicRBS, convidados especiais e pelos usuários. Todas as perguntas encaminhadas pelos usuários são recebidas por um editor do site para avaliação. As mais relevantes são publicadas.

A entrevista online com o jornalista Nahum Sirotsky foi realizada por Cleber de Souza Corrêa, do clicRBS, e monitorada por Cláudia Ioschpe.

clicRBS – Uma pesquisa feita após a internação de Sharon indica que o Kadima, partido criado pelo político há pouco tempo, continua com o mesmo apoio popular. Na sua opinião, a tendência é que isso se mantenha ou que partidos mais à direita se fortaleçam?

Nahum Sirotsky – Sem a liderança de Sharon, tenho duvidas.

Pergunta de internauta – Qual dos prováveis sucessores de Sharon pode conduzir melhor à paz na região?

Nahum Sirotsky – Isso tambem é imprevisivel: É muito cedo para se ter uma base. Paz exige dois. Não é uma questão de quem. É parte do entendimento entre os dois lados, o que acho improvável. Teremos de esperar as eleições palestinas e israelenses. Mas são tantos os obstáculos, que não vejo paz num futuro próximo.

Pergunta de internauta – Você acha que as pessoas têm noção do que está ocorrendo no Oriente Médio ou a maioria não entende?

Nahum Sirotsky – Na minha opinião, existe muita gente lendo e ouvindo os fatos fora de contexto e não ficam em condições de entender nada mais do que uma notícia.

clicRBS – Como é um partido recente e sem um programa consolidado, o Kadima deve continuar existindo ou o fato de estar muito ligado à visão política de Sharon pode fazê-lo desaparecer?

Nahum Sirotsky – Creio que os votos de Sharon no Kadima são por um entendimento de segurança. Não creio que voltem ao Likud. Isso vai depender da qualidade do substituto. O Kadima não vai desaparecer, pois existe a falta de um centro político. No entanto, a legenda pode conseguir menos parlamentares com o afastamento de Sharon.

Pergunta de internauta – Com a morte de Sharon, é possível que os israelenses queiram voltar a ocupar os assentamentos na Faixa de Gaza?

Nahum Sirotsky – Sharon ainda não morreu. A maioria favoreceu a retirada e a minoria quis ficar e permanece no extremismo de nada cedade. A questão que interessa são os próximos passos, o que os palestinos podem garantir de tranqüilidade, pois os israelenses já vivem em guerras desde 1948 e querem um basta.

Pergunta de internauta – Alguem, na imprensa, leva em consideração as escrituras sagradas?

Nahum Sirotsky – A maioria dos jornalistas é de esquerda ou centro-esquerda. Mas o judeu acredita que o que a Bíblia narra aconteceu, os dez mandamentos, etc. No entanto, a maioria dos colegas jornalistas é secular, como somos no Brasil.

clicRBS – O Kadima tem algum nome forte para concorrer às eleições de março?

Nahum Sirotsky – Nenhum nome no país é forte como Sharon. Mas o Kadima tem gente racional que entende que urge a conciliação. Não vejo, no entanto, nenhum grande nome ainda.

Pergunta de internauta – A imagem que tínhamos de Sharon era de um homem de linha dura. O que fez com que ele mudasse?

Nahum Sirotsky – Creio, é um palpite, que ele entendeu que a segurança de Israel necessita da solução do conflito com os palestinos e do estabelecimento de relações normais com o mundo árabe.

clicRBS – No Jornal da Globo de ontem, um professor de História da Unicamp falou em um possível "sharonismo sem Sharon". Caso o Kadima supere os outros partidos em número de cadeiras no parlamento israelense, a tendência é de que o sharonismo permaneça?

Nahum Sirotsky – Respeito professores, mas minha experiência jornalística me diz que poucas previsões feitas se tornam realidade. Não existe sharonismo. Pode, sim, existir o Kadima com o seu programa, que ainda não é conhecido.

clicRBS –  A eleição do rival de Sharon, no Likud, Benjamin Netanyahu é uma possibilidade concreta? Nesse caso, como os palestinos reagiriam, dado o extremismo do político israelense?

Nahum Sirotsky – Não vejo no momento chance para Netanyahu, a cuja política econômica liberal está sendo atribuída a existência de miséria e desemprego. Ele é bom de papo e de televisão, mas não deve ter eleitorado para ganhar.

clicRBS –  Em 2000, uma visita de Sharon a uma mesquita gerou uma onda de violência palestina. Para alguns, a intenção do político era mesmo a de criar um ambiente hostil para facilitar a sua ascensão. Por outro lado, sob ordem de Sharon, colonos e tropas israelenses foram retirados da Faixa de Gaza no ano passado, o que facilitaria a criação de um Estado Palestino. Afinal, o primeiro-ministro era um homem de paz ou de guerra?

Nahum Sirotsky – Aprendi que político que vira estadista passa a se preocupar com soluções possíveis no prazo. Creio que Sharon descobriu que, sem entendimento com os palestinos, a guerra não teria fim. Não seria um bom futuro para Israel, que renasceu com a esperança de permanecer na região para sempre.

 
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