Os adversários de Saddam Hussein sonhavam com a captura do ditador, mas provavelmente jamais imaginaram que o presidente deposto do Iraque não apresentaria resistência à prisão. O temido déspota estava abatido, sujo com uma longa barba grisalha.

Em meio aos ratos, em um buraco com dois metros profundidade, ele não reagiu quando foi encontrado no sábado, dia 13, às 20h30min (15h30min  no horário de Brasília), por soldados norte-americanos da 4ª Divisão do Exército na cidade de Ad-Dawar, a cerca de 15 quilômetros ao sul de Tikrit. A confirmação da detenção ocorreu apenas no domingo, dia 14, em entrevista coletiva concedida pelo administrador norte-americano do Iraque, Paul Bremer.

– Nós o pegamos – disse Bremer. – É um grande dia na história do Iraque. Durante décadas, centenas de milhares de pessoas sofreram nas mãos deste homem cruel. Esses dias já ficaram para trás. É tempo de olhar para frente, um futuro cheio de esperança.

Durante a entrevista, as forças norte-americanas mostraram um vídeo da captura de Saddam, em que ele aparece sendo submetido a um exame médico.

Além da companhia dos roedores no sótão da pequena cabana de sapê, foram achados duas pistolas e dois rifles AK-47 e US$ 750 mil em dinheiro. Saddam era o número um – "ás de espadas" – na lista de iraquianos procurados e Washington prometeu recompensa de US$ 25 milhões por sua cabeça. Um informante recebeu US$ 30 milhões e refúgio nos Estados Unidos por entregar Uday e Qusay, filhos do ditador mortos por forças norte-americanas em juho.

Em seu pronunciamento, o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, prometeu um julgamento duro e sem clemência para o ditador iraquiano e disse que ele não poderá escapar da condenação por todos os crimes que cometeu.

– Saddam está tendo que encarar a justiça que negou o tempo todo. O Iraque será livre e isso marca o fim da estrada do ditador Saddam Hussein – disse Bush.

O líder do Congresso Nacional Iraquiano, Ahmad Chalabi, também declarou que Saddam será posto em julgamento. O Tribunal Penal iraquiano encarregado dos crimes contra a humanidade praticados pelo regime do ex-presidente e foi criado em 10 de dezembro pelo Conselho de Governo provisório.

De acordo com o general norte-americano Raymond Odierno, chefe da 4ª Divisão de Infantaria, responsável pela captura de Saddam, os soldados chegaram à fazenda em que o ditador estava escondido graças a informações de um membro de uma família próxima do ex-presidente do Iraque.

O general recordou que a perseguição a Saddam começou há oito meses e que, desde então, muita informação sobre o ditador havia sido reunida. Odierno revelou que as informações obtidas no sábado foram fundamentais para a captura do ditador, já que Saddam tinha "uns 20 ou 30" esconderijos semelhantes àquele em que foi encontrado no sábado "por todo o país, e ia rodando entre eles".

Saddam, o ex-líder de 66 anos de idade, estava foragido desde que forças dos EUA tomaram Bagdá, em 9 de abril. Soldados norte-americanos tiraram fios de barba e levaram para testes de DNA. Os filhos de Saddam Uday e Qusay também foram identificados após comparações com exemplares de DNA da família.

Quatro membros do governo provisório do Iraque foram levados ao encontro de Saddam Hussein para confirmar sua identidade. Sob custódia norte-americana, o ex-ditador demonstrou não ter nenhum arrependimento de seus atos após três décadas governando o país com mão de aço.

– Ele parecia um tanto cansado, mas por vezes foi desafiador e não (se mostrou) arrependido. Ele tentou justificar seus crimes de alguma forma e disse que era um governante firme, mas justo – disse Adnan Pachachi, que foi ministro das Relações Exteriores após o Partido Baath de Saddam tomar o poder.

A captura do ex-ditador Saddam Hussein foi comemorada em vários pontos do Iraque. Em Bagdá, estações de rádio tocaram músicas de comemoração e dezenas eram vistos nas ruas gritando. No norte, os curdos – minoria étnica com ambições separatistas que foi um dos principais alvos de Saddam – saíram às ruas às centenas na cidade de Kirkuk, para celebrar. No Sul, a a confirmação da captura informação também foi comemorada na cidades de Nasiriya e Basra, a segunda maior cidade do Iraque

A prisão de Saddam além de representar um alívio para os perseguidos pelo regime ditatorial no Iraque, deve modificar dramaticamente a corrida presidencial de 2004 nos Estados Unidos, complicando a vida dos adversários democratas do presidente George W. Bush. Com a economia em recuperação e agora com o ex-ditador iraquiano na cadeia, os nove pré-candidatos democratas precisam novamente afiar seus argumentos para desafiar Bush em novembro do próximo ano. As informações são da agência Reuters.