| 29/11/2008 03h34min
Em operação denominada Contra-Ataque, cerca de cem agentes do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) cumpriram ontem nove mandados de prisão preventiva e 17 de busca e apreensão a integrantes da Geral do Grêmio em Porto Alegre, Canoas e Esteio. Três pessoas foram presas. Seis não puderam ser encontradas e são consideradas foragidas.
As prisões da Polícia Civil ocorrem 12 dias depois de integrantes da Geral Ataque Surpresa (G.A.S.), facção da Geral do Grêmio, entrarem em confronto com a Máfia Tricolor após o jogo Grêmio x Coritiba, nas imediações do Estádio Olímpico. Na briga, Lucas Ballardin, 19 anos, foi baleado na cabeça e Marçal Santos, 30 anos, no abdômen.
De acordo com o delegado Bolívar Llantada, da Delegacia de Homicídios, eles são jovens, universitários e de classe média e alta. A Polícia tem a informação de que parte dos procurados viajou para Minas Gerais, onde o Grêmio enfrenta o Ipatinga, amanhã.
— Nós
pretendíamos fazer um trabalho de garimpagem,
meticuloso, e tirar de circulação na quinta-feira que vem todo esse pessoal. Só que nós recebemos uma denúncia de que haveria conflito amanhã (hoje) no Gre-Nal de juvenis, no Olímpico. Por isso, antecipamos a nossa ação — explicou o Bolívar Llantada.
À tarde, Bolívar encaminhou dois ofícios – um para a direção do Grêmio, outro para a Secretaria da Segurança Pública – solicitando reforço no policiamento durante o Gre-Nal.
Responsáveis pelos disparos serão indiciados
O delegado tem 10 dias para finalizar o inquérito. Ele adianta que os presos (Rodrigo Godoy Bandaz, Bruno Ortiz Porto e Eduardo Adriano Villodre) e os foragidos (Marcos Fabrício Pinent Sampaio de Oliveira, Rodrigo Marques Rysdyk, Vagner Rodrigo Roza da Silva, Diego da Costa Oliveira, Bruno Pisoni Garcia e Mauro Tiago Garcia de Barros) devem ser indiciados por formação de quadrilha e racismo.
Os responsáveis pelos disparos ainda serão indiciados por
tentativa de homicídio. Bolívar não descarta pedir a
extinção das torcidas ao Ministério Público, caso fique comprovado que o envolvimento nas badernas foram responsabilidade das torcidas, e não de um pequeno grupo.
Foram apreendidos ainda nove computadores e dois laptops. A polícia vai periciar os computadores para saber se eles contêm material racista – uma das motivações do conflito seria uma bandeira com o ídolo gremista negro Everaldo.
Às 6h42min de ontem, aos gritos de “carteiro, carteiro”, policiais do Deic invadiram o condomínio onde mora o homem apontado como autor dos disparos que feriram Lucas e Marçal, no bairro Rubem Berta, em Porto Alegre. Na porta do apartamento, a falta de um número atrasou a entrada dos policiais.
Após a confirmação de que Diego da Costa Oliveira, conhecido como Feijão, morava no apartamento, os policiais invadiram. Ninguém foi encontrado. Camisetas, toucas, mantas e materiais esportivos do Grêmio e do Inter foram apreendidos.
A suspeita da polícia é
de que os produtos colorados tenham sido
furtados.
Os “trapos” (como são chamadas roupas, bandeiras e faixas do time adversário) são considerados troféus. Entre os detidos está o conselheiro do Grêmio Bruno Ortiz Porto, 23 anos.
Na casa dele foram encontrados uma réplica de uma pistola, uma touca do Bin Laden, um computador e material esportivo do Grêmio e do Inter.
Na residência de Marcos Fabrício Pinent Sampaio de Oliveira, o Sagati, havia um fuzil calibre 7.62 e um revólver calibre 44. Sagati não foi localizado.
Os presos
1) RODRIGO GODOY BANDAZ (GODOY)
É da Geral do Grêmio e da Geral Ataque Surpresa (G.A.S.). Apontado por testemunhas como um dos que executavam as ações.
2) BRUNO ORTIZ PORTO (ORTIZ)
Conselheiro do Grêmio. Ele teria sido visto, armado, na saída do jogo Grêmio x Coritiba, na Avenida José de Alencar,
dia 16. Também seria um dos líderes do protesto, em 4 de novembro, de 20 torcedores da Geral que quase invadiram o treino do
Grêmio. Suspeito de participar da depredação do relógio do centenário no Beira-Rio.
3) EDUARDO ADRIANO VILLODRE (DUDUCA)
Integra a Geral do Grêmio e a G.A.S. Apontado como apoiador do grupo.
* As prisões preventivas foram solicitadas pela Delegacia de Homicídios e decretadas pela juíza Marta Borges Ortiz, da 2ª Vara do Júri. .
Entenda o caso
— Descontentes com os rumos da Geral, cerca de 300 integrantes se uniram à Máfia Tricolor. O suposto pagamento de salário para seis líderes da torcida seria um dos motivos.
— Ameaçados, muitos dissidentes retornaram à Geral. Quem permaneceu passou a sofrer ameaças.
— O racha da Geral atingiu o ápice na eleição presidencial do Grêmio. A Geral apoiou Paulo Odone e seu candidato, Antônio Vicente Martins. Os dissidentes votaram em Duda Kroeff (que acabou eleito). As ameaças contra dissidentes
aumentaram.
— Durante Grêmio x Coritiba, a Máfia exibiu bandeira do ex-jogador negro Everaldo,
o que teria desgostado membros da GAS por supostas motivações racistas.
— Outra versão é que na manhã de domingo, dia 16, torcedores da Geral e do Coritiba teriam almoçado juntos. Perto do Olímpico, os paranaenses teriam sido assaltados por integrantes da Máfia.
— Após o jogo, os integrantes da Geral resolveram se vingar e partiram para a sede da Máfia Tricolor
— Nas imediações do Olímpico, um homem sacou um revólver e atirou para cima. Outro tomou-lhe a arma e atirou na cabeça de Lucas Balardin, 19 anos, e no abdômen de Marçal Santos, 30.
O QUE É A G.A.S.
Alguns torcedores dizem que a facção começou como brincadeira de integrantes da Geral, sem caráter racista. Outros afirmam que foi criada para abrigar gremistas que não admitiam compartilhar a mesma arquibancada com negros, mulheres, homossexuais e crianças.
Contraponto
Ronaldo Farina, advogado criminalista de Bruno Ortiz Porto:
Aparticipação do Bruno na
tentativa de homicídio não existe. No momento dos disparos não estava nas cercanias do Olímpico. Estava na companhia da namorada. Temos provas. Vamos buscar câmeras de vigilância que mostram onde ele estava no horário.
Estamos estudando pedir a liberação de Bruno.
Os advogados de Rodrigo Godoy Bandaz e Eduardo Adriano Villodre não foram encontrados pela reportagem.
Delegado Bolívar Llantada comandou operação Contra-Ataque, que apreendeu armas de fogo e computadores
Foto:
Eduardo Lima, Especial
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