| 12/11/2009 09h40min
O blecaute que deixou 18 Estados do país às escuras apagou também um dos trunfos da campanha presidencial da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. Concebida pela ministra, a gestão do atual modelo energético era considerada um diferencial na comparação entre o governo Lula e o governo Fernando Henrique Cardoso.
Há duas semanas, em entrevista ao programa de rádio Bom Dia, Ministro, Dilma tripudiou sobre o apagão ocorrido em 2001, atribuindo o racionamento da época à falta de investimentos estatais.
– Nós também temos uma outra certeza: não vai ter apagão. É que nós hoje voltamos a fazer planejamento – asseverou a ministra.
Provocada, a oposição agora pretende ir à forra. Dilma é o alvo. Em manobra orquestrada por DEM e PSDB, ela será convidada a dar explicações na Câmara e no Senado. Para fustigar o governo, também devem ser chamados o ministro Edison Lobão e seu antecessor, Silas Rondeau.
– Falta investimento. Falta manutenção na quantidade e na qualidade – cutucou o governador de São Paulo, José Serra.
Por precaução, o governo começa a blindar Dilma, evitando prejuízos eleitorais. Ontem pela manhã, ela despachou em casa e só à tarde foi ao gabinete. Em audiência com o governador de Santa Catarina, Luiz Henrique da Silveira, a ministra fez um singelo comentário sobre o apagão.
– Quem diria, né, num sistema tão robusto... – lamentou Dilma.
Durante todo o dia, a ministra evitou contatos com a imprensa. Sequer participou da coletiva com a cúpula do setor energético para explicar as razões do blecaute. Na Casa Civil, jornalistas eram orientados a buscar informações sobre a pane no sistema junto ao Ministério das Minas e Energia. Questionado, o presidente Lula recorreu a mais uma defesa ufanista de seu governo:
– O que fizemos nesses últimos sete anos equivale a 30% do que foi feito em 123 anos.
Quando 60 milhões de brasileiros sucumbiram à escuridão, às 22h13min dessa terça, dia 10, Lula despachava com Lobão. O ministro foi avisado por telefone, já que as lâmpadas do gabinete presidencial sequer piscaram. Lula pediu providências imediatas, quis saber o que estava acontecendo em Itaipu e mandou Lobão prestar esclarecimentos à imprensa. Na madrugada, o presidente foi dormir.
Não deu nem tempo para comemorar a ascensão de Dilma na pesquisa Vox Populi, divulgada horas antes e que também registrava uma queda de José Serra.
Pela manhã, diante da inevitável ofensiva da oposição, o Planalto concebeu um discurso único, a ser repetido por ministros e lideranças no Congresso. Era preciso reduzir a pane a uma questão climática ou técnica, tirando do governo a responsabilidade sobre o problema. Líder do governo na Câmara, Henrique Fontana (PT-RS) foi um dos primeiros a esboçar a reação.
– Se a oposição entrar nessa do apagão, vai demonstrar total falta de equilíbrio e desespero. Não pode comparar um acidente com falta de planejamento, como ocorreu no governo do PSDB – esquivou-se Fontana.
A retórica diversionista do governo busca evitar a eclosão de uma crise política. Fica latente, contudo, a total incapacidade para explicar à população o que provocou o blecaute. Enquanto o Ministério das Minas e Energia evocava “condições meteorológicas adversas”, o ministro da Justiça, Tarso Genro, resumiu o desabastecimento a um “microproblema”. Na cúpula do PT, o assunto foi tratado com desdém.
– Deve ter sido um fio desencapado, uma rotação irregular da Terra. O assunto é coisa do passado – desconversa um alto executivo do partido
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