| 20/08/2009 19h
A revisão dos índices de produtividade no campo deve ser anunciada em duas semanas pelo governo federal. Mas o anúncio das mudanças mobiliza os produtores rurais de todo o país. Eles aguardam ansiosos a divulgação dos números que podem mudar a estrutura de produção nas fazendas.
O produtor Armando Chaves planta arroz e soja e cria gado no Rio Grande do Sul. Ele é descendente de espanhóis e a família trabalha no campo há mais de cem anos. Esta semana, o produtor ficou surpreso com a notícia dos novos índices de produtividade que vão ser anunciados pelo governo.
– De uma hora para outra, por pressão do MST, resolveram fazer o aumento destes índices mais rapidamente do que estavam esperando. Isso sempre foi acompanhado de uma discussão. Eu acho que merece um estudo mais adequado, muito mais técnico, para que não se faça injustiças.
De acordo com o Ministério do Desenvolvimento Agrário, em diversas regiões do país, os índices de produtividade devem permanecer os mesmos. No caso da soja, por exemplo, 66% dos municípios vão manter os índices atuais.
Mudanças devem ocorrer na soja plantada em Sorriso, no Mato Grosso. Hoje, a lavoura precisa ter 1,2 mil quilos por hectare para ser considerada produtiva. O novo índice eleva o volume para no mínimo de 2,4 mil. Mas na safra 2006/2007, o rendimento ficou bem acima disso.
O algodão plantado em São Desidério, na Bahia, precisa render 300 quilos pelo índice em vigor. A nova proposta dobra este número. Há dois anos, o rendimento chegou a quase quatro mil quilos.
Os parreirais de Bento Gonçalves, na serra gaúcha, precisam ter 12 mil quilos de uva para ser considerados produtivos. O índice deve subir para 13,3 mil quilos por hectare, dois mil quilos a menos do que a produção da safra 2006/2007.
– Não existe país no mundo em que se discuta e se imponha índices de produtividade. E leia-se países que não tem mais um hectare para crescer, quando nós temos mais de cem milhões de hectares para crescermos horizontalmente – diz o vice-presidente da Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Carlos Sperotto.
– Queríamos um pouco mais de respeito. Gostaríamos de ser um pouco mais ouvidos. Logicamente não podemos criar aí um turbilhão de discussão porque até o momento este tema foi levantado unilateralmente pelo ministro da reforma agrária – acrescenta.
A eficiência da exploração pecuária é outro ponto polêmico do projeto. Em alguns Estados do norte do país, o índice de lotação de animais proposto é três vezes maior do que o exigido hoje.
– No sul do país, por exemplo, com uma fazenda com mil hectares e que tivesse 800 cabeças dentro do seu sistema de produção, é produtiva. A nova proposta diz que para ela se tornar produtiva, agora ela precisa ter 950. Não é por meio de uma mudança de natureza legal que se faz uma mudança de natureza conceitual, produtiva e econômica. Ter mais animais não significa que este ambiente seja sustentável, não significa que a família que explora esta atividade terá um resultado econômico satisfatório, depende de uma série de outros fatores – explica o pesquisador da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Julio Barcellos.
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