| 22/05/2009 12h15min
A Consultoria Legislativa da Câmara lançou nesta semana um novo número do boletim Análise de Conjuntura, com informações sobre o desempenho recente da safra agrícola. É o 12º boletim publicado pelos consultores que estão assessorando as cinco comissões especiais formadas por deputados para analisar os efeitos da crise financeira mundial no Brasil.
A análise sobre o setor agrícola relaciona a redução da safra prevista com um eventual aumento de preços. Os principais questionamentos sobre o sucesso da comercialização da safra giram em torno de questões de crédito e pagamento: Agroindústrias e tradings exportadoras dispõem de recursos suficientes para a comercialização da produção e ainda financiar aos produtores parte da implantação da próxima safra? Os prazos para o pagamento pelos produtos recebidos dos produtores serão os tradicionais? Ocorrerão atrasos? O governo terá fôlego para suprir eventual recuo desses agentes no financiamento ao produtor? Essas e outras perguntas são fontes de incertezas para a tomada de decisão acerca do que, quanto e como produzir na próxima safra agrícola.
Confira a íntegra do boletim sobre a conjuntura agrícola.
Safra de 2009 cairá para 136 milhões de toneladas: a redução será compensada por melhores preços?
O Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA) do IBGE anunciou que a estimativa da safra de grão para 2009 será de 136 milhões de toneladas, 10 milhões de toneladas a menos do que a de 2008. Será produzido mais arroz (+6,2%) e cana de açúcar (+3,5%); e menos soja (-3,9%) e milho (-13,2%). A queda decorre de estiagens e da adoção de um menor padrão tecnológico pelos produtores, consequência da restrição ao crédito e do maior preço de insumos.
A safra de 2009 e o preço das commodities
Em maio, o IBGE divulgou novas projeções relativas à safra de 2009. A estimativa é de que a produção nacional de cereais, leguminosas e oleaginosas seja de 136 milhões de toneladas, patamar 6,8% inferior ao verificado em 2008, apesar do acréscimo marginal de 0,6% na área cultivada. Duas são as possíveis explicações para a queda na produção: estiagens localizadas, verificadas especialmente na região Sul do país, e adoção de menor padrão tecnológico pelos produtores.
Dados da Associação Nacional para Difusão de Adubos – ANDA indicam um recuo, em 2008, de 8,8% no consumo de fertilizantes. Com menor padrão tecnológico, as lavouras perdem produtividade e resistem menos às intempéries climáticas. O elevado preço de alguns insumos em 2008 e a forte retração no crédito que se seguiu à eclosão da crise financeira global contribuíram para a adoção de menor padrão tecnológico.
O índice de preços internacionais de commodities agrícolas (grãos, oleaginosas e frutas), apurado pelo IPEA, atingiu o pico histórico de 282,8 pontos em julho de 2008 (base 100 = janeiro de 2002). Entre setembro, início do agravamento da crise, e dezembro do ano passado, o índice despencou de 237,1 para 177,7 pontos. Em 2009, esse indicador vem se recuperando, sendo que o último número divulgado pelo IPEA – 187,8 pontos em fevereiro de 2009 – ainda não captura a recente melhoria dos preços internacionais das commodities agrícolas.
Essa melhora nos preços ainda não pode ser vista como uma tendência. A dúvida reside em saber se as oscilações positivas deram-se em decorrência de um movimento consistente da demanda ou de necessidades pontuais, como recomposição de estoques consumidos nos primeiros meses pós-crise. Estudo divulgado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento aponta para este ano um recuo de 3,2% na receita bruta a ser auferida pelos produtores rurais com os 20 principais produtos agrícolas, se comparados os preços médios de abril com os relativos ao ano de 2008. Para 2009, as projeções da pesquisa Focus são de crescimento zero para o PIB agropecuário.
No momento, as atenções do campo voltam-se para duas questões: a comercialização da safra de verão 2008/2009, cuja colheita encontra-se em fase de conclusão; e o financiamento para a implantação das safras de inverno e de verão, esta referente ao período agrícola 2009/2010.
Agroindústrias e tradings exportadoras dispõem de recursos suficientes para a comercialização da produção e ainda financiar aos produtores parte da implantação da próxima safra? Os prazos para o pagamento pelos produtos recebidos dos produtores serão os tradicionais? Ocorrerão atrasos? O governo terá fôlego para suprir eventual recuo desses agentes no financiamento ao produtor? Essas e outras perguntas são fontes de incertezas para a tomada de decisão acerca do que, quanto e como produzir na próxima safra agrícola.
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