| 15/04/2008 22h53min
O delegado Luiz Fernando Corrêa garantiu nesta terça-feira que a Polícia Federal (PF), da qual é diretor-geral, vai até o fim no inquérito do dossiê sobre gastos com cartões na gestão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
— A Polícia Federal não depende de garantia de ninguém. Ela (PF) quando instaura um inquérito, delimita o que vai apurar e vai até o fim na investigação. Isso não depende de garantia de ninguém, nem do chefe da PF, nem de ninguém — disse ele.
O inquérito foi aberto há nove dias. Está sob presidência do delegado Sérgio Menezes, da Superintendência Regional da PF em Brasília.
Corrêa afirmou que a PF não se submeterá à ingerência política do governo:
— Pode ter certeza que não.
O diretor-geral não disse, porém, se a PF está investigando apenas o vazamento ou também a construção do dossiê e quem o fez. Segundo ele, o delegado Menezes tem independência para tocar o procedimento:
— Em nome da autonomia dele (Menezes), o que ele pensa e o que
ele vai concluir, ele só tem uma certeza: a instituição vai garantir que ele execute o seu trabalho.
CPI dos Grampos
Corrêa depôs durante quase quatro horas à CPI dos Grampos, na Câmara. O delegado revelou que desde 2007 a PF executou 48,2 mil interceptações telefônicas, com autorização judicial, no país. Estão acumulados nos fóruns federais 210 novos pedidos de grampo.
Ao final da exposição do diretor-geral, o deputado Raul Jungmann (PSDB-PE) reclamou que fez duas representações à PF, em 28 de março e 4 de abril, por meios das quais pediu abertura de inquérito para investigar divulgação de dados relativos aos cartões. Mas não obteve resposta, protestou.
Jungmann questionou o delegado sobre a existência de suposta rede de dossiês:
— O próprio ministro (Tarso Genro) disse que dossiê não é crime, vazar é crime, o senhor concorda com isso?
— O ministro responde
pelo que ele fala, a Polícia Federal fala só através de inquérito — retrucou Luiz
Fernando Corrêa.
O deputado quis saber "qual a visão" do diretor sobre a versão governista de que a prática de dossiês não é crime, mas apenas banco de dados.
— A minha visão, em razão do clamor em torno do inquérito, não vou lhe responder aqui — disse Corrêa.
— O senhor há de compreender que é razoável a minha postura. É uma postura ética, inclusive em respeito a um colega meu (delegado Sérgio Menezes) — completou.
Jungmann não escondeu sua irritação, depois da audiência. Segundo ele, o relato do chefe da PF "satisfez pela não resposta".
— Ele não tem a mesma percepção do governo no que diz respeito a dossiê — anotou o deputado.
— Dossiê é crime sim, crime de responsabilidade, de abuso de autoridade pela manipulação de dados sem obediência à lei. Nesse sentido, o que foi produtivo no depoimento (de Corrêa) foi exatamente aquilo que foi inconclusivo — completou.
Para
Jungmann, o Brasil vive à sombra de "um sistema de dossiês". Ele disse que o governo
quer "chantagear, intimidar, coagir a oposição":
— Os dossiês estão sendo produzidos não apenas na Casa Civil, mas em outros ministérios, o que é um degrau a mais rumo ao Estado policial. Nas duas vezes em que representei à PF não tive qualquer resposta. O diretor-geral dizia que não abria inquérito sob alegação de que não foi provocado. Mas eu provoquei duas vezes a polícia. Quando se abre o inquérito ele segue a linha de defesa do governo, ou seja, vamos investigar o vazamento e não o dossiê.
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