| 23/07/2009 09h48min
Após a divulgação de grampos da Polícia Federal que indicariam que José Sarney negociou a contratação de Henrique Dias Bernardes, namorado de sua neta, a Diretoria-Geral da Casa informou que o servidor será demitido.
Bernardes é um dos 218 funcionários identificados pela comissão que foi criada por Sarney para analisar anulação dos atos secretos.
A expectativa é de que ele seja exonerado com os outros servidores em até 20 dias, quando termina o prazo para que a comissão conclua os trabalhos e apresente um relatório com recomendações sobre a revogação das decisões mantidas em sigilo nos últimos 14 anos.
Bernardes foi nomeado no dia 10 de abril de 2008 para trabalhar no órgão Central de Coordenação e Execução, mas, segundo funcionários do Senado, ele estaria lotado em outro setor. De acordo com a Diretoria-Geral do Senado, os servidores contratados por ato secreto não podem ser demitidos ainda porque existem dúvidas jurídicas.
O
Senado não sabe como proceder, por exemplo, quando o
servidor já estiver aposentado ou quando a contratação tiver sido feita por ato secreto, mas tenha sido publicada posteriormente no Boletim Administrativo de Pessoal.
Confira trechos da conversa:
- Maria Beatriz Sarney: Pai, deixa eu te perguntar uma coisa. Meu irmão saiu do Senado, né? Vai sair a exoneração dele amanhã. Aí você acha que dá pro Henrique entrar na vaga dele ou não?
- Fernando Sarney: Dá sim, mas amanhã de manhã cedo tu tem que me ligar, pra eu falar com o Agaciel.
Fernando Sarney diz que acionou o então diretor-geral do Senado Agaciel Maia.
- Maria Beatriz Sarney: Pai?
- Fernando Sarney: E aí, meu bem? Já falei com o Agaciel. Peça ao Bernardo pra procurar o Agaciel e eu vou falar com o papai ou eu mesmo com o Garibaldi amanhã aí em Brasília, quando eu for, amanhã ou depois, pessoalmente, que é o único jeito de resolver. E aí se for o caso, pra ele já levar tudo do Henrique,
já dizer: "a pessoa que o Fernando quer botar é essa aqui".
Em
outra conversa, Beatriz conta que ligou para o avô.
- Maria Beatriz Sarney: Falei com o vovô, né?
- Fernando Sarney: Sim.
- Maria Beatriz Sarney: Aí ele falou assim: "ah, mas você tinha que ter falado antes, pra eu já agilizar".
Em outro trecho, Fernando Sarney conversa com um assessor de José Sarney sobre o pedido.
- Fernando Sarney: O irmão da Bia, quando papai era presidente do Senado, eu arrumei emprego pra ele lá.
- Assessor: sei.
- Fernando Sarney: Ele agora está saindo, eu liguei pro Agaciel pra ver a possibilidade de botar o namorado da Bia lá. Porque me ajuda, viu, é uma forma e tal de dar uma força para mim. E o irmão tá saindo, é uma vaga que podia ser nossa.
O senador diz ao filho que vai ajudar.
- José Sarney: Olha, você não tinha me falado o negócio da Bia.
- Fernando Sarney: Ela falou comigo
sexta-feira.
- José Sarney: Mas ele (Bernardo) entrou logo com o pedido de demissão, agora pra...
- Fernando
Sarney: Eu falei com o Agaciel.
- José Sarney: Já falou com o Agaciel?
- Fernando Sarney: Falei, falei. Pedi pro Agaciel segurar com ele. Agaciel tá com os dois currículos na mão dele, tá com tudo lá.
- José Sarney: Tá bom. Eu vou falar com ele.
- Fernando Sarney: Pra prevenir. É só isso aí, o que eu queria. Que desse uma palavrinha com ele.
O presidente do Senado, na época, era Garibaldi Alves (PMDB-RN). A nomeação foi confirmada por ato secreto. Garibaldi disse que não ficou sabendo da negociação:
— Não tinha conhecimento da nomeação. Tenho conhecimento, agora, que essa nomeação não foi assinada por mim, foi assinada pelo diretor-geral e não foi publicada.
Em outra conversa gravada pela Polícia Federal, João Fernando, também filho de Fernando Sarney, conta em tom de deboche que foi chamado ao gabinete do senador Epitácio Cafeteira. Ele era funcionário, mas não teria o
costume de comparecer.
- João Fernando: Fui lá achando que era alguma coisa
importante. Aí cheguei lá e ele falou: "Não, pô, eu só queria te ver. Teu pai perguntou se você tava trabalhando e eu tinha que te ver pra falar pra ele”.
- Fernando Sarney: Ah, então tá certo. Ele tá tomando conta de ti aí...
Senadores de oposição consideraram grave o que as gravações revelaram e voltaram a falar em afastamento do presidente Sarney.
O presidente José Sarney não comentou as novas denúncias. Assessores disseram que ele está incomunicável em uma ilha no Maranhão e só deve voltar à Brasília em agosto. Na nota, o advogado da família Sarney afirma que as conversas não revelam a prática de qualquer ilícito. As informações são do Bom Dia Brasil.