| 07/07/2009 19h07min
Cadeia produtiva da carne suína está se mobilizando para evitar que os veículos de comunicação continuem denominando a gripe A (H1N1) como gripe suína. A nomenclatura tem prejudicado a economia do setor e, principalmente os produtores, que já vinham sofrendo desde o início da crise econômica. Há pouco mais de dois meses, a Organização Mundial da Saúde mudou o nome da doença para gripe A.
Os problemas de queda na demanda nacional e internacional, aumento nos custos de produção e baixa dos preços enfrentados pelos suinocultores persistem. Os produtores dizem que um dos motivos para esta situação demorar a voltar à normalidade é a insistência por parte de alguns veículos de comunicação em continuar chamando a gripe A de gripe suína. Segundo Mateus Neto, gerente de uma propriedade de Boituva, no interior paulista, apesar de toda a propaganda, muita gente ainda associa o consumo da carne com a doença, motivo que faz com que as vendas continuem despencando.
— Quando a pessoa escuta na mídia gripe suína, acredita que essa gripe vai partir do animal, fazendo com que praticamente não haja aceitação da carne suína. E isso é lógico, diminui o consumo, o que faz com que os preços fiquem mais baixos. Assim, os animais acabam parados em granja. O que ocorre é que toda uma estrutura de suínos acaba parando — diz Neto.
Os animais estão prontos para o abate. Por causa da competição do mercado, eles não podem ficar aqui por muito tempo. Assim, os produtores trabalham no prejuízo, com preços lá embaixo. Esta, que tradicionalmente é uma época de boa comercialização, devido ao clima frio, virou sinônimo de perdas. Só em uma loja de São Paulo, tanto as vendas quanto os preços dos suínos caíram, em média, 40% em relação ao mesmo período do ano passado.
As lojas que vendem carne suína ainda sentem o reflexo de baixa nas vendas e nos preços. Prova disso é que no mês passado, algumas tiveram até que colocar os cortes de suínos em promoção. E as vendedoras também confirmam que continuar intitulando a gripe A como gripe suína atrapalha muito o comércio. Tanto é que tradicionais consumidores de suínos passaram agora a optar pelos bovinos.
— Mesmo eles mudando o nome, há pessoas que ainda acreditam que a gripe é causada pelo consumo da carne suína e, na verdade, isso não ocorre — comenta a vendedora Cícera Vedeschi.
Segundo o presidente da Associação Paulista dos Criadores de Suínos (APCS), Valdomiro Ferreira, desde que os primeiros casos da nova gripe foram divulgados, cerca de 25% da produção nacional deixaram de ser consumidos por conta da utilização da palavra "suína". Vincular o nome "suíno" a doença, tem prejudicado tanto o setor que a cadeia produtiva resolveu a partir de agora agir de maneira mais incisiva. Ferreira diz que enviou um documento para a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel).
— Pedindo que a Anatel faça uma avaliação e comunique as suas associadas, jornais, revistas, televisão e todos os outros meios de comunicação para que mudem o comportamento e utilizem apenas o nome da Organização Mundial da Saúde, para que não haja sub nomes e prejudique alguns setores — diz o presidente da APCS.
De qualquer forma, quem trabalha no setor lembra que se toda a mídia começar a adotar o nome correto a partir de hoje, o resultado de reaquecimento de vendas só deve começar a ser sentido daqui a dois ou três meses.
— Ninguém muda uma informação da noite para o dia. Então, vai ter um período ainda que o setor vai continuar e o maior prejudicado são os produtores, a cadeia em si do suíno — conclui o gerente de propriedade Mateus Neto.
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