| 10/06/2009 04h30min
Com receio de uma devassa nas contas da Petrobras, o Planalto concebeu uma manobra que paralisa por tempo indeterminado as investigações no Congresso.
Ao abandonar ontem a sessão da CPI das ONGs, a base governista decidiu também impedir a instalação da comissão que pretende apurar supostas irregularidades na maior estatal brasileira, agendada para hoje.
Nas próximas semanas, os senadores governistas devem negar quórum às duas comissões. A postura impede a realização de qualquer trabalho formal. O pretexto para engessar as apurações é a resistência da oposição em devolver à base aliada o cargo de relator da CPI das ONGs.
Sem avanços há dois anos, a CPI das ONGs não tinha sequer relator depois que o senador Inácio Arruda (PC do B-CE) renunciou ao cargo para se integrar à CPI da Petrobras. A oposição aproveitou o cochilo governista e nomeou para a relatoria o tucano Artur Virgílio (AM). Com a jogada, PSDB e DEM passaram a controlar a presidência e a
relatoria da comissão. Era o troco à
postura da bancada governista, que não quer ceder espaços à oposição no comando da CPI da Petrobras.
– Quando há desrespeito à praxe por parte do governo, é natural que a oposição trilhe o mesmo caminho – justificou Álvaro Dias (PSDB-PR)
Como a oposição não abriu mão da relatoria, o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), orientou a base aliada a se retirar da sessão. Para o Planalto, a confusão na CPI das ONGs foi providencial. A disputa com a oposição forneceu um argumento político para atrasar a instalação da CPI da Petrobras.
Ao decidir negar quórum às duas CPIs, o governo impede as investigações sobre patrocínios culturais e esportivos, suspeitas de fraudes em licitações e em contratos com fornecedores. Um dos focos da oposição é a relação da estatal com a empresa baiana GDK. A empresa ganhou notoriedade durante a CPI dos Correios após presentear o então secretário-geral do PT, Silvio Pereira, com um jipe Land Rover. Desde então, a GDK
assinou 19 contratos com a
Petrobras, no valor de R$ 584 milhões. Com R$ 66 bilhões em caixa para investimentos em 2009, a Petrobras mantém sua contabilidade sob forte sigilo.
– As contas da Petrobras são uma selva à noite. O governo sabe muito bem os animais que estão soltos nessa selva. Ele finge que controla e a Petrobras finge que é controlada – afirmou o economista Gil Castelo Branco, da ONG Contas Abertas.