| 25/05/2009 09h12min
Uma consequência direta da estiagem pesa no bolso dos consumidores gaúchos. Nos supermercados, o preço do leite em abril foi o maior desde 1998, quando começou a pesquisa de preços ao consumidor do Centro de Estudos e Pesquisas Econômicas (Iepe) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
A explosão de preços é resultado da falta de chuva no início do período de entressafra de leite no Rio Grande do Sul.
Desde outubro, quando o leite longa vida integral, o mais consumido, era vendido a R$ 1,39, o preço do litro saltou para R$ 1,64 em abril (17,99% de alta), último dado disponível pela pesquisa do Iepe.
De acordo com levantamento feito pelo joenal Zero Hora, realizado nesse domingo, dia 24, em três supermercados com quatro marcas, o preço ainda não parou de subir. O valor médio do produto custava R$ 2,12 em média, superando até o nível de julho de 2007, quando o litro estava R$ 2,04, segundo o Iepe.
Estiagem agrava efeito do período de entressafra
Em geral, entre abril e agosto, período de produção menor, os preços sobem cerca de 30% nas gôndolas, segundo o presidente da Associação Gaúcha de Supermercados (Agas), Antônio Longo. Mas, neste ano, os efeitos da estiagem estão se somando à pressão da entressafra.
A falta de chuva prejudicou as pastagens, o que provocou um corte de 50% na produção de leite no Estado, informa a diretora técnica da Emater, Águeda Marcéi Mezomo.
Também houve perdas na produção gaúcha de frutas e verduras, quebra na safra de feijão e há ameaça de atraso no plantio do trigo, acrescenta Águeda.
Como os supermercados podem comprar frutas e verduras de outros Estados e boa parte da produção está concentrada na Serra, onde não faltou chuva, os preços desses produtos não subiram.
Com o leite, no entanto, a situação é outra. As diferenças nos impostos estaduais cobrados sobre o produto inviabilizam a compra de indústrias de outros Estados, alerta Longo, e o impacto não pode ser amenizado com a importação de leite importado. Um dos problemas que afeta o preço do leite é a grande perda na lavoura de milho. O cultivo é importante para os pequenos produtores, que usam o grão na alimentação de animais para consumo próprio e para a produção de leite.
Outro problema é a especulação. Para os produtores de leite, o aumento do valor recebido pelo litro foi bem menor. Desde março, a indústria reajustou em 12,2% o valor médio pago ao produtor, passando de R$ 0,57 para R$ 0,64.
– O leite acabou virando especulação, e tem gente que está faturando – reclama Darlan Palharini, secretário executivo do Sindicato da Indústria de Laticínios e Produtos Derivados do Estado do Rio Grande do Sul (Sindi-Lat/RS).
Segundo Sérgio de Miranda, vice-presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Rio Grande do Sul (Fetag), o preço ao produtor deveria aumentar mais de 30% para acompanhar o preço pago pelo consumidor.
– Tem efeito da seca e tem especulação – acrescenta Miranda.
ZERO HORA