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 | 31/03/2009 19h10min

População da Raposa Serra do Sol não sabe aonde ir

Com saída iminente de produtores da reserva, atenções se voltam ao desemprego local

Atualizada às 20h32min Luciane Kohlmann | Brasília (DF)

A sinfonia dos pássaros cria uma atmosfera de paz em meio à tensão que toma conta das fazendas localizadas na Raposa Serra do Sol. Com a iminente saída dos produtores rurais da reserva, as atenções se voltam agora para o desemprego na região, e a população que vive nas terras indígenas nem mesmo sabe para onde ir.

No local, máquinas e implementos são retirados com a pressa de quem precisa sair da área até 30 de abril. Com uma nostalgia de quase 30 anos de vida dentro da reserva, o produtor de arroz Genor Faccio observa o trabalho de mudança. Ele já transportou metade do maquinário para a sua outra propriedade. 

— Eu sou daquelas pessoas que diz que decisão, ordem judicial tem que ser cumprida e não discutida. Eu vou cumprir essa ordem judicial, mas vou discutir ela também — diz o produtor.

Ele conta que vai perder dois mil e quinhentos hectares de arroz irrigado, em uma área onde se colhe duas safras por ano. Genor explica que, na outra fazenda, são apenas 1,6 mil hectares da lavoura, sendo que, no inverno, a terra alaga. Sem muitas alternativas, ele deve demitir 25 funcionários, e prevê impactos maiores.

— A minha produção vai cair 50%, aí teoricamente minha indústria também vai ter um déficit de 50% e vou ter que dispensar funcionários — afirma Faccio.

Em apenas uma fazenda de Pacaraíma, Roraima, há 160 hectares de arroz com previsão de colheita para 30 de abril, exatamente a mesma data estipulada pelo governo federal para a retirada de todos os fazendeiros da região. Por isso, a preocupação agora é com o destino desta produção.

O trabalhador rural Jair Finkstag mostra que as plantas estão em desenvolvimento.

— Se desse para colher antes, a gente colhia, mas com o tempo do plantio, apenas em 30 de abril é que vai estar pronto, que vai estar seco — explica o funcionário da fazenda.

A preocupação de Finkstag vai além da lavoura. O medo maior é de perder o emprego.

— Agora vamos ver o que vai ser decidido, não é? Se o patrão mandar embora, tem que ir — conta o trabalhador.

Esta também é a dor de cabeça constante do mecânico da fazenda, Vilson Oliveira da Costa, que trabalha sem parar para desmontar todas as máquinas que precisam ser retiradas.

— A nossa situação ficou crítica, agora ficou crítica. Antes havia oportunidade. Agora, é sou só eu que vou ficar desempregado, mas muita gente — diz o mecânico.

A poucos quilômetros dali está a Vila Surumu, uma das portas de entrada para a reserva. Palco dos principais conflitos durante o processo de demarcação das terras, o local abriga 53 famílias de índios e não-índios. Muitos moradores do pequeno vilarejo não conseguem enxergar um futuro promissor com a saída dos produtores rurais.

— Vários indígenas que trabalhavam nas fazendas já estão desempregados. E a família está passando por necessidade. Então, agora no início, já está acontecendo isso, imagine depois — afirma Deise Rodrigues, presidente da Associação de Moradores da Vila Surumu.

O grande medo da população local é a incerteza quanto ao futuro. Além de perder o emprego, grande parte das famílias terá que deixar as suas moradias.

— Nós como brasileiros não sabemos para onde ir. Até brinquei com o pessoal. Eu disse para eles que agora nós somos quatro coisas: sem terra, sem teto, sem pátria e sem direito — finaliza Deise.

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