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 | 30/03/2009 19h11min

Arrozeiros se preparam para deixar reserva Raposa Serra do Sol

Com poucas terras disponíveis, Roraima corre o risco de perder pelo menos metade da produção de arroz

Atualizada em 30/03/2009 às 21h09min Luciane Kohlmann | Brasília (DF)

Produtores de arroz começam a deixar as terras da reserva Raposa Serra do Sol, em Roraima. O problema, agora, é saber para onde ir. Com poucas terras disponíveis, o Estado corre o risco de perder pelo menos metade da produção de arroz. Desta segunda, dia 30, até a próxima quarta-feira, uma série de reportagens mostra a reserva e o futuro de quem vive lá atualmente.

Os fazendeiros se esforçam para colher todo o arroz que ainda resta dentro da Reserva Raposa Serra do Sol até 30 de abril. Correndo contra o tempo, o produtor rural Paulo César Quartiero ainda contabiliza mil hectares de lavouras. Inconformado com a decisão do Supremo Tribunal Federal, ele calculou que precisaria de quase R$ 3 milhões para retirar todos equipamentos, máquinas e animais do local. Com um olhar de tristeza, observa os investimentos de toda uma vida.

— O nosso sonho sempre foi esse local. Quando eu cheguei aqui era território, e nós ajudamos a transformar isto em Estado. E o que está havendo é que ele está sendo dizimado — diz Quartiero.

Ele possui duas fazendas dentro da reserva. Uma delas totaliza cinco mil hectares, sendo que a metade é de arroz irrigado. Na outra parte, estão cerca de 2,5 mil cabeças de gado. O produtor não sabe para onde vai e conta que não existem mais terras disponíveis no Estado, muito menos nas condições das que estão dentro da Raposa Serra do Sol.

— As condições físicas da terra, relevo, a questão da facilidade da irrigação, a questão do clima também é favorável. A fertilidade, então, tem que ser construída. E nós construímos a fertilidade aqui. Nós fabricamos Oásis no meio do deserto — defende o produtor.

Se somarmos todas as terras indígenas de Roraima, como essa daqui, a de São Marcos, mais as áreas de proteção ambiental, mais as áreas das faixas de fronteira, sobram apenas 7% do Estado para a atividade agropecuária.

Segundo a Fundação Estadual do Meio Ambiente, Roraima possui cerca de 22,5 milhões de hectares, quase o tamanho do Estado de São Paulo. Um pouco mais de dez milhões são de áreas indígenas; 710 mil hectares, de áreas do exército; 1,6 milhão, unidades de conservação; e 580 mil, áreas montanhosas. Restam, então, cerca de nove milhões de hectares. Entretanto, é que poucas áreas são agricultáveis.

O presidente da Federação de Agricultura de Roraima, Almir Sá, ressalta que o governo federal repassou seis milhões de hectares ao governo do Estado, mas que a situação não deve mudar. Ele lembra que, das áreas livres, é preciso descontar as regiões alagadas, as matas de transição e a reserva legal de cada bioma.

— Acabam sobrando no máximo 2,5 milhões, três milhões de hectares. Todas essas áreas possuem proprietários. Não existem áreas livres. Se existe áreas livres, são áreas de mata — explica Sá.

Mesmo com todas as restrições, o Estado contava com 24 mil hectares de arroz até esta safra. Entretanto, com a demarcação contínua da reserva Raposa Serra do Sol, o setor prevê que a produção cairá pela metade.

O chefe-geral da Embrapa de Roraima, Francisco Joaci de Freitas, é o mais otimista. Ele acredita que, utilizando novas tecnologias, seja possível produzir em áreas consideradas ainda de baixa fertilidade.

— O que nós precisamos fazer é olhar para a utilização da tecnologia dos cerrados na região central do país, trazer essa tecnologia para cá e adaptar para as condições aqui do lavrado do Estado — diz Freitas.

As dúvidas quanto ao futuro da agricultura em Roraima se multiplicam. A única certeza nos campos é a esperança de voltar a ter uma agropecuária forte.

— De qualquer forma, vamos para frente. As coisas não param. E nós temos que produzir, vencer esses obstáculos. Nós vamos consolidar a produção no pouco que sobrar — completa Almir Sá.

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