| 22/09/2008 18h08min
O economista Carlos Lessa, ex-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, disse nesta segunda, dia 22, que embora a economia brasileira experimente um momento favorável, o governo não pode cometer a irresponsabilidade de afirmar que o país está imune à atual crise financeira internacional.
– Alguma coisa nós tínhamos que ganhar com 25 anos de estagnação econômica. Estamos mais robustos um pouco, mas se não tomar cuidado a gente se enfraquece logo – alertou.
De acordo com o economista, a crise internacional é o resultado de mais de 30 anos de expansão financeira “progressivamente desregulada”, com uma multiplicidade de ativos financeiros que não correspondem ao desenvolvimento da base produtiva.
– É o que nós chamamos de uma bolha. E a bolha, quando explode, deixa praticamente nada – disse.
Ele avalia que as conseqüências que isso terá para o Brasil estão condicionadas ao controle da crise financeira externa, que não gere uma depressão. Lessa prevê que o crescimento da economia mundial vai cair, começando pelos Estados Unidos e depois a China, com rebatimento sobre o Brasil.
– Mas uma coisa é a crise mundial gerar um crescimento medíocre e outra coisa diferente é uma recessão mundial. Recessão é muito grave. Vamos torcer para que fique somente numa redução do crescimento – disse.
Para o economista, essa queda do crescimento econômico terá reflexos diretamente nos preços dos produtos exportados pelo Brasil, com conseqüências sobre a receita cambial brasileira.
– Essas implicações financeiras serão piores ou não tão ruins dependendo da política econômica que o governo federal vier a fazer. Eu estou muito espantado com os anúncios, quase que arrogantes, de que o Brasil está muito bem, que o Brasil tem como enfrentar a crise – afirmou Lessa.
Ele avalia ainda que há uma grande fatia de capital especulativo que veio para o Brasil e que será puxado para fora, pressionando a taxa de câmbio. Com isso, o governo será obrigado a segurar o câmbio.
– E para isso terá de fornecer dólares a essas saídas para o Brasil, contribuindo para reduzir as reservas internacionais – concluiu.
Lessa disse que vê com preocupação “praticamente nenhuma movimentação governamental para mudar a política econômica, para segurar o pior desse processo”.
AGÊNCIA BRASIL