| 12/09/2008 11h19min
Maior consumidor do gás boliviano em Santa Catarina, o setor cerâmico está apreensivo com um possível corte no fornecimento da sua principal matriz energética devido à situação incerta no país vizinho. O clima de preocupação se justifica porque não é vislumbrada uma alternativa viável a curto prazo.
O plano B das indústrias seria o retorno ao Gás Liqüefeito de Petróleo (GLP), mas isso demandaria tempo, investimentos para relocação de tanques e acarretaria uma queda no padrão de qualidade dos produtos. Uma terceira alternativa, a gaseificação do carvão, ainda está em fase de pesquisas.
Na Angel Grês Revestimentos Cerâmicos, às margens da BR-101, em Criciúma, a apreensão existe devido à dependência de 100% do gás natural boliviano. A indústria não tem programação para paralisar a produção porque precisa atender aos pedidos em carteira.
— Nós acreditamos que não haverá maiores desdobramentos. É uma situação que deverá ser equacionada, pois o gás
existe. A questão é mais política e
a instabilidade do governo boliviano é que faz a gente ficar com o pé atrás — diz o diretor-superintendente Alexandre Zugno.
O setor metalmecânico acompanha os acontecimentos com atenção. A Wetzel, de Joinville, depende do combustível para manter funcionando a unidade de alumínio.
— Estamos elaborando um plano alternativo — diz Jair Marques, gerente de manufatura da fábrica.
Udo Döhler, presidente de indústria têxtil de mesmo nome em Blumenau, reclama:
— Se a instalação do ponto de regaseificação no Estado estivesse mais avançada, não ficaríamos dependentes destas oscilações.
SC Gás tranqüiliza indústria
Com a garantia da Petrobras de que o abastecimento de gás natural boliviano não deve ser prejudicado no país, a distribuidora SCGás buscou tranqüilizar a indústria catarinense e comunicou, nesta quinta-feira, que possui um plano de
contingenciamento pronto para o caso de interrupção no fornecimento.
A estratégia seria
evitar maiores prejuízos realizando cortes equilibrados. Pelo plano, o mesmo percentual de redução de fornecimento imposto ao Estado seria repassado às indústrias de grande porte. As pequenas fábricas, comércio e residências seriam poupadas por representar fatia pequena do consumo.
De acordo com o presidente da SCGás, Ivan Ranzolin, o plano possui pelo menos cinco variações, que seriam adotadas conforme a gravidade do corte. Os diferentes cenários determinariam o direcionamento da redução para os setores consumidores, como a indústria ou os postos de gás natural veicular (GNV).
Na reunião com os industriais, convocada extraordinariamente com a Federação das Indústrias de SC (Fiesc), Ranzolin garantiu que o corte de 10%, em vigor desde anteontem devido à explosão de um duto na Bolívia, não implicará desabastecimento da indústria. Caso a restrição se amplie, a decisão sobre cortes aos estados caberia à Petrobras, explicou o presidente.
Durante a
quinta-feira, o fornecimento ao país
chegou a ser reduzido pela metade devido à interrupção de uma válvula da empresa que fornece 52% do gás consumido no Brasil, mas a situação acabou normalizada sete horas depois.
O risco de corte provocou mais uma vez a discussão entre os representantes das indústrias catarinenses dependentes do combustível comprado da Bolívia.
A indústria catarinense tem alta dependência do gás natural. O Estado é o segundo maior comprador do combustível da Bolívia para o uso em fábricas, perdendo apenas para São Paulo. No mês passado, SC bateu seu recorde de consumo diário, com o pico de 1,824 milhão de metros cúbicos.