| 23/05/2008 00h01min
O governo argentino e as patronais agropecuárias retomaram nesta quinta-feira as negociações do polêmico esquema tributário às exportações de grãos, após duas semanas de diálogo interrompido, mas a reunião terminou com declarações oficiais de otimismo e uma clara inconformidade do campo.
O chefe de gabinete, Alberto Fernández, e o ministro da Economia, Carlos Fernández, se reuniram por uma hora e meia com os dirigentes da Federação Agrária Argentina (FAA), da Confederação Intercooperativa Agropecuária (Coninagro), das Confederações Rurais Argentinas (CRA) e da Sociedade Rural Argentina (SRA), que representam cerca de 290 mil agricultores.
O encontro terminou com declarações governamentais otimistas sobre a possibilidade de obter resultados concretos a partir da próxima semana, quando começam as discussões em nível técnico.
No entanto, as entidades agropecuárias deixaram o encontro "frustradas" e chegaram a cogitar uma "invasão" do Ministério da
Economia até que o governo apresentasse
uma solução, disseram à Agência Efe porta-vozes das patronais, que finalmente desistiram dessa medida extrema.
Os dirigentes rurais indicaram à imprensa que estão "insatisfeitos", porque o governo se negou a discutir hoje o tema dos impostos às exportações e concordou em conversar, a partir da segunda-feira, apenas sobre as conseqüências que o esquema tributário trouxe aos mercados de futuros.
— A reunião não foi bem. O governo quer dilatar a questão e não há margem para isto, há muita reclamação. É cada vez mais difícil voltar a negociar na segunda-feira, a não ser que nos convoquem amanhã ou no sábado — disse o titular da FAA, Eduardo Buzzi.
O encontro de hoje representou o reinício do diálogo entre as partes, suspenso desde 7 de maio, e que diferentes atores sociais, políticos e econômicos do país quiseram retomar nos últimos dias em razão dos protestos da sociedade pela demora em resolver a crise.
Depois da reunião, o chefe
de gabinete disse em entrevista coletiva que foi
"frutífero poder recuperar o diálogo", e afirmou que é preciso "deixar de lado dois meses muito complexos e buscar pontos em comum".
— É preciso ter vontade de encontrar uma solução de uma vez por todas e seguir em frente. Em pouco tempo teremos resultados concretos — declarou o ministro da Economia.
As entidades rurais assinalaram que as declarações dos dois ministros não passam de uma "manipulação da opinião pública".
A crise explodiu no dia 11 de março, quando o governo impôs um novo esquema de impostos móveis às exportações de soja, girassol, trigo e milho.
Alberto Fernández reiterou hoje que os impostos às exportações de grãos são necessários para assegurar o abastecimento do mercado interno a preços razoáveis, frente à forte demanda externa que encareceu as matérias-primas.
O novo esquema tributário levou os agricultores a ficar em greve por três semanas, o que causou desabastecimento e encarecimento
dos alimentos.
Depois desse período, o campo declarou
uma "trégua" de um mês na qual não conseguiu chegar a um consenso com o governo.
O campo retomou os protestos, que consistiram desta vez em não comercializar grãos para a exportação, mas a medida foi suspensa na quarta-feira para facilitar um retorno à mesa de negociações.
O governo se mostrou hoje disposto a priorizar as discussões sobre a situação nos mercados de futuro devido aos novos impostos às exportações de grãos.
Além disso, Fernández afirmou que segue vigente o sistema de reintegrações de impostos às exportações para pequenos e médios agricultores, que o governo está disposto a melhorar para que as compensações cheguem efetivamente a esses produtores.
Buzzi disse que estas compensações "não servem" e convocou uma grande mobilização para o próximo domingo, na cidade de Rosário, cerca de 350 quilômetros ao noroeste de Buenos Aires.
A Argentina é o maior exportador mundial de girassol, o segundo maior
de milho, o terceiro maior de soja e o quarto maior de
trigo, e ocupa também postos de relevância no comércio global de derivados destes grãos.