| 14/04/2008 00h52min
O Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI) incluíram na agenda dos líderes mundiais o aumento dos preços dos alimentos durante sua assembléia conjunta, que terminou neste domingo e foi dominada pela crise financeira americana e por seu impacto na economia.
O encontro semestral dos ministros de economia de 185 nações foi concluído com um pedido de medidas urgentes contra a alta dos preços de produtos básicos como o trigo e o milho.
Na entrevista coletiva de encerramento das reuniões, o presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick, alertou que o aumento dos preços — de aproximadamente 48% desde o fim de 2006, segundo o FMI — "poderia agravar a pobreza de 100 milhões de pessoas".
Essa opinião é compartilhada pelo diretor-geral do Fundo, Dominique Strauss-Kahn, que afirmou que "o que está em jogo é a estabilidade política de muitos países". A crise ficou patente no Haiti, onde caiu, no sábado, o governo do primeiro-ministro Jacques Edouard
Alexis, censurado pelo Senado após
distúrbios motivados pela falta dos alimentos, que causaram pelo menos cinco mortes.
O Banco Mundial anunciou que destinará US$ 10 milhões a programas alimentícios na nação caribenha. Além da crise no Haiti, as reuniões em Washington serviram para ressaltar o impacto mundial da alta de preços, e seu potencial para destruir os avanços conseguidos no combate à pobreza nos últimos anos.
Zoellick abriu o encontro com um pedido aos países participantes para que forneçam ao Programa Mundial de Alimentos das Nações Unidas os US$ 500 milhões necessários para responder a emergências.
O chefe do Banco Mundial informou ontem que essa agência já recebeu o compromisso por parte dos doadores de contribuir com a metade dessa quantia. A médio prazo, a solução estimularia a produção alimentícia, segundo o FMI e o Banco Mundial, que atribuem grande parte do aumento dos preços ao "boom" dos biocombustíveis, que reduziram os cultivos destinados ao consumo humano.
Strauss-Kahn revelou que alguns
ministros chegaram a dizer no Comitê de Desenvolvimento — órgão conjunto do FMI e do Banco Mundial — que usar os alimentos como combustível "era um crime contra a humanidade". Os ânimos elevados não fizeram, no entanto, com que os países que dão mais subsídios aos biocombustíveis anunciassem medidas para atenuar esses efeitos.
Produção de biocombustíveis
é motivo de controvérsia
O comunicado final do Comitê expressou sua preocupação com a alta dos alimentos, mas não fez referência ao tema dos biocombustíveis.
— É irônico o fato de que na reunião estavam os países que mais fomentam os biocombustíveis. As metas de biocombustíveis dos Estados Unidos e da União Européia levaram a este tipo de crise — disse Elizabeth Stuart, da organização humanitária Oxfam.
Zoellick, que chegou a ser subsecretário de Estado americano, fez uma crítica a seu país, ao destacar "a falta de coerência de se ter
programas de subsídios, ao mesmo tempo que se mantêm barreiras
tarifárias". Os Estados Unidos taxam a importação de etanol do Brasil, obtido mediante um processo mais eficiente que o americano, que tem como base o milho, segundo Zoellick.
Outro tema de destaque da assembléia foi a atual crise financeira americana. O FMI prevê que as coisas podem piorar, e essa visão pessimista fez reduzir drasticamente as previsões de crescimento da grande maioria dos países desenvolvidos, que não ocultaram seu mal-estar.
O Fundo sugeriu ao Federal Reserve (Fed, banco central americano) e ao Banco Central Europeu (BCE) que baixem as taxas de juros, e também indicou que alguns países poderiam expandir os gastos públicos para estimular a economia.
A "terceira linha de defesa" seriam intervenções diretas em bancos e no mercado imobiliário dos Estados Unidos, que, de acordo com o FMI, poderiam ser necessárias para interromper a maior crise financeira desde a Grande Depressão, segundo descreveu o organismo multilateral.
Ex-subsecretário de Estado americano, Zoellick fez críticas aos Estados Unidos no encontro
Foto:
Shawn Thew, EFE
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