| 13/02/2008 13h44min
O ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, fez nesta quarta-feira na Comissão de Agricultura do Senado duras críticas aos exportadores de carne bovina. O ministro disse que os frigoríficos exportavam carne de animais rastreados e não rastreados para a União Européia (UE). O bloco exige a rastreabilidade para a importação do produto.
O ministro sinalizou que concorda com as críticas da senador Katia Abreu (DEM-TO):
— Eu concordo com a senadora porque ela diz muitas coisas que eu não posso dizer — afirmou Stephanes. Não cabe a mim criticar alguns setores.
O ministro conclamou os frigoríficos exportadores a liderarem o processo de rastreabilidade dos rebanhos.
— Se os frigoríficos não liderarem o processo de rastreabilidade, ela não acontece. É preciso fidelizar clientes, ou seja, fornecedores e pagar um adicional — afirmou.
Ele também criticou as empresas certificadoras e disse que a situação delas é "um
escândalo". Segundo ele, as certificadoras nunca foram
auditadas e uma inspeção feita recentemente pelo ministério eliminou 20 empresas de uma lista de 71 reconhecidas pelo Ministério da Agricultura.
O ministro contou que sabia desde o ano passado que a UE poderia embargar a carne brasileira. Ele esteve em outubro na Europa para divulgar a qualidade da carne brasileira para autoridades do bloco:
— Naquela época as posições foram colocadas de forma muita rígida e não conseguimos mudá-las.
O ministro enfatizou que a agricultura brasileira não é subsidiada e que o governo precisa encontrar soluções que possam "desengordar" a dívida dos produtores rurais. Segundo ele, entre 2001 e 2007 o preço dos produtos agrícolas subiu 78% e o endividamento cresceu 280%.
Stephanes também comentou a decisão do Conselho Nacional de Biossegurança, que ontem liberou o plantio comercial de duas variedades de milho transgênico:
— Temos uma agricultura eficiente e produtiva, mas, em
termos de biotecnologia, vivemos na idade da carroça.
Senadora critica Abiec
Na Comissão de Agricultura do Senado, a senadora Kátia Abreu criticou o ex-ministro da Agricultura Pratini de Moraes, que atualmente preside a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec).
— Eu queria saber se a Abiec está triste ou feliz com essa lista Schindler — disse a senadora, numa alusão ao filme que conta a história de como Oskar Schindler conseguiu salvar judeus da morte durante o Holocausto.
Ela, no entanto, referia-se à lista de apenas 300 fazendas brasileiras que a UE pretende considerar como aptas à exportar carne bovina para aquele bloco. Segundo a senadora, o ex-ministro não participa da audiência pública no Senado porque está "comemorando a situação", ou seja, o embargo da UE à carne brasileira.
Segundo ela, o embargo vai reduzir os preços da carne no mercado interno, o que favorece os exportadores.
Leslie Cohen, que
representa a Abiec em Brasília, e participou da audiência pública na
Comissão de Agricultura do Senado, disse que não é do interesse da associação prejudicar os pecuaristas.
— Nós não vamos morder a mão que nos alimenta — afirmou.
A representante da Abiec disse, ainda, que a queda de preço é uma reação de mercado. A senadora Katia Abreu disse que o preço do boi rastreado caiu R$ 2 por arroba por causa do embargo da UE.
A representante da Abiec respondeu, então, que essa não é uma questão relevante, o que provocou a ira de alguns presentes à audiência pública.
— Relevante é o seu salário — rebateu a senadora.
Na seqüência, a representante da Abiec pediu a palavra e explicou que a Abiec não está contente com o embargo da UE à carne brasileira e que tinha dito que a questão do valor da arroba do boi não é relevante, já que a audiência havia sido convocada para discutir o embargo e não preços.
— A lista é para tentar salvar e não para matar — disse Leslie.
Kátia Abreu continuou o ataque ao ex-ministro Pratini, dizendo que
ele aceitou as regras da UE, o que foi um erro. A senadora pediu que o governo brasileiro não entregue a lista à UE e que mantenha uma posição mais dura de negociação.
O argumento da senadora é que a UE não terá de quem importar carne, caso o Brasil não aceite as regras impostas pelo bloco para a importação do produto. De acordo com Katia Abreu, a UE importa 725 mil toneladas por ano e 50% desse volume bem do Brasil.
— Ministro Stephanes, não quero que o senhor seja lembrado por essa lista de Schindler, ou por essa escolha de Sophia — pediu a senadora ao ministro.
A senadora calcula que se a lista tiver apenas as 300 fazendas, cada uma delas teria de ter área de 112 mil hectares para suprir a demanda de carne dos europeus. Ela disse que o Brasil não pode aceitar as determinações da UE, sem questioná-las:
— Nós não somos vassalos desse pessoal.
A senadora argumentou também que dificilmente a UE aceitará novas
propriedades para exportação para o bloco, caso o Brasil não
mantenha posição firme nesse negociação. A senadora disse que os pecuaristas que investiram para ter acesso ao sistema de rastreabilidade (Sisbov) "jogaram dinheiro no lixo".
Stephanes: "Se os frigoríficos não liderarem o processo de rastreabilidade, ela não acontece"
Foto:
Valter Campanato
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ABr