| 30/01/2008 12h52min
O resultado imediato do embargo à entrada de carne bovina brasileira na União Européia (UE), anunciado nesta quarta-feira, será a pressão de baixa sobre os preços internos da arroba de boi gordo, avaliam analistas. Isso porque as exportações para o bloco devem cair de forma significativa, sobrando mais carne no mercado interno, o que deve influenciar na formação do preço do produto.
Apesar da paralisação do mercado de boi gordo para exportação, por enquanto os preços pagos pela arroba seguem praticamente estáveis entre R$ 75,50 e R$ 76 para descontar o Funrural, a prazo, no interior paulista.
Na prática, as compras de animais para abate estão paralisadas nesta semana, pois os frigoríficos já temiam que os importadores europeus suspendessem os embarques em fevereiro, por causa da discordância da UE em relação ao número de fazendas certificadas para exportação.
Na segunda-feira, o Brasil entregou à UE uma lista de fazendas autorizadas a exportar
carne quase nove vezes maior que
Bruxelas esperava receber e irritou os negociadores europeus. A lista do governo tem mais de 2,8 mil fazendas credenciadas.
No fim do ano passado, Bruxelas anunciou que estava impondo novos limites às exportações brasileiras por questões sanitárias. O governo brasileiro passou então a verificar cada uma das fazendas e, pelos critérios exigidos pelos europeus, certificou as propriedades.
Mas os europeus já haviam antecipado que, pelas novas normas, dariam o sinal verde para apenas 300 fazendas.
O governo avaliou, no entanto, que se todas as fazendas cumprem os requisitos, não caberia ao Ministério da Agricultura selecionar apenas 3% delas.
— Como faríamos para selecionar uma fazenda e não a outra se estão em condições de igualdade? — questionou um funcionário do ministério em Brasília.
Em Bruxelas, os europeus não escondiam a irritação com a atitude brasileira. Primeiro, pelo número de fazendas, considerado
exagerado. Outra confusão foi o fato de cada Estado ter feito
uma lista separada. A própria missão diplomática do Brasil junto à UE confessou que não tinha como somar as listas. Com a atitude, o governo jogou de volta para os europeus o problema.
Comenta-se que a pressão dos produtores irlandeses também pesou na decisão de embargo à carne brasileira. A Irlanda é quem mais sofre com a concorrência da carne brasileira. A comissária de Agricultura da UE, Mariann Fischer Boel, havia dito que a Europa precisa ser "justa", e a resposta de Bruxelas ao problema precisa ser "proporcional".
Segundo ela, a limitação em 3% das fazendas brasileiras cumpria a questão da "proporcionalidade".