| 18/03/2002 23h45min
O caso Figueirense-Caxias será julgado nesta terça-feira, dia 19, na sede da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), no Rio de Janeiro. O julgamento vai decidir quem sobe à Série A do Campeonato Brasileiro em 2002. Os trabalhos começam às 17h na Comissão Disciplinar número 2 do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) da CBF. Cinco auditores vão dar parecer: o presidente e relator Sérgio Resende, de Minas Gerais, Aloísio Costa e Paulo César Salomão Filho, do Rio de Janeiro, e Vladimir Cassane e Otávio Toledo, de São Paulo. O clube descontente com o veredicto pode recorrer ao Tribunal Pleno do STJD e, depois, à Justiça comum.
– Acredito que o que for decidido nesta terça será mantido até o fim – afirmou um dos advogados do Caxias, Daniel Cravo Souza.
O julgamento desta terça, no entanto, pode ser adiado a pedido do Figueirense. Os advogados do alvinegro catarinense alegam que foram anexados documentos ao processo depois de o departamento jurídico do clube ter dado vistas. A decisão sobre o adiamento será tomada pela comissão disciplinar momentos antes do início do julgamento. Porém, nesta segunda-feira, dia 18, um dos advogados do Figueirense, João Batista Baby, levantou a possibilidade de retirar o pedido.
O Figueirense é o réu do processo. Foi indiciado pela Procuradoria do STJD no artigo 299 (leia-o, abaixo, na íntegra) do Código Brasileiro Disciplinar do Futebol (CBDF). O indiciamento ocorreu depois de o Caxias pedir a impugnação da partida contra o alvinegro catarinense, realizada no dia 22 de dezembro passado no Estádio Orlando Scarpelli, em Florianópolis.
Naquele jogo, válido pela última e decisiva rodada da Série B do Campeonato Brasileiro, a torcida do Figueirense invadiu o campo para comemorar a vitória por 1 a 0 e o conseqüente acesso à Primeira Divisão. O problema é que o fez antes do fim da partida, aos 46min50s do segundo tempo. Cerca de 20 minutos depois, o árbitro da Fifa, o paulista Alfredo dos Santos Loebeling (foto), nos vestiários, disse que não voltaria mais ao campo para continuar o confronto, alegando falta de segurança.
Vale lembrar que o Caxias jogava pelo empate para subir à Série A. Na outra decisão de vaga, realizada no mesmo dia, o Paysandu goleou o Avaí por 4 a 0, sagrando-se campeão da Série B e garantindo presença na elite do futebol brasileiro.
A decisão de Loebeling de não continuar a partida gerou suspense. Os dois clubes aguardavam com expectativa o que o juiz relataria na súmula. Se escrevesse que o jogo havia sido encerrado, o Figueirense ficaria com a vaga. Se escrevesse que o jogo havia sido suspenso por falta de segurança, o Caxias teria margem para pedir a impugnação da partida. O clube gaúcho, aliás, estava confiante devido a gravações de áudio e vídeo na qual a arbitragem garantia que a partida estava suspensa e não encerrada.
Mas não foi isso que Loebeling relatou na súmula. No dia 27 de dezembro veio a público o contéudo do documento, no qual o juiz paulista afirmou que a invasão havia ocorrido depois de encerrado o jogo. A surpresa gerou dúvidas sobre o árbitro, agravadas no dia 10 de janeiro com denúncia, em forma de diálogo, publicada pelo jornalista Juca Kfouri no jornal O Lance (abaixo, a transcrição).
Uma semana depois, nova surpresa, com Loebeling desmentindo a própria súmula e acusando o presidente da Comissão Nacional de Arbitragem (Conaf), Armando Marques, de o ter pressionado a escrevê-la daquela forma. De posse da carta de denúncia, o presidente do STJD, Luiz Zveiter afastou os envolvidos e abriu inquérito para apurar o caso.
O inquérito, a cargo do auditor Marcos Basílio, ainda não foi concluído. O que preocupa tanto ao Caxias quanto ao Figueirense. Os advogados do clube gaúcho acham estranho qualquer julgamento sem antes tomar conhecimento do resultado do inquérito Loebeling-Marques. Como parte interessada, o clube quer que o inquérito seja analisado antes do julgamento. O advogado do Figueirense, João Batista Baby, concorda:
– Na minha opinião, os dois episódios estão conectados, mas esse não é o entendimento do STJD – disse.