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Eleições  | 28/07/2010 03h57min

Celebridades buscam lugar na política

Acostumados com holofotes, famosos procuram forma de construir nova carreira

Elton Werb  |  elton.werb@zerohora.com.br

Correção: O empresário Dedé Santana Júnior (PSC) concorre a deputado estadual no Paraná e não seu pai, o humorista Dedé Santana.

O que o ex-jogador Romário, a Mulher Melão, o pugilista Popó Freitas, o ex-Big Brother Brasil Kléber Bambam, o estilista Ronaldo Esper e o comediante Tiririca têm em comum?

São todos candidatos na eleição de 3 de outubro. Por todo o país, uma constelação de ex-craques, cantores, atores, humoristas e televisivos em geral vão disputar o voto dos brasileiros, reforçando uma tendência que parece estar se acentuando a cada eleição.

Estimulados pelos sucessos recentes de famosos nas urnas – como o cantor sertanejo Frank Aguiar e o estilista Clodovil, que ficaram entre os mais votados para a Câmara Federal em 2006, em São Paulo –, cada vez mais os partidos apostam na estratégia de chamar celebridades para engrossar suas listas de candidatos.

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Na coluna de cima, da esquerda para a direita, os candidatos Popó (disputa vaga na Câmara pelo PRB-BA), Maguila (PTN-SP, quer ser deputado federal), Marcelinho Carioca (concorre à Câmara pelo PSB-SP). Na coluna de baixo: à esquerda, Romário (candidato a deputado federal pelo PSB-RJ) e à direita, Vampeta (disputa uma vaga na Câmara pelo PTB-SP)

O objetivo é aproveitar a fama dessas personalidades para atrair o voto de eleitores desinteressados ou desgostosos com a política, aumentando o quociente eleitoral da legenda e, consequentemente, o tamanho das suas bancadas parlamentares.

— O candidato famoso tem a sua própria imagem e, muitas vezes, um carisma emocional junto ao público que se aproxima da idolatria. Assim, ele torna-se um grande puxador de votos. Para os partidos, ter um deles na lista pode ser uma maneira fácil de eleger dois ou mais concorrentes na carona da sua votação — diz o professor da Unisinos e doutorando em Comunicação Política Sérgio Trein.

O candidato famoso, diz Trein, também preenche a lacuna do protesto. Como ele não é visto pelo eleitor como um político — em meio à decepção generalizada com a classe —, pode absorver os eventuais votos de protesto que, no passado, eram dados a personagens bizarros, como Macaco Tião e Cacareco (respectivamente, um chimpanzé do zoológico do Rio que fez 400 mil votos para a prefeitura, em 1998, e um rinoceronte do zoo de São Paulo, “eleito” vereador da cidade em 1988).

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Coluna superior, da esquerda para a direita: Leandro, do KLB (concorre a deputado estadual pelo DEM-SP), Kiko, do KLB (disputa uma vaga na Câmara pelo DEM-SP), e Netinho (concorre ao Senado pelo PC do B-SP). Coluna inferior, da esquerda para a direita: Reginaldo Rossi (concorre à Assembleia de PE pelo PDT), Renner (candidato a senador pelo PP-GO) e Sérgio Reis, que disputa uma vaga na Câmara pelo PR-MG)

Para psicólogo, admiração e sucesso viciam

Para as celebridades, uma candidatura representa uma oportunidade de se manter em evidência.

— A fama é viciante, é como uma droga pesada. Depois que fizeram sucesso, algumas pessoas não conseguem viver sem receber os olhares e a admiração das pessoas. A celebridade encontra na política uma maneira de não perder um espaço público que ela conquistou — explica o psicólogo Mário Corso.

Não é à toa que, na lista de candidatos celebridades, há tantos ex (principalmente jogadores de futebol) e artistas que já cruzaram o auge da fama e enfrentam uma curva descendente nas carreiras.

"Estamos na era das celebridades"
Dado Schneider, professor de Comunicação

O professor de Comunicação e Marketing Dado Schneider, da ESPM, associa o voto na celebridade ao desconhecimento ou à desilusão do eleitor com a política.

ZH – Por que há tantos famosos concorrendo em 3 de outubro?
Dado Schneider –
Estamos na era das celebridades. Elas pautam não só os hábitos de consumo, mas até o jeito de as pessoas pensarem. Como a política não desperta interesse da maioria da população, as pessoas optam por quem já conhecem.

ZH – O voto no famoso, portanto, não é um voto politizado?
Dado –
De forma alguma. Ele decorre do desconhecimento total que os eleitores têm dos políticos e dos partidos. Um nome conhecido vira, assim, um atalho mental para o eleitor. O voto no famoso pode ser politizado apenas do ponto de vista do protesto. Estou desgostoso com tudo isso que está aí, então vou votar numa personalidade até trash.

ZH – E por que alguém já famoso entra para a política?
Dado –
Quem já experimentou a fama, não consegue viver sem ela. Segundo, porque se você está no auge da fama, é tentador se candidatar a um cargo eletivo. Há chances de se eleger.

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"Mulheres-fruta" também entraram na disputa. À esquerda, Cristina Célia, a Mulher Melão (candidata à Assembleia do RJ pelo PHS). À direita, Suellen Aline Silva, a Mulher Pêra (concorre a deputada federal pelo PTN-SP).


"Vou ter muito voto de protesto"
Tiririca, humorista e candidato

O nome dele é Francisco Everardo Oliveira Silva, mas pode chamá-lo de Tiririca. Natural de Itapipoca, no Ceará, o palhaço conhecido pelo hit Florentina agora quer ser deputado por São Paulo.

Zero Hora – O que motivou a sua entrada na política?
Tiririca –
Conversando com minha mãe, ela disse: “Meu filho, esta é a oportunidade de você ajudar as pessoas. Se você for eleito, terá facilidade de ajudar as pessoas.”

ZH – Qual é sua meta?
Tiririca –
Ajudar os menos favorecidos e as crianças também.

ZH – Já garantiu o voto da Florentina, sua ex-namorada?
Tiririca –
Ela mora no Nordeste, mas tem família em São Paulo. Com certeza, botará a família para votar.

ZH – Como é seu jingle?
Tiririca –
Fizemos em cima da música Florentina, é bem legal. Fala do projeto que eu quero fazer.

ZH – Algumas pessoas podem votar no senhor por protesto?
Tiririca –
Com certeza. Vou ter muito voto por protesto, mas também vai ter muito voto de pessoas que se identificam com a minha história. São Paulo tem muitos nordestinos.

ZERO HORA
Nuvem Esperança

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