| 10/09/2009 13h10min
Tatiana Lopes
Paulo Autuori (foto) é um homem surpreendente. Antecipou a troca do esquema 3-5-2 pelo 4-4-2, algo que era para ser uma transição lenta, como ele mesmo definiu ao chegar ao Olímpico. Questionou o conceito de pegada, passando a defender o menor número possível de faltas cometidas. O que é um sacrilégio em se tratando de Grêmio. Muitos gremistas começaram a desconfiar de seu consagrado treinador por conta disso.
Vamos a mais surpresas de Autuori. Transformou Tcheco em reserva contra o Vitória menos de 24 horas
depois de ter dito que ele seria titular em entrevista coletiva. Agora, depois de ganhar fartos elogios por não fazer mistério na hora de
escalar o time como é tão comum entre seus colegas de ofício, não confirma nem mesmo a volta de Maxi López à equipe que enfrenta o Náutico nos Aflitos, domingo. O argentino está plenamente recuperado da distensão muscular. Alguém duvida de que ele é o mais titular dos atacantes do Olímpico?
Dito isto, pergunta-se: Autuori está mesmo surpreendendo ao tomar tais atitudes, já que todos esperávamos um diplomata da ONU no comando do Grêmio? Não, não está. Ele é assim mesmo. E não há nada de errado nisso.
Em 2007, quando retornou ao Cruzeiro 10 anos depois de ser campeão da Libertadores na Toca da Raposa, Autuori surpreendeu os mineiros ao se demitir de forma unilateral após levar 4 a 0 do Atlético-MG. Era o primeiro jogo da final do Campeonato Mineiro. Ainda havia a partida de volta, na semana seguinte. O presidente Alvimar Perrela tentou de todas as formas convencê-lo a ficar, mas de nada adiantou. Repare no que disse Autuori há dois anos,
logo após a derrota demolidora no
clássico:
— Vou falar rápido e breve. Chamei a direção e falei que sou profissional e pessoa com vergonha na cara. Por dignidade, se tiver de fazer o jogo de domingo vou fazer, mas ganhando ou não o título não vou continuar e coloquei de forma clara para a direção. Sendo curto e grosso, sou profissional. Um homem com dignidade e vergonha na cara. E, como tal, não posso aceitar de maneira nenhuma a forma como entregamos aqui o jogo de bandeja.
E prosseguiu:
— Não tenho absolutamente nada a falar sobre nenhum jogador. Tenho a dizer que eu sou homem e, como tal, todo homem deve ter primeiro vergonha das coisas que faz mal feitas. E, depois, dignidade para mesmo nos momentos difíceis, das derrotas, cair de pé.
Antes que algum leitor apressado conclua que estou prevendo derrota de goleada no próximo Gre-Nal, me adianto. Não é nada disso. Quero apenas registrar que está errado
imaginar Autuori como um homem absolutamente cerebral, enxadrista, que
sempre pensa mil lances à frente. O técnico do Grêmio decide e faz. Ouve sugestões aqui e ali, claro que sim, como a de René Weber, o seu auxiliar. Mas Autuori também decide pelo coração, pelos seus princípios, no calor da emoção. Não engole sapos.
É compreensível. Com o currículo que tem, não precisa mais disso. Depois de contar um Brasileiro pelo Botafogo (eu disse: Botafogo), duas Libertadores (Cruzeiro e São Paulo) e um Mundial (São Paulo), ele está mais do que certo. Isso sem falar na seleção peruana e na experiência na Europa. Que os sapos sejam engolidos por quem precisa.
Portanto, não há surpresa com o Autuori que muda de ideia, que não pede licença para questionar dogmas do clube onde trabalha mesmo que isto provoque fissuras junto ao torcedor. A voz grave, o vocabulário farto e as frases bem construídas podem indicar o contrário, mas o técnico do Grêmio também age pelo coração, pela percepção do momento, pela confiança no próprio taco mesmo, para além das
complexidades e teorias.
Portanto, o torcedor do Grêmio que se prepare: fortes emoções vêm aí com Paulo Autuori no comando do time. Não há nada de surpreendente nisso.
Autuori é assim mesmo. Sempre foi um vencedor desse jeito. Não é agora que vai mudar.
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