| 27/03/2010 08h20min
O promotor de Justiça Abel Antunes de Mello, do Ministério Público de Santa Catarina, espera finalmente ouvir pela primeira vez o ex-árbitro de futebol Eduardo Barilari sobre o caso de tentativa de extorsão ao presidente do Avaí, João Nilson Zunino, em 2008.
Abel conseguiu, esta semana, um novo endereço de Barilari e mais uma vez enviou uma intimação oficial. O Diário Catarinense falou com exclusividade com o ex-árbitro, que nega ter falado com o dirigente do Avaí.
Barilari é acusado de ter enviado mensagens ao presidente Zunino, entre junho e setembro de 2008, propondo resultados favoráveis ao time catarinense no Campeonato Brasileiro da Série B, mediante o pagamento de taxas que variavam entre R$ 10 mil e R$ 15 mil.
O Ministério Público de Santa Catarina estava de posse de um endereço antigo do ex-árbitro e todas as intimações anteriores não obtiveram sucesso. Esta semana, Antunes soube do novo paradeiro de Barilari e encaminhou um
novo pedido de depoimento.
— O
endereço dele em Curitiba está nos autos do processo e pedi que ele fosse intimado. Mas é diferente do que foi passado por ele. Agora é checar novamente, enviar ao cartório, despachar, mandar para o Fórum de Curitiba e o citá-lo — explicou o promotor.
Segundo ele, Barilari precisa se pronunciar sobre o caso e terá 10 dias para fazer a sua defesa assim que receber a citação dos oficiais de Justiça.
Até lá, Mello diz que nada mudará. O processo, que corre em segredo de Justiça, na 4ª Vara Criminal de Florianópolis, está parado justamente por aguardar a manifestação do acusado.
Barilari está sendo processado por crime de extorsão e, se comprovada a fraude, pode pegar entre quatro e 10 anos de detenção. Contudo, esse prazo pode diminuir, pois o processo visa mostrar se as acusações são verdadeiras ou não para se dar uma sentença, absolvendo ou condenando. Tudo vai depender das provas.
Confira a entrevista de
Eduardo Barilari
Diário
Catarinense — Na semana passada, o presidente do Avaí, João Nilson Zunino, disse te sofrido tentativa de extorsão por parte de um árbitro de futebol, na Série B de 2008, e o seu nome veio à tona. Como você recebeu essa notícia?
Eduardo Barilari — Já foi tudo esclarecido, não teve nada. Foi confusão dele, que recebeu mensagens no celular por parte de outra pessoa e achou que era eu, sendo que tinha perdido o meu chip. Enfim, estão colocando o meu nome, mas foi outra pessoa que passou as mensagens a ele. Inclusive, sei que tem gente me procurando aí e gostaria que fosse publicado no jornal o meu telefone, o meu endereço, onde estou morando. Quero que o pessoal me ache para eu prestar esclarecimentos. Posso garantir que não tive envolvimento algum nisso, não.
DC — Na época, em 2008, você estava trabalhando ainda como árbitro?
Barilari — Não, não. Já estava
fora do quadro de árbitros (da CBF) e não tinha nenhum contato com esse
pessoal mais.
DC — Então, porque você acha que surgiram as especulações sobre o seu nome? Tem justificativa?
Barilari — Talvez porque eu tenha ido assistir aos jogos do Avaí, estava pra fazer um trabalho, e o pessoal achou que eu tinha envolvimento com o esquema (de combinar resultados de jogos).
DC — Você nega, portanto, o envio das mensagens? O presidente do Avaí disse ter recebido mais de 40?
Barilari — (risos)...para o cara passar tanta mensagem vai gastar dinheiro, isso sim...eu li a matéria no jornal. Nego, nego completamente.
DC — Você trabalhou como árbitro em Santa Catarina?
Barilari — Em 1998 e 1999 trabalhei na Federação Catarinense.
DC — Você é natural de
Curitiba?
Barilari — Não, sou natural do Rio de Janeiro e me formei árbitro em Santa Catarina e no Paraná. Tenho certificado das duas federações. Em 1996 me formei na
Federação Paranaense e, em 1997, na Catarinense. Em 1999 fui embora para o Ceará e esses boatos surgiram em 2008, quando eu estava trabalhando na Federação Maranhense. Fiquei 10 anos lá.
DC — Diante dessa situação, o que você pretende fazer? Quer esclarecer tudo?
Barilari — Exato, lógico. Não estou me escondendo de ninguém. Achei estranho sair no jornal que estão me procurando, que não sei o quê. Eu não estou me escondendo de ninguém.
DC — O Ministério Público informou que você foi procurado no Ceará e acabou não encontrado.
Barilari — Me encontraram sim. Teve uma pessoa que foi me entregar uma correspondência, dei o meu telefone, e disse que estava indo para Curitiba e que era para mandar me procurar em Curitiba. Eu só não tinha o endereço, mas dei o meu celular. Um funcionário do Ministério Público foi lá.
DC — Você representava uma associação que tinha por finalidade negociar com árbitros em
atividade e arranjar resultados. Você nega isso?
Barilari — É mentira, não tem nada a ver, não. A própria CBF me chamou no Rio de Janeiro para explicar esses boatos. Estou achando estranho vir à tona essa notícia de novo agora depois de tudo ter sido esclarecido. Não teve prova alguma de que eu estava envolvido em manipulação de resultados. Por isso resolvi fazer uma carta-denúncia. Ficaram me acusando de que eu estava envolvido e o que eu fiz? Denunciei os árbitros que estavam me convidando para participar do esquema.
DC — Foi por causa disso que você decidiu afastar-se do futebol?
Barilari — Exatamente. Me afastei com 43 anos de idade e tinha mais dois anos para trabalhar. Me desgastei, fiquei chateado e, em 2008 não fiz o teste (físico obrigatório para todos os árbitros) e abandonei, pedi licença. Hoje tenho 45 anos e sou empresário, em Curitiba, tenho um buffet. Sou formado em
administração de empresas.
DC — E você
nunca apitou jogos do Avaí?
Barilari — Apitei, apitei. Teve um jogo do Avaí que trabalhei, em Belém, no Pará: Avaí x Paysandu. Foi na Série B de 2007 e o Avaí empatou com o Paysandu lá. Não conhecia ninguém, nenhum dirigente. Não tinha o telefone do Zunino, nem ele tinha o meu. Gostaria de divulgar o meu telefone e endereço atual já que o meu nome saiu na imprensa.
DC — Você teme sofrer algum tipo de punição?
Barilari — Claro que não, eles não têm prova nenhuma. Eu estou tranquilo.
DC — O MP diz ter provas que revelam a sua participação no esquema.
Barilari — A prova que eles devem ter são as mensagens enviadas para o celular do Zunino. Mas qualquer pessoa pode pegar um celular e mandar mensagens. Na época, eu perdi o celular, fui roubado, foi com chip e tudo.
DC
— E, em São José, na Grande Florianópolis, você tem algum imóvel?
Barilari — Eu tinha um
apartamento em São José, mas depois vendi ele, quando fui embora, em 2000.
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