| 04/01/2010 07h01min
A foto ao lado ilustra a história mais dramática desta série de 11 reportagens iniciada segunda-feira passada. O personagem é Luís Carlos Melo Lopes, o Caçapava, volante colorado de 1973 a 1978. Ao seu lado, com a camisa do Inter, está Cláudio Markus, vice-cônsul de Palmas, capital de Tocantins. O ídolo mora no Maranhão. E o que o levou a sentar-se à mesa, com pessoas até então desconhecidas? Abaixo, a resposta.
Colorados de Palmas (TO) costumam se reunir para assistir aos jogos do time. Para o Gre-Nal do dia 25 de outubro de 2009, eles resolveram convidar um ídolo do passado.
Escolheram Caçapava, 55 anos. O descobriram no pequeno município de Timon (MA), a 1,2 mil km de distância. Ele aceitou, mas pediu ajuda para pagar a passagem... de ônibus. Depois de quase 20 horas de estrada, Caçapava encontrou com Cláudio e 300 colorados.
– Pelo Inter, a gente não mede esforços. Foi um final de semana perfeito, com vitória sobre o Grêmio (1 a 0) e novas
amizades – revelou o ex-volante.
Com
problema cardíaco e pesando mais de 100kg, toma seis remédios por dia. Mas ele esqueceu de levá-los a Palmas. A emoção do Gre-Nal e o vinho que regou o costelão levaram-no ao hospital.
– Fraco, parecia que ia desmaiar. Melhorou em dois dias – contou Cláudio.
- Em Timon, trabalha com 800 crianças
De volta a Timon, Caçapava seguiu sua rotina simples. Mora em uma casa de quatro cômodos, numa rua sem calçamento em um bairro pobre.
– Moro só, mas não sou sozinho. Tenho amigos e uma secretária que faz comida e limpa a casa – filosofou ele, que recebe notícias do Inter pelo filho Joner, ex-volante do... Grêmio.
Negando ser pai-de-santo, diz ter “faculdade mediúnica”. O que o alegra e traz grana é lidar com 800 crianças num centro esportivo. A carreira de treinador, que o levou ao Nordeste em 1989, não deslanchou. Prefere revelar talentos. Nas horas vagas, bate um bolinha.
– O médico
me liberou. Mas devagar, para o coração aguentar.
- Ficha do ídolo
- Nome: Luís Carlos Melo Lopes, 55 anos (Caçapava do Sul, em 26/12/1954)
- Onde mora: Timon-MA, sozinho
- O que faz: trabalha com crianças em um centro esportivo, revelando talentos para o futebol
- Ano da estreia: 1972, no Internacional
- Ano do adeus: 1987, no Fortaleza
- Clubes como volante: Inter (1973 e 1978), Corinthians, Palmeiras, Vila Nova-GO, Novo Hamburgo, Ceará e Fortaleza
- Clubes como treinador: Flamengo-PI, River-PI, Piauí e Juventude-MA
- Títulos no Inter: dois Brasileiros (1975 e 1976) e quatro Gauchões (1974 a 1976 e 1978)
- Fundo do baú
- O jogo da vida: é inesquecível a semifinal do Brasileirão de 1975. O Inter fez 2 a 0 no Fluminense diante de 98 mil pessoas. Ninguém acreditava que um time gaúcho calasse o Maracanã.
- Alegria no futebol: ter vencido aquele Brasileiro, o
primeiro de um time do Estado. A vibração no Beira-Rio foi inigualável. Foi uma emoção grande para minha família e para toda a minha
cidade, Caçapava do Sul.
- Se pudesse voltar no tempo: não mudaria nada, só tenho de agradecer a Deus.
- Aprendizado na pior derrota: considero uma derrota ter sido cortado da Seleção que foi à Copa de 1978. Joguei as Eliminatórias e o técnico Coutinho me cortou na hora do bem bom. Aprendi a levantar a cabeça, porque futebol vive também de politicagem.
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