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 | 11/11/2008 20h26min

Mano Menezes: Quando cai, o clube fica mais humilde

Técnico comanda o Corinthians, campeão da Série B, contra o Juventude nesta quarta

Daniel Angeli  |  daniel.angeli@pioneiro.com

Campeão da Série B 2008, o técnico Mano Menezes quer trilhar com o Corinthians o mesmo caminho que percorreu com o Grêmio em 2005: conquista de uma vaga à Libertadores no ano seguinte ao retorno à elite do futebol brasileiro.

Na noite desta quarta, cumprindo tabela pela Série B do Brasileirão, Mano reencontra o Juventude, clube pelo qual trabalhou nas categorias de base — foi vice-campeão gaúcho no time júnior em 1997. Na manhã desta terça, o técnico recebeu o Pioneiro no hotel em que a delegação corintiana está concentrada para o confronto. Confira trechos da entrevista:

Pioneiro: Quais foram as principais mudanças que tu sentiste ao se transferir para o Corinthians? No Grêmio havia pressão, mas ela pode ser comparada àquela que encontraste em São Paulo?
Mano Menezes:
A pressão existe dentro de cada clube pelo resultado. Hoje, no futebol, não tem esse negócio de longo prazo. Você pode fazer um contrato de três anos, mas se não fizer um bom trabalho em 30 ou 60 dias jamais cumprirá esse contrato. Eu procurei respeitar as características do clube, procurando aliar isso com uma filosofia de trabalho. Você vai perder, vai ganhar, atingir ou não o objetivo, mas é preciso manter a linha de trabalho, que é o que lhe dará credibilidade e respeito. E vou levar isso para onde quer que eu vá.

Pioneiro: A experiência de disputar uma Série B faz bem para um clube grande?
Mano:
Tudo tem dois lados na vida. Não entendo que seja necessário um clube grande cair para a Série B para se reorganizar. Isso é conversa fiada, porque você pode se organizar bem antes de cair. Mas, quando cai, e aí vem o lado positivo, o clube fica mais humilde. Você passa a valorizar mais as coisas que são realmente importantes. É meio que uma retomada de alguns aspectos verdadeiros no futebol. E isso eu observei, tanto no Grêmio, como no Corinthians.

Pioneiro: Assim como no Grêmio, no Corinthians tu também tiveste que montar uma equipe nova. Tu estás te especializando em fazer times desacreditados virarem campeões?
Mano:
Quando um técnico inicia um trabalho praticamente do zero, ele tem a oportunidade de construir um equipe. No Grêmio foi assim porque a equipe foi totalmente remodelada durante a competição. E no Corinthians iniciamos a montagem na pré-temporada de um time que pretendemos dar continuidade no ano que vem. Com relação ao trabalho do técnico, alguns têm mais capacidade ou característica para montar equipes e outros começam com uma base mais adiantada. O mais importante de tudo é tu sentires a evolução. O fato de um time estar desacreditado é normal. As pessoas só vão voltar a acreditar quando esse time der resultados.

Pioneiro: Mas tu perdes a confiança do torcedor, como nos rebaixamentos de Grêmio e Corinthians...
Mano: Realmente, é um momento duro quando um clube grande cai de divisão. Os meses seguintes após a queda são de sofrimento para o torcedor, de descrédito e você precisa, em um primeiro momento, recuperar isso. O que normalmente se vê é que na temporada da queda acontecem muitas coisas erradas e por isso o torcedor perde a confiança no time. Muita coisa tem de ter acontecido errado para que um clube grande caia de divisão.

Pioneiro: A experiência de Série B faz bem a um clube grande?
Mano: Tudo tem dois lados na vida. Não entendo que seja necessário um clube grande cair para a Série B para se reorganizar. Isso é conversa fiada, porque você pode se organizar bem antes de cair. Mas, quando cai, e aí vem o lado positivo, o clube fica mais humilde. Você passa a valorizar mais as coisas que são realmente importantes. É meio que uma retomada de alguns aspectos verdadeiros no futebol. E isso eu observei, tanto no Grêmio, como no Corinthians.

Pioneiro: Conquistado o título da Série B, tu pretendes trilhar no Corinthians o caminho que tiveste no Grêmio, ou seja, sair da Segundona para a Libertadores?
Mano: Esse é o caminho natural. Clubes grandes precisam estar nas competições grandes. E um clube do porte do Corinthians precisa pensar em voltar para a Libertadores, até porque nunca ganhou a competição. Já foi campeão do mundo, mas nunca ganhou uma Libertadores (o Corinthians disputou e conquistou o 1º Mundial da Fifa, em 2000, no Brasil, como campeão do país-sede). Mas isso são os “fatos especiais” que acontecem no nosso futebol, né?

Pioneiro: Teu pensamento era que o título viria no jogo com o Ju?
Mano: É, matematicamente essa era a possibilidade maior. Mas o futebol comprovou, mais uma vez, tudo o que falamos no dia-a-dia, por mais repetitivo que isso possa parecer: todo o jogo tem dificuldades. E o Avaí não fez o que deveria contra o CRB, que já estava rebaixado.

Pioneiro: Tu falaste após o jogo com o Criciúma que não pretendes poupar ninguém. No entanto, sempre existe aquela acomodação natural. Como tu pretendes tratar essa questão com o grupo?
Mano: A partir de sábado, adquirimos uma responsabilidade maior, pois somos os campeões da Série B. Então, temos de jogar os últimos jogos como campeões. A equipe tem convivido bem com essa situação. Conquistamos o acesso contra o Ceará, tivemos dois jogos depois disso e vencemos. A primeira acomodação não houve. Você até relaxa um pouco, mas esse relaxamento também pode tornar a equipe mais solta.

Pioneiro: Tu conheces bem o Juventude. Pelo que acompanhaste de fora, o que achas que deu errado no clube?
Mano: É difícil dar palpite porque você não sabe o que acontece internamente em cada clube. Agora, aquela máxima de que não se pode descuidar de nenhum detalhe pode ter atingido o Juventude. Misteriosamente, uma equipe que vinha na vice-liderança encontrou dificuldades a partir de um determinado momento. Quando começou a recuperar, o Juventude fez uma pontuação normal para estar entre os quatro. No entanto, aquela defasagem criada não pôde ser recuperada.

Pioneiro: Tu tens muitos amigos em Caxias. Essa ligação é o reconhecimento com a cidade que começou a te projetar?
Mano: Sou uma pessoa de relacionamento fácil, mas não sou um homem de muitos amigos, embora o futebol te proporcione ter muitos conhecidos. Respeito todo mundo, continuo sendo o mesmo. Um dia vou deixar de ser técnico, não vou mais aparecer na mídia, mas as pessoas com quem me relacionei vão continuar sendo minhas amigas. Isso é o mais importante.

Pioneiro: Pelos trabalhos que tu estás fazendo nos últimos anos, pensas em Seleção?
Mano: Esse assunto é complicado, porque pode parecer que você está querendo assumir a Seleção no lugar do outro técnico. Acho que isso é natural. Um dia posso receber um convite. Isso, porém, é uma coisa que não deve tirar o sono sob o risco de tu não conseguires fazer o teu trabalho com a dedicação que o clube em que tu estás trabalhando merece. Se a cabeça estiver pensando além, tu não consegues fazer bem o que precisas fazer no momento. Aí, você não tem bons resultados e, conseqüentemente, nunca chegará à Seleção.

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