Dicionário Eleitoral

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Aeroporto

Quando a campanha presidencial ainda começava a decolar, a candidatura de Aécio Neves (PSDB) sofreu turbulências devido à denúncia de que teria beneficiado a própria família com a construção de um aeroporto na cidade de Cláudio (MG), em um terreno que pertencera a seu tio-avô e não muito longe de uma fazenda de parentes. A polêmica dominou o debate político entre o final de julho e o começo de agosto, e limitou o voo do tucano nas pesquisas. Aécio negou a prática de irregularidade, argumentando que a lisura da obra foi atestada pelo Ministério Público e a pista era uma demanda da comunidade. Ainda assim, a acusação seguiu no radar da oposição.

Baixaria

A vulgaridade da briga pelos votos emergiu do submundo da internet para a rede nacional de televisão no último domingo. O candidato Levy Fidelix (PRTB) teve seus 15 minutos de fama e ganhou o troféu baixaria desta eleição quando atacou a comunidade LGBT, relacionou a homossexualidade com a pedofilia e sugeriu "enfrentar essa minoria" no debate da Rede Record: "Aparelho excretor não reproduz". Ao ouvir o candidato, muitos eleitores chegaram a saudá-lo. Outros sentiram saudades do tempo em que Fidelix era apenas o defensor do aerotrem.

Choro

Normalmente, políticos reagem a críticas contrapondo argumentos, devolvendo as acusações ou, em casos como o de Levy Fidélix (PRTB), fazendo barraco (veja o verbete anterior). Mas a candidata Marina Silva (PSB) virou notícia ao responder de forma um tanto rara a ataques de antigos aliados: chorou. Questionada pelo jornal Folha de S. Paulo sobre críticas disparadas pelo PT, Marina verteu lágrimas ao se queixar de Lula, seu ex-chefe: "Eu não posso controlar o que Lula pode fazer contra mim, mas posso controlar que não quero fazer nada contra ele". Lula, que não é de chorar muito, seguiu a cartilha política e devolveu a acusação: "ela é que tem que explicar por que nasceu, cresceu e ganhou todos os cargos no PT e falou mal do PT".

Drogas

Além dos temas tradicionais das campanhas à presidência como saúde e educação, outro assunto passou de mão em mão antes do primeiro turno: a legalização das drogas. Os principais candidatos não quiseram ser pegos em flagrante: Dilma Rousseff (PT) evitou o tema, Marina sugeriu um plebiscito, Aécio disse ser contra, mas não faz questão de anunciar. Os nanicos é que deram bandeira: Luciana Genro (PSOL) e Eduardo Jorge (PV) levantaram o tema sempre que possível em defesa da descriminalização da maconha, para desespero de opositores como Pastor Everaldo (PSC) e Levy Fidélix, que resumiu assim sua posição: "por mim, prendia todos os maconheiros."

Eduardo Campos

A morte do candidato do PSB Eduardo Campos em um acidente aéreo em Santos em agosto não só comoveu milhões de brasileiros, como também sacudiu o cenário eleitoral. Até então, a corrida presidencial estava morna e parecia definida, com a presidente Dilma Rousseff e o tucano Aécio Neves no segundo turno. A disputa ficou eletrizante com a entrada de Marina Silva, que precisou trocar o sonho de concorrer à Presidência por um lugar de vice na chapa de Campos por não ter conseguido criar, a tempo, seu partido (Rede). Nas pesquisas, a ex-ministra do Meio Ambiente apresentou um salto e chegou a ultrapassar a petista nas simulações de segundo turno. Mas, bombardeada por críticas dos adversários e com tempo escasso de TV, começou a despencar - e a certeza de que estaria na votação do fim de outubro virou dúvida.

Fator previdenciário

O fator previdenciário é um assunto que, aparentemente, não será aposentado tão cedo. A medida, que estabelece redução de benefícios para quem soma menos tempo de serviço, vem dando bastante trabalho aos principais concorrentes ao Planalto. Aécio Neves (PSDB) acabou se enrolando: prometeu substituir esse método por outro sistema, mas foi acusado de ter mudado de opinião. Antes, segundo material divulgado pelo próprio PSDB, teria simplesmente prometido acabar com o fator previdenciário. O candidato disse que não disse o que teria dito e a campanha seguiu. Dilma afirmou que não pretende rever a medida, e Marina se comprometeu a estudar uma alternativa.

Gay

Bandeiras de candidatos como Luciana Genro e Eduardo Jorge, o casamento gay e a lei anti-homofobia viraram a polêmica mais quente da campanha presidencial e obrigaram os principais candidatos, sempre lacônicos sobre o tema, a se pronunciar. Marina chegou a surpreender a comunidade LGBT com um programa avançado, mas recuou depois da reação de líderes evangélicos, como o Pastor Malafaia. Para tentar se diferenciar da adversária, Dilma Rousseff e Aécio Neves passaram a defender lei contra a homofobia.

Horário eleitoral

Diz-se que tempo é dinheiro, mas, na política, tempo são alianças. A formação de chapas que congregam os mais diferentes partidos (algumas vezes, com tanta afinidade quanto um saco de gatos) é uma das estratégias empregadas por dirigentes e candidatos para ganhar segundos preciosos nos programas gratuitos de TV e rádio. O direito a tempo no horário eleitoral, além de acesso ao fundo partidário e aos debates de rádio e TV, contribui para o surgimento e a manutenção de partidos com pouca (ou quase nenhuma) representatividade social.

Inflação

Dilma Rousseff passou os três meses repetindo que a inflação está sob controle, como nos últimos 11 anos. Marina Silva e Aécio Neves insistiram no contrário. Foi assim que o dragão, quase ausente nas duas disputas presidenciais anteriores, voltou a circular com força, tornando-se um dos temas centrais da campanha.

Jornal Nacional

A bancada do telejornal de maior audiência da TV brasileira virou palco de uma polêmica. Por conta das entrevistas com perguntas incisivas, os apresentadores William Bonner e Patrícia Poeta ouviram críticas de todos os lados. Após as sabatinas com Aécio Neves e Eduardo Campos, Bonner reagiu:
"Em todas as entrevistas, fiz e farei as perguntas que os candidatos prefeririam não ter que ouvir. Assuntos que lhes são desconfortáveis, incômodos”, escreveu, no Instagram. O recado não surtiu efeito. Após sabatina com a presidente Dilma Rousseff, eleitores simpáticos ao PT engrossaram as queixas. Nada que fizesse a Rede Globo mudar o tom das entrevistas em outros telejornais.

Karl Marx

O tempo passa e Karl Marx mantém um espaço cativo — ainda que modesto — no debate político brasileiro por meio de partidos como o da Causa Operária e dos comunistas Brasileiro e do Brasil. Já foi mais temido, como na época em que alguns acreditavam que os seguidores das ideias de figuras como Marx e Engels se alimentavam de criancinhas. Ainda desperta temor entre parte dos eleitores de que venha a inspirar a tal conversão do Brasil em Cuba, mas, por enquanto, só vieram os médicos.

Lápis

A revisão de alguns pontos do programa de governo da candidata Marina Silva (PSB) lhe valeu uma das críticas mais marcantes do primeiro turno. Aécio Neves (PSDB) disse que entregaria um programa "feito à caneta", e não "feito a lápis", ou seja, capaz de ser reescrito como o de Marina — que reviu a ampliação de direitos dos gays após alguns tuítes mal-humorados do pastor Silas Malafaia. Dilma também utilizou a imagem do lápis como símbolo da fragilidade das convicções da ambientalista. Uma das coordenadoras da campanha de Marina, Neca Setubal, respondeu dizendo que os adversários não haviam apresentado planos de governo "nem sequer escritos a lápis".

Mercado

O mercado financeiro, arisco e assustadiço feito um animal selvagem, foi um dos personagens da campanha no primeiro turno. O bicho, pelo jeito, tem certo receio de Dilma Rousseff (PT). Bastou a atual presidente e candidata à reeleição se recuperar nas pesquisas e surgir à frente de Marina em simulações de segundo turno para a Bolsa despencar e o dólar disparar, em 29 de setembro. As ações de estatais como a Petrobras estão entre as mais arredias — para investidores, vitória da oposição significaria menor interferência do governo nos negócios. O mercado, como as onças, não gosta de ser cutucado.

Nova política

Boa parte do debate público travado durante a campanha presidencial envolveu um termo repetido pela candidata Marina Silva (PSB): a tal "nova política". Muitos entenderam o que é, outros tantos, não. A candidata defendeu que se trata de ir além dos partidos para identificar e buscar o apoio de pessoas capazes em qualquer um deles. O candidato a vice de Dilma, Michel Temer (PMDB), argumentou que o desprezo às estruturas partidárias é uma tendência "autoritária". Candidato ao Piratini e apoiador de Marina, José Sartori (PMDB) arriscou uma explicação: "a nova política é fazer as coisas como antigamente se fazia".

Ova

Durante um debate, um incauto Aécio Neves (PSDB) perguntou à gaúcha Luciana Genro (PSOL) quais suas propostas para educação. Depois de ouvir duras críticas da candidata, segundo a qual o tucano falava "como se no governo do PSDB nunca tivesse havido corrupção", um ainda mais incauto Aécio sustentou que Luciana agia como "linha auxiliar do PT". Ouviu dela: "Com todo o respeito, linha auxiliar do PT uma ova!". A resposta varreu a internet com montagens cômicas e se tornou um dos momentos célebres da campanha.

Petrobras

Prospectando argumentos para desgastar o governo de Dilma Rousseff, a oposição encontrou um vasto reservatório de polêmicas em contratos envolvendo a poderosa Petrobras. Suspeitas sobre o acordo de compra de uma refinaria nos Estados Unidos e denúncias do ex-diretor Paulo Roberto Costa sobre pagamento de propina a políticos em contratos milionários, entre outros temas, ganharam o noticiário. Dilma seguiu a receita do antecessor Lula: negou ter conhecimento de qualquer irregularidade e se recuperou nas pesquisas.

Qualidade

Com quase o triplo do tempo de horário eleitoral que os outros concorrentes, Dilma Rousseff se esmerou na TV. Sob a batuta do marqueteiro João Santana, os programas da petista tiveram uma qualidade técnica comparável a Hollywood, recebendo elogios até de adversários. Já a qualidade do conteúdo não foi tão consensual assim. Os produtores tentaram valorizar as realizações dos 12 anos de gestão petista, mesclar promessas com momentos de emoção, sem abandonar os ataques, com foco principal na rival Marina Silva.

Religião

Os três principais candidatos a presidente tomaram todo o cuidado do mundo para não desagradar os evangélicos. Entende-se: entre a década de 40 e os anos 2010, esse contingente saltou de 2,6% da população brasileira para 22,1%. A força política se expressa em números. Hoje, a Frente Parlamentar Evangélica conta com 70 deputados e três senadores. E, segundo especialistas, tende a crescer ainda mais. Nas eleições deste ano, o número de candidatos pastores cresceu 40%, saltando de 193 para 270, enquanto apenas 16 concorrentes se apresentam como "padres".

Selfie

O smartphone virou uma arma em busca da popularidade nas redes sociais. Na eleição do selfie, candidatos aproveitaram comícios e encontros com famosos e anônimos para tirar um autorretrato. Mas nem sempre ficaram bem na foto.

Terrorismo

O disparo de críticas teleguiadas por parte do PT tendo como alvo a candidatura de Marina Silva foi interpretado por partidários e defensores da ambientalista como terrorismo político semelhante ao que os petistas reclamaram ter sofrido durante a campanha que elegeu Lula pela primeira vez, em 2002. Na época, a propaganda do PSDB enfatizava o uso da palavra "medo" para insinuar o que Lula poderia fazer como presidente. A propaganda petista, desta vez, comparou a eleição de Marina a uma "aventura".

Urna biométrica

Cerca de 15% do eleitorado brasileiro vai utilizar o dedo para indicar quem deseja ver eleito. Não será necessário apontar para o candidato, mas as impressões digitais serão confirmadas por meio das chamadas urnas biométricas — para liberar a votação, a digital será comparada com um cadastro prévio feito pelo eleitor. A principal intenção é reduzir o risco de fraude. O cidadão ainda aguarda alguma medida para reduzir o risco de fraude envolvendo os candidatos depois de eleitos.

Vaca

Dilma Rousseff ressuscitou um dito popular dos nossos avós para assegurar que jamais mudará a legislação trabalhista. Disse que não iria mexer na CLT "nem que a vaca tussa". A militância petista embarcou na onda e promoveu atos com esse nome por todo o Brasil.

Whatsapp

Especialistas em marketing esperavam que o WhatsApp se tornasse uma das vedetes da corrida eleitoral deste ano. O aplicativo possibilitaria os fãs de cada candidato se juntarem aos grupos de discussão e ampliar o engajamento da militância. Concorrentes como a presidente Dilma Rousseff chegaram a adotar a ferramenta, mas nem todas as campanhas se empolgaram. Ficou para as eleições de 2016.

Xodó

Ele gravou horário eleitoral gratuito, fez caminhada, participou de comícios. Luiz Inácio Lula da Silva não concorre a nenhum cargo público em 2014, mas teve uma agenda parecida com a de um candidato. Para tirar uma lasquinha de sua popularidade, os candidatos petistas tentaram colar na imagem dele - e os adversários moderaram nas críticas. Só que nem tudo é sucesso. Um dos pupilos de Lula, o ex-ministro Alexandre Padilha empacou nas pesquisas na disputa para tentar quebrar a hegemonia tucana em São Paulo.

YouTube

Vídeos postados no YouTube deram trabalho para a Justiça Eleitoral. Eleitores aproveitaram uma gravação de Luiz Inácio Lula da Silva em defesa da candidata ao governo goiano Marina Sant´Ana para fazer uma montagem, como se o ex-presidente estivesse pedindo voto para a concorrente ao Planalto Marina Silva. Na disputa por uma vaga à Câmara Federal por São Paulo, o deputado Tiririca também viu um dos seus vídeos saírem do ar. Mas, no seu caso, o problema foi outro: ele parodiou uma canção de Roberto Carlos e a gravadora do Rei não gostou.

Zoeira

A internet mostrou que a eleição também tem seu lado divertido. Milhares de anônimos (ou nem tanto) se dedicaram a acompanhar os momentos mais importantes da campanha para elaborar memes, criar paródias e fazer graça. Esta foi a Eleição da Zoeira.