Ao Pé da Letra
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Bebendo Vinho - Wander Wildner (1994)
"É uma música sobre solidão. Estava morando no Rio há pouco tempo, sozinho, quando cheguei em casa e recebi uma carta (era 1993, não havia e-mail) avisando do roubo do meu cachorro aqui no Sul. Eu havia passado no supermercado e comprado um vinho. Sentei e a letra saiu naturalmente."
A carreira solo do ex-vocalista dos Replicantes ainda era incipiente quando, no início dos anos 1990, ele se mudou para o Rio de Janeiro. "Seguindo só o seu caminho", Wander Wildner estava trabalhando com direção de palco e iluminação cênica. Certa noite, ao chegar em casa, a solidão bateu mais forte.
À tristeza pela notícia do roubo do cachorro - "Mas agora me dou conta de que o muro era baixo, ele pode ter fugido, simplesmente", recorda, 20 anos depois - somou-se uma certa melancolia inerente à vida solitária no bairro do Catete, bem perto do centro histórico do Rio.
Wander escreveu rapidamente a letra, mas só foi musicá-la um ano depois, ao voltar à capital gaúcha.
- Geralmente funciona assim: escrevo a letra e a deixo ali, pronta. Depois é que pego o violão e fico tocando, buscando uma melodia. Às vezes encaixa logo, às vezes demora - explica.
Em seu apartamento em Porto Alegre, Wander recebeu ZH e detalhou a letra de Bebendo Vinho, confira.

Não tenho ninguém aqui do meu lado
Meu cachorro Vênus foi roubado
Fiquei um pouco preocupado
Vou me entorpecer bebendo vinho
Eu sigo só o meu caminho
Vou me entorpecer bebendo vinho
Eu sigo só o meu caminho
Chove pra caramba aqui no Rio
Penso no sul aquele frio
A TV diz que vai fazer sol
Não sei se é bom ou é pior
Vou me entorpecer bebendo vinho
Eu sigo só o meu caminho
Vou me entorpecer bebendo vinho
Eu sigo só o meu caminho
No rádio toca um velho rock'n'roll
Fico pensando aonde estou
Nada satisfaz nesta hora
Se é assim eu vou embora
Vou me entorpecer bebendo vinho
Eu sigo só o meu caminho
Vou me entorpecer bebendo vinho
Eu sigo só o meu caminho
- Ele tinha um ano quando me mudei para o Rio e o deixei aos cuidados de uma amiga. Era um labrador claro, da cor da superfície do planeta Vênus, por isso este nome.
- Àquela época não havia vinho bom nos arredores da minha casa, no Rio. Encontrei uma garrafa de um tinto que era produzido em Duque de Caxias, e só. Imagina, um vinho de Duque de Caxias! Era ruim demais. Naquele dia, comprei uma massa para fazer em casa. Foi o que marcou aquela noite, a notícia do roubo do Vênus e aquele vinho ruim que eu havia comprado para beber durante o jantar.
- Eu não tinha TV em casa. Mas estava escrevendo uma música sobre solidão, aí lembrei de diversos momentos em que me senti só, das imagens que ficam na nossa cabeça e que são associadas a esses momentos. Este, com a televisão ligada, é um deles.
- É o mesmo caso da TV: associo momentos de solidão a períodos em que eu ficava ouvindo rádio. Não estava necessariamente ouvindo naquela noite, mas os momentos em que Ipanema era minha companhia, em Porto Alegre, e a Fluminense FM, no Rio, foram marcantes para mim. Representam momentos solitários.