• A reação do ex-presidente às investidas do MPF seriam uma forma de tentar embaraçar as investigações.
Deltan Dallagnol revisita o mensalão para afirmar que Lula teria sido informado sobre o esquema, mas nada teria feito para cessá-lo. O procurador acusa Lula de desqualificar o processo, atitude semelhante a que estaria tomando agora. Dallagnol lembra que o petista já é réu por tentativa
de obstrução da Justiça e que age como um assassino que executa sua vítima e depois tenta silenciar as testemunhas.
• Para o MPF, os desvios na Petrobras representam o maior escândalo de corrupção da história do país, tornando as administrações petistas uma propinocracia, "um governo regido pelas propinas". Deltan Dallagnol afirma que 16 empreiteiras se uniram num cartel criminoso para, com a anuência das maiores autoridades do governo federal, direcionar licitações, superfaturar obras e pagar R$ 6,2 bilhões em propinas para políticos e executivos da Petrobras, causando um prejuízo de R$ 42 bilhões à estatal.
• Os procuradores afirmam que, num regime de presidencialismo de coalizão vigente na política nacional, o partido que conquista a Presidência da República precisa construir um base de sustentação no Congresso capaz de aprovar as medidas de governo. Contudo, essa governabilidade teria sido corrompida com o loteamento político-partidário dos ministérios e estatais, com o intuito de ampliação da base aliada e montagem de esquemas de corrupção.
• Deltan Dallagnol sustenta que, investido do cargo de presidente da República, Lula teria o poder supremo de decisão para avalizar as indicações políticas, distribuindo cargos sabidamente com fins arrecadatórios. O procurador aponta que, em 2002, quando venceu a eleição, o PT tinha PP e PMDB como adversários. Ao chegar ao poder, esses partidos teriam sido atraídos para o governo com a oferta de postos na direção da Petrobras, o que permitiu à base aliada saltar de 254 deputados para 352 deputados.
• Com uma base parlamentar expressiva e acesso aos cofres públicos, Lula teria engendrado uma operação para garantir a perpetuação do PT no poder. Essa perenidade se daria por meio da compra de apoio político – com nomeações a cargos públicos – e por financiamento ilegal de campanhas eleitorais com dinheiro desviado de ministérios e estatais. Essa operação teria perdurado durante mais de 10 anos, desde a montagem da base aliada até a deflagração da Operação Lava-Jato.
• Para afiançar que Lula era o "grande general" do esquema, o MPF aponta que pelo menos seis pessoas próximas ao
ex-presidente foram beneficiadas pelos desvios na Petrobras. Deltan Dallagnol afirma que seria impossível que Lula não patrocinasse a corrupção tendo no núcleo operacional das transações pessoas que desfrutavam de sua confiança, como José Dirceu, os ex-tesoureiro do PT Paulo Ferreira e João Vaccari Neto, o marqueteiro João Santana, o pecuarista e seu amigo pessoal João Carlos Bumlai, o ex-deputado André Vargas e o tesoureiro de sua campanha em 2006 José de Filippi Jr.
• O MPF resgatou o processo do mensalão para dizer que o pagamento de mesada a parlamentares e a corrupção na Petrobras são "duas faces da mesma moeda". A diferença, dizem os investigadores, é que no Petrolão a compra de apoio político era feita por meio da distribuição de cargos
na burocracia estatal. Contudo, em ambos os esquemas os objetivos eram os mesmos: corromper a governabilidade, enriquecimento ilícito e perpetuação no poder.
Outra semelhança seriam a atuação em núcleos políticos, operacionais e empresariais.
• Da mesma forma como teria ocorrido no petrolão, seria impossível Lula não ter conhecimento do mensalão tendo pessoas próximas tão envolvidas com a compra de apoio parlamentar ao PT. Para comprovar essa tese, os procuradores citaram os nomes de 12 políticos e dirigentes partidários, entre eles José Dirceu, o ex-tesoureiro Delúbio Soares, o ex-presidente do PT José Genoino e o
ex-secretário-geral Silvio Pereira, além de parlamentares do PP, PTB, PL e PMDB.
• Para os procuradores, José Dirceu teria sido injustamente imputado como o comandante do mensalão. O MPF afirma que a continuidade do esquema após a saída dele do governo, em 2005, mostra que o chefe era alguém acima do ex-ministro da Casa Civil. "De fato, aí estava o verdadeiro maestro dessa orquestra criminosa: Lula", afirmou Deltan Dallagnol. No entendimento do procurador, Lula era o elo comum e necessário para as duas máquinas que faziam
o esquema rodar, o governo e o PT.
• Na condição de líder maior do PT e presidente da República, Lula seria o ponto comum entre governo e partido. Também seria o vértice dos vários órgãos públicos nos quais o esquema de corrupção se disseminou. Para garantir a governabilidade e a perpetuação no poder, o ex-presidente teria permitido a ocorrências de fraudes não só na Petrobras, mas também na Eletrobras, no Ministério do Planejamento, no Ministério da Saúde e na Caixa Econômica Federal. Seria também o responsável por substituir pessoas que ocupavam cargos menores, mas tinham participação ativa nas fraudes.
• Para comprovar o suposto enriquecimento ilícito do
ex-presidente, o MPF aponta que ele teria recebido, de forma dissimulada, pelo menos R$ 3,7 milhões da OAS. Esse dinheiro seria proveniente da aquisição, reforma e decoração do triplex no Condomínio Solaris, no Guarujá,
e no armazenamento de seus bens pessoais após a saída do Palácio da Alvorada. O MPF ainda investiga o pagamento por palestras, que teriam rendido outros R$ 7,5 milhões
a Lula. Entre 2011 e 2014, o Instituto Lula teria recebido
R$ 30 milhões de empreiteiras envolvidas na Lava-Jato.
• O MPF acredita que Lula foi o maior beneficiado pelo mensalão e pelo petrolão. Juntos, os dois esquemas seriam o cerne da propinocracia supostamente instalada pelo PT no país. Os investigadores dizem que esse regime corrupto tornou o petista mais forte politicamente, o suficiente para ampliar sua base aliada, e economicamente mais robusto, o bastante para ganhar eleições e beneficiar aliados políticos. Por último, o MPF diz que ele incrementou seu patrimônio de forma ilícita.
• Os procuradores afirmam que um esquema como o petrolão só teve tamanha expressividade graças ao comando exercido pelo ex-presidente. Triplamente beneficiado – com a governabilidade, o enriquecimento ilícito e a perpetuação no poder –, Lula seria a única pessoa capaz de reger a propinocracia, com total ascendência sobre todos os envolvidos. A magnitude da falcatrua seria expressa pela participação de líderes partidários, ministros de Estado, servidores públicos, grandes empresas privadas e doadores de campanha, totalizando R$ 6,2 bilhões em propinas.
• Para reafirmar a tese de que Lula é o comandante máximo do petrolão, o MPF listou os depoimentos de pelo menos cinco pessoas investigadas na Lava-Jato. De acordo com os autos dos processos, os ex-parlamentares Pedro Corrêa e Delcídio Amaral, o lobista Fernando Soares, o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró e o executivo Fernando Schaim teriam dito à força-tarefa que Lula chefiava e tinha conhecimento dos meandros do que ocorria na Petrobras.