PRIMEIROS AUTORES
Antes das pesquisas, costumava-se considerar Araújo Porto Alegre o primeiro autor de teatro do Rio Grande do Sul. O pesquisador descobriu outros candidatos a pioneiros da dramaturgia gaúcha: um anônimo que escreveu O Político, e Liberal, por Especulação (1832); José Manuel Rego Vianna, com o drama Quarenta Anos ou O Negociante Colono (1836); e Manuel José da Silva Bastos, autor de O Castelo de Oppenheim ou O Tribunal Secreto (1849). Fischer ainda tomou conhecimento da existência do texto da peça O Amor d'Estranja (1811), de Hipólito José da Costa, que assumiria, portanto, a primazia.
DESONRA COMO TEMA
Se no teatro grego antigo era a desmedida que provocava a tragédia, em diversas peças do teatro gaúcho do século 19 a função cabia à desonra. As causas mais frequentes eram calúnia ou difamação, perda da castidade da filha solteira e, no caso dos homens, falência nos negócios. O adultério feminino também era severamente punido na dramaturgia. No mundo oitocentista, a perda da honra representava o fim do convívio social, como aparece em peças como A Calúnia (1896), de Anna Aurora do Amaral Lisboa.
JESUITISMO NA MIRA
Em uma época na qual o poder da Igreja se misturava com o do Estado, algumas peças colocavam em cena críticas à alienação e à repressão que os autores identificavam na institucionalização do catolicismo. Havia um embate político entre a maçonaria e a Igreja, o que se refletiu em artigos na imprensa e também nas peças de teatro escritas no século 19. Isso fica claro em obras como Adelina (1879), de Damasceno Vieira, em que um personagem faz um brinde "à prosperidade da Maçonaria brasileira e à extinção dos jesuítas".
DIVÓRCIO EM CENA
O divórcio foi permitido em lei no Brasil apenas em 1977, mas no século 19 algumas peças já criticavam a indissolubilidade do casamento. Foi o caso de O Marido de Ângela (1884), de Joaquim Alves Torres; Arnaldo (1886), de Damasceno Vieira; e Janina (1900), de Mário de Artagão. Uma nota no preâmbulo da edição da peça de Artagão indicava que "o autor pressupõe uma atualidade em que estejam vigorando leis sobre o divórcio absoluto".
O DRAMA ABOLICIONISTA
Não apenas o teatro foi um meio de veiculação de ideias abolicionistas, como a renda obtida com algumas encenações foi revertida para a compra da liberdade de escravos. Foi preponderante o papel da Sociedade Partenon Literário, grupo que reuniu interessados entre 1868 e a década de 1880 em Porto Alegre. O debate pelo fim da escravidão era feito, principalmente, por personagens brancos. Caso interessante foi o do dramaturgo Arthur Rocha, que criou heróis negros, chegando a interpretar um deles em uma representação da peça José (1877).
O IDEAL REPUBLICANO
O Partenon Literário estimulou o "teatro de tese", aquele utilizado para defender uma causa. Ao lado do abolicionismo, o ideal republicano estava presente em peças como Escrava e Mãe (1880), de José Alves Coelho da Silva; Lucinda (1875), de Hilário Ribeiro; e Estrelas e Diamantes (1874), de João da Cunha Lobo Barreto. Era o clamor pelo fim da monarquia em um momento no qual a corrupção imperava. Os gaúchos se juntaram à causa nacional depois que o sonho de uma República Rio-Grandense foi solapado.
A MULHER COMO AUTORA
A primeira mulher gaúcha a escrever uma peça de teatro foi Maria da Cunha, com o drama Uma Lágrima Derramada ou O Ramo de Violetas e a comédia A Flor do Deserto, ambas em 1887. Sua obra é caracterizada por um romantismo exacerbado. Já no período republicano, Andradina de Oliveira escreveu três dramas em 1891 e, anos depois, uma comédia e um drama histórico. Anna Aurora do Amaral Lisboa é outra autora da época, com textos marcados pela crítica à hipocrisia social, especialmente dos homens, que supostamente faziam de tudo para levar moças de família para o mau caminho.
A COMÉDIA
Em torno de um terço das peças gaúchas do século 19 era do gênero comédia. Entre as publicadas, foram cerca de 50, incluindo as 17 assinadas por Qorpo-Santo. Vale notar que ainda vigorava a posição secundária do gênero. Mesmo assim, era difícil encontrar um autor de drama que não tivesse se aventurado também pelo humor. Nas comédias gaúchas do século 19, as tramas giravam em torno de conflitos decorrentes de namoro e casamento, como ciúme e engano. Molière era uma influência entre os dramaturgos.