Escutar a música que faz recordar de uma passagem feliz da vida é ter saudade de quem um dia fomos. Ao contrário da memória objetiva que a fotografia e o vídeo oferecem, o som permite viajar por lembranças imaginadas de nossas melhores épocas. No recolhimento das noites mais frias, a melancolia se combate melhor com o afago da música preferida a nos dizer que qualquer dor passará. A música é uma amiga que se oferece para dividir o peso da existência que carregamos sozinhos sobre os ombros.
Trabalhadores noturnos e solitários como vigilantes, plantonistas de farmácia e motoristas são parte do público que na Serra tem Edson de Souza, 43 anos, como um amigo que os transportam de volta a momentos felizes com um simples toque no play. No inverno, atesta o radialista, sua audiência é mais sensível e solidária. Não é raro que um ouvinte ofereça uma música aos colegas de profissão que estão trabalhando na noite fria, como se fosse uma boa xícara de café para esquentar. Na noite mais gelada deste ano, em que os termômetros marcavam 0ºC na região, o radialista descumpriu o próprio protocolo ao atender um ouvinte que insistia em fazer repetidas ligações a cobrar para o programa. Era um pai que foi até um orelhão para pedir uma música em homenagem à filha, aniversariante. O ouvinte pediu ainda 10 minutos até que ela fosse tocada, para que tivesse tempo de voltar para casa e gravar. A música era Camila, da banda Nenhum de Nós, que a menina gostava por ter o seu nome.
No inverno, atesta o radialista, sua audiência é mais sensível e solidária. Não é raro que um ouvinte ofereça uma música aos colegas de profissão que estão trabalhando na noite fria, como se fosse uma boa xícara de café para esquentar.
Terapeuta das ondas curtas, Edson verifica na cumplicidade que o rádio possibilita ter com os ouvintes que a música é o alívio certeiro após um dia estressante. No programa Linha Direta, que preenche as noites da Spaço FM, a musicoterapia de Edson atende por Músicas da Minha Vida. É o nome de um quadro dedicado a seleções feitas pelo público, com canções que marcaram suas trajetórias. As listas chegam carregadas de nostalgia: aquela que marcou uma viagem inesquecível; a que tocava no primeiro beijo com a amada; a preferida de um ente que faleceu; até mesmo a ligação com um objeto marcante, como a fita k-7 do cantor Amado Batista que recentemente uma ouvinte disse ter sido o primeiro presente que recebeu.