É francesa e não tem tradução a palavra que Silvério Salvati, 52 anos, emprega para explicar a singularidade do vinho produzido pelas suas mãos: terroir. O termo faz referência à influência que o solo e o clima exercem no desenvolvimento da uva, que dá a cada bebida uma identidade singular. O homem que experimentar cada uma das 10 mil variedades de uvas viníferas existentes, explica Salvati, terá de percorrer todas as vinícolas, conhecer toda técnica de cultivo e de colheita, as condições de clima e altitude de cada região e as mãos de cada produtor, para que possa começar a pensar em esgotar as possibilidades da bebida. O vinho é infinito, porque é único.
Infinitos são também os significados atribuídos à bebida que parece ter sido feita para celebrar o encontro. Nas palavras proferidas por Silvério Salvati ao poeta Marco de Menezes, 48, em uma tarde na cantina Salvati & Sirena, em Bento Gonçalves, o vinho socializa uma civilização. Do jantar romântico ao debate político, da confraternização entre amigos às refeições da família, é um convite à conversa.
Para o poeta, o vinho faz experimentar camadas mais profundas da realidade. É uma bebida que não encerra, mas sim eleva o pensamento. Salvati propõe o termo: transe. E acrescenta: ao elaborar um vinho que só ficará pronto em 12 anos, o produtor também é um visionário.
Não se serve um bom vinho sem contar a história por trás daquele rótulo, exemplifica Salvati. O líquido engarrafado tem um pouco da alma de quem dedicou anos de trabalho e pesquisa ao seu aperfeiçoamento, carrega o envolvimento da região, as características que lhe dão a cor, o sabor e o cheiro. O poeta vai além. Menezes considera que a bebida que regou o banquete filosófico de Platão, há mais de dois mil anos, aproxima o homem de sua dimensão visionária. Faz acessar camadas mais profundas da realidade. É uma bebida que não encerra, mas sim eleva o pensamento. Salvati propõe o termo: transe. E acrescenta: ao elaborar um vinho que só ficará pronto em 12 anos, o produtor é também um visionário.