O dia que começa com o sabor de café é um dia promissor. Não é por outra razão que a bebida serve como o verdadeiro despertador para aqueles que, tão logo o dia amanhece, estão à procura do primeiro gole para encarar a rotina, seja ela corrida como a do motoboy, que enxuga a taça como se fosse um chopp na Oktoberfest, ou pacata como a do aposentado, que eleva à xícara de encontro à boca como se experimentasse um vinho fino.
No Gato Preto, que ao lado do Bar 13, da Bomboniére Paris, do Café Nobre e do Bouticão de Ouro é um dos bares-símbolo que ainda mantêm as portas abertas no centro de Caxias do Sul, a confraria do café começa às 7h. Uma hora antes, o dono Ademar Turani já passou na padaria para garantir 25 pães da primeira fornada do dia. O sanduíche com presunto, queijo e salame é o acompanhamento indispensável do café da lancheria do bairro São Pelegrino. Feito na hora e na frente do freguês, o sanduíche é tão irresistível quanto a bebida recém passada.
Entre um gole na bebida fumegante e uma mordida no pão crocante, dezenas de vidas que não estão ávidas por um sinal wi-fi ou um check-in na rede social, mas sim por um café para aquecer o corpo e uma conversa para aquecer a alma, se reúnem pelo prazer do convívio.
O lanche é um clássico. Tanto que a frequentadora Ilva Boniatti, por exemplo, que não gosta muito de salame, pede o seu sanduíche com salame mesmo. Foi o marido quem a alertou que seria falta de educação desarmonizar a fórmula consagrada. Professora aposentada da UCS, Ilva é das poucas mulheres assíduas da freguesia de Ademar. Chega por volta de 8h com o marido e saboreia o café da manhã folheando o jornal, começando pela frase destacada do dia na coluna do frei Jaime Bettega e depois o noticiário esportivo (é grená fanática). Quando o companheiro segue para o trabalho, ela se encaminha para as atividades do dia levando na bolsa metade do sanduíche envolto num guardanapo.