Cenário inglório
A
crise do transporte público de Blumenau, evidenciada ao longo dos últimos meses em função de sucessivas paralisações e falta de ônibus nas ruas, resultou numa decisão sem precedentes na história do município. Pressionado após motoristas e cobradores ameaçarem, por causa de salários atrasados, cruzar os braços mais uma vez – o que acabou ocorrendo no início da semana passada –, o poder público anunciou no dia 8 de novembro a intervenção no Consórcio Siga, responsável pela operação do serviço, e na Nossa Senhora da Glória, empresa que responde por 66% dos quilômetros rodados pelo Siga na cidade.
A medida é prevista em lei, mas normalmente tomada só em últimos casos, quando a prestação do serviço à comunidade atinge níveis críticos. A expectativa é de que a partir de agora os interventores nomeados pelo poder público – Sérgio Chisté, no Siga, e Jardel Fabrício Rangel, na Glória – levantem informações e tracem um raio-X tanto do Consórcio quanto da empresa. Eles foram nomeados por um prazo de 90 dias, prorrogáveis por mais 90, e terão a missão de apontar se a manutenção do sistema é viável ou não.
Pivô da crise do transporte, a Glória, fundada pela família Sackl em 1962, foi vendida em 2013 para o empresário mineiro José Eustáquio Ribeiro de Urzedo. No dia 9 de novembro, ao deixar sua sala na sede da empresa, na Rua 2 de Setembro, bairro Itoupava Norte, após a intervenção da prefeitura, Eustáquio revelou que as dívidas da companhia somam R$ 128 milhões. A situação, porém, não é delicada apenas no campo financeiro.
Longe dos holofotes, a Glória é alvo de uma disputa que corre nos bastidores. Ex-sócio da empresa, Múcio Brandão Madureira briga na Justiça para voltar a fazer parte do negócio. Ele alega ter sido destituído da sociedade de maneira irregular.
Trocas de acusações entre antigos parceiros de negócios tecem um enredo contraditório e nebuloso, que envolve questões societárias e denúncias sobre uma suposta má gestão na Glória que teria culminado no agravamento da crise da principal concessionária do transporte público blumenauense.
Os fatos e evidências e a recente intervenção do poder público no negócio colocam em xeque as condições de operação de uma empresa que responde por dois terços do transporte público em Blumenau e deixam reféns 125 mil passageiros do sistema, que no início dos últimos meses saíram de casa pela manhã sem a certeza de que encontrariam ônibus para chegar aos seus destinos.
QUEM É QUEM NA HISTÓRIA
Conheça os personagens principais do imbróglio que envolve a situação da Glória e do transporte coletivo de Blumenau.
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José Eustáquio Ribeiro de Urzedo
Sócio majoritário e diretor-administrador da Glória. Atuou no ramo de transporte público de Campinas (SP) entre o final da década de 1990 e início dos anos 2000.
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José Eustáquio Ribeiro de Urzedo
Glória
Fundada em 1962 pela família Sackl, é responsável por 66% dos quilômetros rodados pelo Consórcio Siga em Blumenau. Foi vendida para o empresário José Eustáquio Ribeiro de Urzedo em agosto de 2013.
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Glória
Alexandro Roberto Maba
Advogado de Múcio Brandão Madureira, ex-sócio da Glória.
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Alexandro Roberto Maba
Humberto Jorge
Sackl, o Betinho
Sócio e um dos administradores da Glória. Anunciou e desmentiu a venda da empresa em 2013.
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Humberto Jorge
Sackl, o Betinho
Múcio Brandão Madureira
Ex-sócio da Glória. Foi destituído e retirado da sociedade. Reivindica na Justiça o direito de retomar o cargo.
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Múcio Brandão Madureira
Antônio
Carlos Marchiori
Advogado da Glória e do Consórcio Siga
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Antônio
Carlos Marchiori
Hedwig Faes
Consultor empresarial que trabalhou na administração da Glória entre dezembro de 2010 e dezembro de 2012.
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Hedwig Faes
Napoleão Bernardes
Prefeito de Blumenau. Partiu dele a decisão de fazer a intervenção no Consórcio Siga e na Glória.
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Napoleão Bernardes
Carlos Lange
Presidente do Seterb, autarquia responsável pela fiscalização do transporte coletivo em Blumenau. Assumiu o cargo em 28 de agosto deste ano.
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Carlos Lange
Gustavo
Mereles Ruiz Dias
Promotor de Moralidade Administrativa na 14ª Promotoria de Justiça de Blumenau. Assinou, em junho, notificação pedindo esclarecimentos da situação do transporte coletivo em Blumenau.
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Sérgio Chisté
Ex-presidente do Seterb, foi nomeado na última semana pela prefeitura de Blumenau interventor do Consórcio Siga.
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Gustavo
Mereles Ruiz Dias
Consórcio Siga
Composto pela Glória, Rodovel e Verde Vale, foi formado em 2007 após processo licitatório do transporte coletivo. O contrato é válido por 20 anos.
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Consórcio Siga
Sérgio Chisté
Jardel Fabrício
Rangel
Nomeado interventor da Glória pela prefeitura de Blumenau
no início da semana passada.
Acumula experiência em empresas de transporte de cargas e atuava como interventor dentro de unidades e franquias de empresas, enviado para resolver problemas administrativos.
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Jardel Fabrício
Rangel
Histórico conturbado
Desde que venceu a licitação para operar o serviço do transporte público de Blumenau,
o Consórcio Siga se vê em meio a greves de trabalhadores, reajustes polêmicos
de tarifas e uma difícil situação financeira da Glória, sua principal concessionária.
17/11/2015
Responsável por dois terços do transporte coletivo de Blumenau, a Nossa Senhora da Glória vive uma delicada crise financeira e administrativa que resultou numa sequência de paralisações de funcionários nos últimos meses e culminou na intervenção do poder público no negócio.
Nos bastidores, a companhia é alvo de uma disputa entre ex-sócios que foi parar na Justiça
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