Félix Zucco

Ronaldo Bernardi

Ronaldo Bernardi

Porto Alegre vive um fenômeno típico de países em guerra. As disputas entre facções criminosas motivam uma fuga em massa de estudantes de escolas localizadas em áreas conflagradas. Em outras regiões da Região Metropolitana, famílias são expulsas de suas casas por ordem de traficantes. Nem programas habitacionais como o Minha Casa Minha Vida ficam imunes: uma força-tarefa foi montada para reaver imóveis tomados pelo crime.

 

Ontem, o conflito contínuo travado na periferia motivou uma decisão sem precedentes no Rio Grande do Sul. A Secretaria Estadual da Educação (Sec) determinou a redução dos turnos de aulas para duas horas cada na Escola Erico Verissimo, na Vila Ipe 1, Bairro Jardim Carvalho, Zona Leste da Capital.

 

A medida foi adotada após intensos tiroteios e uma morte nas proximidades da instituição. Enquanto isso, os 551 alunos terão aulas das 9h45min às 11h45min e, à tarde, das 13h15min às 15h15min.

 

O quadro no Bairro Jardim Carvalho está longe de ser uma exceção. Ele vinha se desenhando desde a abertura do ano letivo. Já são quase 600 estudantes afetados diretamente por essa nova e violenta situação.

 

Na semana de volta às aulas, o Diário Gaúcho fez um levantamento em 28 escolas públicas nas três regiões conflagradas desde o começo do ano – Vila Jardim, Bom Jesus e Cruzeiro, além de bairros vizinhos – e constatou uma debandada de estudantes. Pelo menos 570 crianças e adolescentes deixaram suas escolas. Em torno de 200 migraram para outras. Cerca de 370 estudantes saíram do bairro, da cidade ou, pior, abandonaram a escola. O problema é admitido pela Secretaria da Educação.

 

– Percebemos o aumento de transferências e saídas das escolas e violência é, sem dúvida, um grande motivador para isso – reconhece Luciane Manfro, coordenadora da Comissão de Prevenção à Violência e Acidentes Escolares da Sec.

 

A Secretaria, porém, não sabe precisar quantos destes casos estão relacionados à guerra do tráfico.Essa realidade é tema da primeira reportagem da série Refugiados do Tráfico, que o Diário Gaúcho publica entre hoje e o final de semana.

 

Amanhã, serão contadas histórias de pessoas que tiveram de deixar suas moradias diante de ameaças de traficantes. No sábado, casos de famílias que, após conquistarem o sonho da casa própria, através de programas habitacionais, vivem o pesadelo de ter o imóvel tomado pelo crime.

Reportagem

Eduardo Torres

Renato Dornelles

Edição

Leticia Barbieri

Design e Desenvolvimento

Anna Fernandes

Brunno Lorenzoni

Arte

Alexandre Oliveira