Fernando Becker
Eliane Juraski Camillo
Helena Côrtes
Elizabeth Krahe
Priscila Cruz
Fernando Becker
Eliane Juraski Camillo
Helena Côrtes
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Priscila Cruz
Fernando Becker
Eliane Juraski Camillo
Helena Côrtes
Elizabeth Krahe
Priscila Cruz
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Elizabeth Krahe
Priscila Cruz
"O fundamento da proposta é muito interessante, outra coisa é a implantação. A prática escolar tem de ser modificada. A avaliação não pode ser uma repetição, pela enésima vez, de um processo de copia e cola. Velhas práticas só podem ser mudadas com formação de professores. Não adiantam cursinhos de 15, 30 horas. Um bom exemplo é instituir a supervisão pedagógica em sala de aula. Já vi experiências na Universidad Metropolitana de Ciencias de la Educación, em Santiago (Chile), onde um professor deu uma aula para sua turma de quinta série em um auditório lotado, com uma mesa em que avaliadores faziam a apreciação das aulas. Isso não é para exercer o esculacho, mas para a supervisão em exercício, para avaliar as aulas na prática."
"Para que o politécnico dê certo, é preciso a adesão e o comprometimento de todos os envolvidos. Ao contrário do que o secretário de Educação escreveu na obra Reestruturação do Ensino Médio, o êxito da Educação depende, sim, de investimentos massivos. O que constatei em uma pesquisa é que pouquíssimo investimento foi feito com a implantação do Politécnico. Ou seja, os alunos agora têm a pesquisa como princípio educativo, mas os laboratórios (informática, por exemplo) não receberam nenhuma melhoria, tampouco a biblioteca. Os recursos humanos continuam os mesmos, porém tendo que desempenhar bem mais funções."
"É sempre difícil implantar mudanças, especialmente as que envolvem a estrutura e o funcionamento da escola. Há que envolver professores e gestores no processo, buscando sua participação efetiva. A compreensão teórica tem que se articular à prática, implicando modificações em estratégias de ensino já cristalizadas pelo tempo e pela acomodação. Se não houve discussão e participação suficientes dos professores durante a implantação do Ensino Politécnico, fica muito difícil buscar a adesão. Essa é uma alteração de médio e longo prazo, que terá que ser permanentemente (re)construída no diálogo permanente entre os responsáveis pela política pública e os integrantes da comunidade escolar."
"A proposta do Ensino Politécnico é muito interessante, mas a implementação foi feita muito rápido, sem convencimento dos professores. Surgiu como uma obrigação, e os professores não estão formados para trabalhar de forma interdisciplinar. É preciso apostar na formação de professores. Os currículos das licenciaturas também precisam ser repensados. A maioria dos cursos não trabalha de forma interdisciplinar. É difícil convencer quem sai da faculdade a aderir à proposta, se durante quatro anos trabalharam de forma disciplinar."
"O Ensino Médio brasileiro tradicional é fadado a não dar certo, porque tem 13 disciplinas obrigatórias, com uma grade curricular inchada e monolítica. O Movimento Todos pela Educação defende um Ensino Médio flexível. Não deveria haver um único Ensino Médio para todos os alunos. Ele faria mais sentido se os alunos pudessem escolher certas áreas de maior interesse e pudessem se aprofundar mais naquilo. Se o aluno quer cursar programação, pode ter mais aulas de Matemática, Química e Física, por exemplo, e menos de História. E no Enem bastaria dar pesos diferentes para as áreas."
"A escola precisa ser desafiadora, ativa e participativa, funcionando como um laboratório, em que grupos de alunos definam projetos de pesquisa. O aluno não pode ir para a aula só para ouvir e repetir. Precisa ser desafiado a pensar. O professor comum não é um artista para ficar falando para um auditório. A escola deve ser mais um laboratório e menos um auditório. O aluno deve ser desafiado por ações, trabalhar em assuntos de seu interesse, para ir atrás das respostas."
"Apenas melhorar os índices, baixando o nível de exigência e automaticamente a qualidade da educação, indubitavelmente não é a melhor solução. Afrouxar a exigência com uma avaliação que permite aprovação em massa não é o melhor caminho. O que é necessário é o inverso: melhorar a educação, aumentar os investimentos, melhorar a estrutura para então, como consequência, termos uma melhora de fato nos índices, não apenas quantitativamente, mas qualitativamente."
"A evasão e a repetência são recorrentes, num país como o nosso, que historicamente vem permitindo que a educação escolar seja desprivilegiada, em termos de investimento e acompanhamento efetivos e eficientes. É preciso atualização e comprometimento dos principais envolvidos na tarefa educativa, senão fica muito difícil manter a atenção de uma geração completamente voltada para o apelo da superficialidade, da impunidade e da velocidade com que se dão as relações interpessoais e as demandas sociais."
"A proposta do Ensino Médio Politécnico tem pontos muito interessantes para se aproximar dos interesses dos alunos, coisas que o Colégio Aplicação da UFRGS já faz há muito tempo. O problema é que os professores não estão preparados para trabalhar com isso. É preciso reunir, sentar junto, compartilhar informações. Não se muda isso de uma hora para outra. É preciso acompanhamento do aluno. Não se recupera um ano em uma semana."
"Um dos principais motivos para a evasão de meninas é a gravidez precoce, e para os meninos, a violência. E muitas vezes seguem por esse caminho em busca de uma identidade. A escola hoje não faz sentido para os alunos. Uma boa iniciativa são as escolas em turno integral criadas pelo Instituto de Corresponsabilidade pela Educação, que apoiam o aluno para desenvolver seu projeto de vida desde o primeiro ano do Ensino Médio."
"As pessoas pensam que a apatia dos alunos se resolve introduzindo a tecnologia, mas isso é incompreensão. A tecnologia não é o fim, é o meio. O professor tem que tocar afetivamente os alunos. É importante que o professor valorize a contribuição dos alunos e saiba dar uma resposta boa, mesmo quando a pergunta for ruim. Fiz uma pesquisa perguntando a alunos como ensinava o melhor professor que já tiveram. Um dos entrevistados lembrou de uma professora que ficava atenta enquanto eles faziam exercícios, e se alguém levantava a cabeça ela já ia lá tirar a dúvida. A gente fica imaginando muita inovação tecnológica, mas às vezes a coisa se dá no quintal, de forma mais simples."
"O primeiro passo é ouvi-los e levar em conta os seus interesses, o que realmente querem para si e suas vidas. Em relação ao Ensino Médio Politécnico, ao contrário do que se apregoa em seu aporte teórico, o processo de implantação não foi tão democrático assim. Uma escola que pesquisei no município de Alpestre, por exemplo, não foi consultada, tomando parte no processo apenas tardiamente, quando tudo estava formatado. E os docentes me garantiram que em vários municípios aconteceu o mesmo. Dessa forma, os alunos não serão simpáticos ao Politécnico se não se sentem parte integrante dele."
"Se os alunos são apáticos e os professores, desmotivados, há explicação para isto. A escola está longe da realidade vivida por todos: opera de modo analógico, quando a vida é digital, e não articula conteúdos de ensino com a vida cotidiana, para fazê-los ter significado. A família também precisa acompanhar seu desempenho e cobrar - deles e da escola - os avanços pretendidos, responsabilizando-se por isso e por eventuais falhas. Esta é também uma época em que ninguém mais se considera responsável pelo que faz, há sempre uma razão externa que 'justifica' a falta de empenho e de responsabilidade, na busca das finalidades educacionais."
"A apatia é o reflexo da escola que não faz sentido. No momento em que a escola começar a fazer sentido com a vida, isso muda. Qualquer programa de computador é pura matemática. O nosso dia a dia é ciência pura, mas isso não é trabalhado. Tudo está interligado, e isso exige uma nova postura. O aluno é muito crítico com o que não serve. Ele vai embora se a escola não faz sentido porque ganha mais dinheiro trabalhando."
"Uma pesquisa da Fundação Victor Civita mostra que a escola hoje não faz o menor sentido para o jovem, não faz parte das conversas. É muito difícil fazer com que o jovem fale de forma espontânea sobre a escola. Antes ela tinha uma função de convivência social, mas hoje o Facebook cumpre esse papel. A escola ficou parada no mesmo modelo do início do século 20, precisa se reinventar e voltar a fazer sentido para os alunos."
"É preciso investir pesado na formação de professores. De modo geral, o professor no Brasil não é bem formado, os estágios nas licenciaturas são muito 'faz de conta'. E o aluno vai notar isso. Quando o professor sabe o que faz, tem segurança, recebe o apreço do aluno. Com salário ruim, a situação piora. O professor pensa: por que vou melhorar pra ganhar isso? Não é por acaso que apenas 2% dos jovens pensam em ser professores no Brasil. O arrocho salarial provoca uma animosidade histórica."
"Nem todos os professores são relapsos ou querem boicotar a proposta, como diz o secretário da Educação. Onde pesquisei, embora com parcos recursos, os docentes não têm medido esforços para que as coisas deem certo. O que acho que é preciso acontecer, e com extrema urgência, é a valorização, com melhorias salariais e melhores condições ao ócio. Com professores valorizados, bem remunerados e com ócio (não saturados de aulas e tendo que trabalhar em duas, três ou até quatro escolas para ter um salário um pouco melhor), certamente os professores ficarão mais satisfeitos com a sua profissão e terão mais tempo para dar continuidade aos seus estudos."
"É preciso que nós, professores, superemos as reclamações consagradas - falta de tempo, baixo salário, falta de reconhecimento e prestígio social, que, indiscutivelmente, são justas, para acreditar no poder de mudança da educação. Mas vale lembrar que esse poder se assenta sobre o esforço de cada um. É preciso se atualizar, estudar, preparar materiais, trabalhar com os colegas, receber apoio moral e infraestrutural dos responsáveis pela gestão escolar."
"É só olhar o contracheque dos professores. Existe um componente de paixão pelo trabalho, a maioria brilha o olho. Os professores recebem muito pouco, mas não adianta só melhorar salário. É preciso melhorar a estrutura, pensar em programas de formação continuada. Estamos vivendo uma época em que a velha escola está moribunda e a nova tá nascendo, mas ainda não caminhando com as próprias pernas."
"São três fatores principais para a desmotivação: o primeiro é a carreira, que não motiva os professores. A meritocracia bem aplicada pode ser uma forma de valorização de um bom trabalho, para incentivar as boas práticas. Outro fator é a gestão - muitas vezes a gestão da escola é ruim. E o outro é a valorização social do professor, que não existe. O bombeiro ganha menos, mas é mais valorizado socialmente. É preciso reverter isso. E, apesar disso tudo, o professor também tem que ter automotivação, porque tem dezenas de crianças que dependem dele."
"É preciso criar formas de utilização da tecnologia na sala de aula, com regras claras. Se o professor fica reticente, o aluno vai exorbitar. A tecnologia tem recursos fantásticos para serem aproveitados, mas isso exige formação. É preciso estar muito bem preparado para utilizar esses softwares, tem que ter domínio do que se apresenta. Não adianta só ter equipamentos bons na escola, se não tem gente que saiba utilizar isso em sala de aula."
"Essa questão polêmica sempre permeou as relações entre os mais jovens e os mais velhos. Ora se valoriza a experiência (dos mais velhos), ora se valoriza o novo (dos mais jovens). O uso das tecnologias nem sempre é sinônimo de todo o bem, como se pensa. É válido, sim, aproveitar o potencial das tecnologias na educação, desde que isso contribua e seja fruto de algo bem entrelaçado, bem pensado e planejado, e não apenas usá-las porque estão em voga. E isso recai em professores preparados para tal e alunos conscientes de que apenas os aparatos tecnológicos, por si só, não farão milagres."
"O que temos é uma profunda crise de valores, muito mais ampla do que as diferenças entre dominar ou não um aparato tecnológico, entre ter ou não motivos para ensinar e aprender. As diferenças podem ser até positivas, se houver colaboração, cooperação na realização de tarefas escolares, se houver divisão de responsabilidades individuais e grupais, se houver estímulos para que possamos entender que, como disse Morin, 'o antagônico pode ser complementar'. O gap entre os 'modus operandi' de professores e alunos não precisa encaminhar conflito. Ao contrário, pode ser fonte de uma produtiva troca de saberes, em busca do conhecimento escolar e da ampliação dos horizontes de vida."
"Professores de baixa renda não têm acesso à internet de banda larga rápida, a tablets. O governo até deu tablets para um grupo restrito de professores, mas aí a escola não tem banda larga, não adianta muito. É preciso formação continuada de professores, que já está havendo, mas ainda é muito incipiente."
"Os professores não são analógicos, já usam a tecnologia em suas vidas. O que falta é aprender a usar o mundo digital na pedagogia. A tecnologia pode tornar a escola mais atraente, mas não é só isso. Hoje não funciona mais aquele modelo de ficar ouvindo o professor. As informações já estão disponíveis na rede, a escola precisa ensinar a habilidade analítica, de interpretar e processar essas informações. E a formação dos professores não ajuda nisso, é muito inadequada."