contrastes da arte

e da indústria

ROLE A PÁGINA

A

rotina da família Valles reflete as vocações de Joinville. Gabriel, de 13 anos, e o pai Gilmar, 32, acordam quando ainda é noite, entre 5h e 6h, tomam café às pressas e logo saem para se dedicar àquilo que amam: o filho pega um ônibus para os treinos de balé Escola do Teatro Bolshoi no Brasil, enquanto o pai, eletricista, já de uniforme sobe na moto e se desloca até a Tupy, maior empresa de fundição da América Latina. As duas áreas opostas são a principal marca da cidade mais populosa de Santa Catarina, conhecida como a capital da dança e da indústria.

Há dois anos, Gabriel sonhava em ser médico, até o coração pulsar mais forte quando uma professora perguntou em sala de aula quem gostaria de fazer seleção para ser bailarino no Bolshoi. Após algumas seletivas, foi aprovado e desde então tem uma rotina puxada como a do pai, mas com treinos e ensaios que são conciliados com as atividades escolares.

Em busca do movimento perfeito exigido no balé, Gabriel se inspira na dedicação do pai à empresa, que considera “seu tudo”, há 12 anos. O menino sonha se tornar bailarino profissional, enquanto Gilmar diz que não trocaria o chão de fábrica e a linha de produção por nada. Apesar do mundo das artes ainda ser algo novo em seu dia a dia, o eletricista diz admirar o trabalho do filho.

– Eu não tinha essa parte cultural em mim, de dança e balé, mas está despertando na gente também, graças a ele. Os melhores amigos dele (Gabriel) estão no Bolshoi, eles são uma família. A gente vê que isso é bom pra ele porque são jovens que estão buscando algo positivo para o futuro – diz Gilmar.

Dança dá mais leveza ao
cenário repleto de máquinas

Joinville ficou conhecida informalmente como Capital da Dança pela tradição do grande festival que ocorre há 34 anos na cidade e por ser sede da primeira escola do Teatro Bolshoi fora da Rússia. Mas o reconhecimento oficial veio neste ano, quando o evento reuniu 7,8 mil participantes de todo o Brasil e um público de 230 mil pessoas ao longo de 11 dias. A dimensão do festival o levou ao Guiness Book em 2005, como maior festival de dança em número de participantes do mundo.

O presidente do Instituto Festival de Dança, Ely Diniz, diz que a cidade tem muito potencial de crescimento nesta área a ser explorado. Já que hoje as principais atrações e espetáculos se concentram apenas nos dias do evento.

Aos poucos, o balé absorve o espaço até então ocupado somente por indústrias. Para o presidente da Associação Empresarial de Joinville (Acij), Moacir Thomazi, a cidade ficou conhecida como Capital da Indústria porque concentra um dos maiores parque s industriais do Brasil.

– Isso começou em uma época em que as grandes empresas estavam aqui: Fundição Tupy, Tigre, Cônsul, Embraco. As indústrias daqui eram e ainda são líderes no seu segmento no Brasil – diz.

O secretário da Integração e Desenvolvimento Econômico da cidade, Danilo Conti, diz que a mudança já percebida em diferentes gerações, como a de Gilmar e Gabriel, reflete um pouco as mudanças no cenário econômico da cidade.

– A leveza da dança começa a invadir o desenvolvimento econômico da cidade. Não que ela queira, mas 40% da arrecadação do município hoje estão voltados às indústrias de autopeças e é sabido que em 20 anos o automóvel muda para sempre. Muito provavelmente vai ser de energia renovável, de uso e transporte de carga compartilhado. Nossa indústria vai precisar se reinventar nessas próximas duas décadas e o que a gente quer é desenvolver um eixo econômico que dê condições para que a indústria possa se reinventar dentro da cidade – diz.

Para isso, ele destaca que a cidade irá precisar de uma economia mais criativa e o desenvolvimento da dança contribui para este objetivo.

QUEM FEZ

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