Hemerson dos Santos. Aos 14 anos, teve parte do braço mutilada em uma máquina de triturar madeira
emerson dos Santos, 14 anos, sempre gostou de usar tênis novos. Mas a família é pobre e nem sempre pôde atender aos desejos de consumo do menino. Esse foi um dos motivos que o levou a querer trabalhar. Até agosto do ano passado, estudava pela manhã e passava as tardes em uma empresa madeireira perto de casa, interior de Rio dos Cedros, no Vale do Itajaí. Estava próximo de completar quatro meses na firma. Na tarde do dia 21, viu a mão esquerda ir embora, estraçalhada pela máquina onde é feito o picote das sobras das madeiras que vão virar serragem.
De acordo com o boletim de ocorrência registrado na Delegacia de Polícia da cidade, o menino trabalhava como auxiliar-geral carregando madeira, mas no fim do dia tinha a tarefa de limpar as máquinas. O adolescente retirava o excesso de poeira da picadora, mesmo estando ligada e com a esteira em funcionamento. Ele usava uma luva que trancou no equipamento. Como os dedos foram triturados, não houve condições de tentar reimplantar a mão.
– Eu ganhava R$ 5 por hora – diz Hemerson.
O menino não era o único menor de idade que o Cerest da região de Blumenau encontrou no local. Dois adolescentes de 15 e 16 anos também estavam na serraria no momento do acidente. Foram levantadas outras irregularidades, como a máquina não possuir guarda-corpo e o sistema de acionamento e de emergência estar em desacordo com as normas exigidas. A empresa já pagou parte da indenização a favor do menino, hoje com 15 anos. Mas há coisas que o dinheiro não traz de volta:
– Eu sinto falta da mão para amarrar os tênis.
Os médicos decidiram aguardar por nova cirurgia antes de tentar uma prótese. Como Hemerson encontra-se em fase de crescimento, consideraram melhor esperar para ver como o osso vai reagir. Apesar de ter faltado às aulas, o menino passou de ano. Depois de ficar um tempo com a mãe, que vive em outra cidade, quis voltar para morar perto do pai e do avô que vivem em uma localidade do interior. Na casa do avô, gosta de andar a cavalo. Mantém o sonho de fazer medicina veterinária.
eu sinto falta da mão para amarrar os tênis
hemerson dos santos
15 anos